Amou-os até o extremo

Padre Anderson Marçal

“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou” (Jo 13, 1)

Você se sente como uma pertença de Jesus? Os “seus”, de que fala o Evangelho, são todos aqueles que Ele salvou com Sua Morte redentora, ou seja, toda a humanidade. Eu gostaria de apelar para a sua consciência a fim de saber se você se reconhece amado por Jesus. O Senhor não amou você apenas no momento da sua concepção, mas desde sempre, desde toda a eternidade Ele já o amava.

Este dia, Sexta-feira Santa, em muitos lugares já perdeu o sentido. Neste fim de semana vamos ter um “feriadão” prolongado, muitos vão para o sítio, para a praia, etc; mas este dia traz algo sério para nós. A primeira coisa que temos, nesse dia dramático, é que nos é revelado o amor supremo de Deus. A primeira coisa que a cruz revela é o mistério do amor de Deus por nós.

Se nós escancarássemos o coração para receber este amor, não haveria nunca mais a depressão, a desesperança e a tristeza entre nós; porque, por mais que as pessoas não nos amem, sabemos que temos um Deus que nos amou e nos ama. E quantas pessoas ainda buscam nas pessoas um amor que só Deus pode lhes dar!

São feitas tantas revoluções, tantas manifestações e, no fundo, as pessoas não queriam apenas justiça, as pessoas queriam ser amadas e respeitadas! Toda manifestação nasce da ausência de amor. Existem manifestações que são legais, mas também há aquelas manifestações ilegais, como a da legalização da droga, da bebida, da prostituição, do usar o outro, da corrupção, da ganância, das politicagens. Tudo isso se resume a uma coisa: falta de amor.

A verdadeira prova de amor está na cruz, não é aquela que geralmente o namorado pede à namorada. Se alguém um dia lhe pedir uma prova de amor, diga: “Eu não preciso provar meu amor porque uma Pessoa já o mostrou, ao morrer na cruz, o que é o amor para mim!”.

O mistério deste dia, que nos abre a este amor supremo, nos mostra como estamos carentes do verdadeiro amor que brota da cruz. Para você que tem rezado, e rezado muito, e parece que Deus não tem ouvido as suas orações, eu digo: aqui, na cruz, Jesus está lhe pedindo perdão por Ele não lhe dar o que você quer, porque Ele precisa lhe dar tudo o que você precisa. Por essa razão Ele não precisa lhe dar mais nada.

Faça um exame de consciência para ver se você não tem culpado a Deus por Ele não ter lhe dado aquela coisa, não ter lhe dado aquela pesssoa ou por ter tirado uma pessoa querida de você. Olhe para cruz e contemple o pedido de perdão de Deus a você, porque da mesma forma que Ele ama – e quem ama perdoa – Jesus olha, de cima da cruz para você, e lhe diz: “Me perdoe, mas olhe tudo o que Eu fiz por você”. E o tudo de Deus para você é a porta do céu aberta!  Jesus, na cruz, abriu as portas do céu para nós e nos deu tudo o que precisávamos. Ele foi além do que, de fato, merecíamos.

O segundo mistério deste dia é que este amor verdadeiro é, antes de tudo, uma oferta de Deus, da vida de Deus para nós. Somente quem ama consegue ofertar algo. Quem não ama não consegue se despojar e, por isso, não consegue se doar. Muitas vezes, os nossos apegos – a pessoas e a coisas – é justamente porque não recebemos amor e colocamos nossa segurança nas coisas, não conseguimos mais amar e sentir o amor de Deus.

A primeira conversão é a da renúncia. Renunciamos à vida velha, aos vícios e a outras coisas no nosso encontro pessoal com Jesus. A segunda conversão é a da oferta, porque eu já pertenço a Deus e, então, me oferto e oferto tudo, como Jesus o fez com Sua vida.

O que é que você tem pedido a Ele? Do que é que você tem se lamentado de ter perdido e que, no fundo, é reflexo da falta de amor, que você está à procura e ao qual não consegue renunciar? Tenha coragem de, nesta Sexta-feira Santa, entregar nas mãos de Deus aquilo que não o tem deixado livre. Deixe pregado na cruz aquilo que o tem escravizado neste mundo. O verdadeiro amor sabe ofertar tudo.

O terceiro mistério deste dia é o escândalo de amor. O amor de Jesus na cruz é um amor que nos incomoda e nos tira do comodismo. Não entender este escândalo de amor – que chega a ser incompreensível aos olhos humanos – é ficar culpando os outros e a nós mesmos pelos acontecimentos incompreensíveis em nossas vidas. Deus não procurou razões para nos amar, Ele simplesmente nos amou.

Quem matou Jesus? Quem foi culpado da Morte de Jesus? Não existe culpa quando a morte é seguida de uma oferta. Aos olhos humanos a Morte de Jesus foi uma tragédia, mas eu digo: bendita tragédia de amor que me trouxe a libertação! Como diz Santo Agostinho: “Bendito pecado de Adão que me trouxe tão grande Salvador”.

Se Adão pecou contra Deus comendo do fruto proibido, Deus se vingou do homem morrendo numa cruz.

Transcrição e adaptação: Daniel Machado

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