O mistério da encarnação do Verbo

Padre Fabrício Andrade. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Padre Fabrício Andrade. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Estamos, nestes últimos dias, celebrando a Oitava do Natal, que é nada menos do que a encarnação do Verbo entre nós. Hoje, é o sétimo dia, a sétima vez que, dentro da Oitava do Natal, celebramos esse mesmo mistério.

A Igreja vem fazendo uma reflexão sobre o Natal para nos ajudar a entender o que Deus quis fazer com a encarnação do Verbo.

Quero começar falando do Evangelho de São João. Todos, algum dia na vida, já brincaram com estilingue? Todo mundo sabe como ele funciona? É esse mesmo processo que os Evangelhos vão fazer conosco, mandar as Palavras de Deus para bem perto de nós.

O evangelista São Lucas puxa bem a liga do estilingue e começa falando da anunciação do anjo a Zacarias. Já São Marcos fala de uma citação do profeta Isaías, no Antigo Testamento, fala também de João Batista e do batismo de Jesus. São Mateus usa o texto da genealogia de Cristo.

O evangelista São João é diferente, pois pega a liga do estilingue e joga mais para trás. Nos cinco primeiros versículos do Evangelho de hoje, só há São João; é a dinâmica do estilingue: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio, estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la” (João 1, 1-5).

São João estica essa liga para trás quando usa a palavra “no princípio”, que quer dizer “a origem”. Vamos imaginar uma liga do estilingue que é puxada lá para trás, e quem o está segurando é o Pai. Ele puxa e lança Seu Filho na história da humanidade. São João faz uma espécie de retrospectiva dessa história, ele quer lançar sobre nós a profundidade da encarnação do Verbo.

Peregrinos participam do Acampamento de Ano Novo na Canção Nova. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Peregrinos participam do Acampamento de Ano Novo na Canção Nova. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Entendido isso, vamos ver que São João não joga fora aquilo que os outros evangelistas falam, mas acrescenta: “Essa luz não brilhou de uma hora para outra, foi enviada pelo Pai para nós, mas muitos não a acolheram. Esse arremesso de Deus, do Seu Filho, o mundo não acolheu (os romanos, os gregos, os judeus)”.

Os versículos 12 e 13 do Evangelho de hoje fala de nós: “Mas, a todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornar filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, pois estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo”.

Nós, que acolhemos esse arremesso do Pai, recebemos a oportunidade de nos tornar Seus filhos. São João foi esperto, foi além, diferente de hoje, quando vamos às livrarias e vemos livros que falam sempre sobre as mesmas coisas. São João é atrevido, quer escrever, quer puxar mais para trás, para ver se entra em nossa cabeça e em nosso coração que a Palavra se fez Carne e habitou entre nós! São João escrevia em meio a um mundo que não acreditava no Senhor.

Hoje, entendemos que o Verbo se fez homem e resgatou a todos nós, mas, naquela época, São João era considerado um louco. A expressão: “o Verbo se fez carne” causou uma confusão na cabeça do povo.

Os gregos acreditavam que existiam dois mundos, o de cima e o de baixo. Deus estava no mundo de cima, onde nunca se misturaria com este mundo de baixo, o humano, o mundo marcado pela carne suja. Então, São João misturou os mundos divino e humano, e isso causou muita confusão, porque os gregos entendiam que tudo era mau e sujo; mas surge São João trazendo a diferença.

No momento em que o Verbo se faz carne, foi dado a nós a oportunidade de sermos filhos de Deus. A Primeira Leitura de hoje vai dizer que, naquela época, o povo não entendeu a Palavra como nós a entendemos. Se não deixarmos essa realidade ser fecundada em nossa cabeça, correremos o risco de estarmos contaminados pelo “anticristo”.

Quando não deixamos que Cristo mude nossa casa, nossa vida, estamos fazendo d’Ele um inquilino, cobrando aluguel e não deixando que Ele faça a mudança.

A pergunta que eu tenho é essa: Se Deus habita em você, Ele tem deixado a sua casa com a cara d’Ele? Quando Ele se faz carne e vem habitar entre nós, isso tem força, pois o dono deixa a casa do jeito que quer!

Deixe a luz do céu entrar!  A luz de Jesus precisa entrar em seu coração!

Que a virada do ano de 2014 para o ano de 2015 seja a mudança da vida velha para a vida nova!

Transcrição e adaptação: Karina Aparecida

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