Coração de Jesus, abismo de misericórdia

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Padre Edmilson Dias. Foto: Arquivo Canção Nova

Deus nos provoca a confiarmos n’Ele, pois o Senhor é abismo de misericórdia

Irmãos, o Senhor permite que nos aproximemos de Seu coração e façamos a experiência com Seu amor misericordioso. Deus tem um projeto de felicidade para nós, e a nossa esperança em alcançar essa felicidade consiste em nos unirmos a Ele, aproximarmo-nos de Seu coração e descobrirmos que somos filhos escolhidos e amados.

Papa João Paulo II gostava de dizer que só Jesus de Nazaré é capaz de satisfazer as aspirações mais profundas do nosso coração. Temos sede de Deus, sede de um infinito que ninguém é capaz de saciar. E é o Senhor mesmo quem coloca, no coração humano, esse desejo de eternidade, para que não busquemos nada mais além d’Ele.

Nosso céu pode começar aqui na Terra à medida que nos aproximarmos do abismo de misericórdia do Senhor. Corremos o risco de imaginar que o coração de Jesus está aberto somente para os santos, para Maria, para os bispos… Mas não é assim! A Boa Nova é que o coração de Jesus está aberto para todos nós que somos pecadores e nos deparamos com nosso abismo de miséria.

O abismo, que não é o do coração de Jesus, causa medo em nós. Morremos continuamente quando paramos diante do abismo que é a nossa miséria, quando paramos diante das situações que acontecem em nossa casa e não vemos a graça de Deus acontecer em nós. Esse abismo de misericórdia corresponde à necessidade do nosso coração miserável e pequeno, do nosso coração estraçalhado. Talvez, o motivo pelo qual nosso coração esteja estraçalhado seja o perdão que ainda não conseguimos dar. Perdoar é contemplar a miséria do outro, mas não parar nela.

Deus nos convida a olharmos para o coração d’Ele. Misericórdia não é dó, mas compaixão. Quando o Senhor nos fala de amor misericordioso, refere-se a um amor que está entranhado n’Ele, como o amor de uma mãe por seu filho. É o amor de um Pai que não se esquece de nós e continua ao nosso lado para nos elevar, para nos dizer continuamente que somos Seus filhos.

Que maravilha é ser filho de Deus e assumir-se alcançado por essa misericórdia! O amor d’Ele nos levanta quando já não há esperança em nós.

Em Hebreus 1, 1-4 lemos: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus, tão superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou.”

O Senhor suscita homens para serem expressão de Sua misericórdia, Ele suscita homens corajosos para serem Sua voz. Homens fracos, pecadores, mas com a coragem de confiar o seu abismo de miséria ao abismo da misericórdia de um Deus que permanece fiel mesmo diante da infidelidade de Seu povo.

Sabemos, pela Tradição da Igreja, que Jesus trabalhou. Portanto, Ele conhece os dramas que vivemos no trabalho, conhece o drama do desemprego e do desespero. Jesus aproxima-se daquele que sofre, que já não tem esperança. Deus nos fala, por meio de Seu Filho, que conhece a nossa dor.

Jesus curou os que estavam doentes. Ele é assim, adianta-se em nossa direção, porque nos quer livres, não escravizados pelo pecado. O Senhor sente compaixão por nós, sofre conosco.

É possível curar a enfermidade física por meio de um tratamento e de medicamentos. Mas e a dor do coração? A receita para isso é o abismo de misericórdia do Pai. Há um lugar onde podemos saciar a fome, a sede de nosso coração: em Jesus Cristo. Quando Deus nos olha, não vê nossa lista de pecados, mas nosso coração.

“Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não têm pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Marcos 6, 34). Jesus via as pessoas como ovelhas sem pastor. O abismo de misericórdia nos revela que não precisamos ficar andando sem rumo, pois há um Pastor que quer cuidar das feridas do nosso coração. Jesus pode e quer cuidar de nós!

Cristo chorou pela morte de Lázaro, Ele chora por causa da nossa dor. Jesus conhece a nossa história. Ele não é Deus de sofrimento, mas assumiu a condição humana e sofreu para nos dizer que há um abismo de misericórdia para todos nós, e todos nós cabemos no coração de Jesus.

“Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.” (Lucas 23, 39-43).

Jesus foi ao extremo do amor. Na cruz, Ele acolheu a todos. Havia dois crucificados, um à direita e outro à esquerda. Jesus foi capaz de perdoar aquele que pediu para ser lembrado por Ele. Cristo não se cansa de ser generoso, não se cansa de perdoar. Ele sempre espera por nosso ‘sim’. Digamos ‘sim’ ao projeto de amor de Deus, ao abismo de misericórdia de Seu coração.

Em Romanos 8,15-17 lemos: “Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados.”

O Espírito nos leva a clamar “Aba! Pai!”. O Espírito Santo nos revela que somos filhos de um Pai que nos ama muito, e por essa razão, trata-nos como filhos queridos e quer nos levar a chamá-Lo de Pai.

Se Deus nos chama de filho, é tempo de reconhecermos que temos um Pai.

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