Castidade é um sim ao amor

Padre Paulo Ricardo

“Quem quer amar precisa dizer sim à castidade”, disse padre Paulo Ricardo

Padre Paulo Ricardo

Padre Paulo Ricardo prega no #RVJ2016. Foto: Daniel Mafra/Cancaonova.com

É uma grande alegria estar com você para falarmos sobre a castidade como um sim ao amor. Você quer amar de verdade? Então, precisa dizer sim à castidade.

Papa João Paulo II, quando era bispo Carol Wojtyla, publicou um livro chamado “Amor e Responsabilidade”. Lançado no Brasil, na década 80, pelas Edições Loyola, é um livro um pouco difícil de entender, porque fala sobre a filosofia da sexualidade. Nesta obra, Wojtyla explicou aos seus alunos universitários uma analise filosófica sobre o amor e como ele se manifesta na sexualidade humana.

No terceiro capítulo do livro está esta reflexão que vou colocar aqui para vocês. Quem quiser se aprofundar na leitura, pode procurar esse livro depois; ele está disponível para download no meu site. O que vou falar, portanto, está “mastigado”, são pérolas preciosas para você degustar aquilo que São João Paulo II nos ensina.

O que é a castidade?

Quando você fala para uma pessoa sobre castidade, a primeira coisa que a pessoa pensa não é no “sim”, mas no “não” (e um “não” bem comprido: não pode se masturbar, não pode ver pornografia, não pode fazer sexo antes do casamento, não pode ficar se amassando e se esfregando um no outro… Não! Não! Não! Esses “nãos”, na cabeça das pessoas, é a castidade.

João Paulo II, no entanto, mostra-nos que é exatamente o contrário: a castidade é um grande “sim” ao amor. Onde o entendimento básico é: o amor é dar a si mesmo. Se você vai amar uma pessoa, você não vai amá-la dando dinheiro ou presentes, pois isso não é necessariamente amor – pode até ser uma pequena expressão de amor, mas amar é dar a si mesmo.

João Paulo II sabe disso, e como grande estudioso de São João da Cruz, sabe que amar é dar tudo de si ao outro. Somente podemos dar aquilo que possuímos, de que somos donos e dominamos. Se você não é dono de si mesmo, você não pode se dar ao outro. Se você é um escravo, você não pode se doar. Um escravo é tratado como coisa, um animal encoleirado, que não é gente, mas propriedade de alguém que faz aquilo que quiser com ele. Quando você vive o pecado da luxúria, da masturbação, da pornografia, e não está vivendo a castidade, torna-se escravo; e como tal, não pode se doar, não pode amar. Você precisa, primeiro, ser dono de si para depois doar-se, para amar.

Como viver a castidade?

Quem é escravo da droga, do álcool e do sexo precisa antes ser liberto, para depois doar-se a uma outra pessoa por amor. Por isso, a castidade é um grande ‘sim’ ao amor. Ser casto é quebrar as amarras, os grilhões e as correntes que nos impedem de sermos donos do nosso próprio destino, para que possamos então nos doar plenamente às pessoas que amamos. A castidade gera homens e mulheres livres. Isso é castidade, e essa é a ideia que propomos a você: homens e mulheres livres para amar.

Talvez sua pergunta agora seja: “Padre, como é que eu faço para me livrar dessas correntes? Tudo o que o senhor falou é muito bonito, mas como eu faço para viver isso na prática? Estou escravo da masturbação desde os 10 anos, como me libertar desse vício?”

Em primeiro lugar, precisamos entender quem somos e como funcionamos como pessoa. Se você entende com funciona, você é capaz de dirigir. Assim, vou explicar alguns mecanismos.

Existem em nós algumas coisas que funcionam como nos animais: a primeira é o desejo, e isso os animais também têm. Um animal deseja comida; se você mostrar para seu cachorrinho uma bacia de comida suculenta, ele vai começar a babar e desejar aquilo. Se você mostrar para um macho uma fêmea no cio, ele vai começar a desejá-la; e nós seres humanos também somos assim. Isso noa mostra que o desejo do prazer físico é uma coisa que temos em comum com os animais.

Há, porém, um problema: nenhum animal é capaz de fazer as coisas que os seres humanos fazem. Exemplo: se você mostrar para um macho uma fêmea que está no cio, ele, após o ato sexual de cobrir a fêmea, estará absolutamente satisfeito. O ser humano ainda assim estará insatisfeito. Ele é capaz de chegar ao orgasmo sexual e querer repetir o ato num intervalo de 15 minutos. O corpo pode estar doendo, estar provocando sofrimento, mas ele continua querendo saciar esse desejo.

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“Comece a amar e ser transparente”, aconselha padre Paulo Ricardo aos jovens. Foto: Daneil Mafra/Cancaonova.com

Já ouvi em confissão o caso de um rapaz que se masturbou doze vezes em um único dia. Gente, isso é um absurdo! E não venham me dizer que era uma necessidade do seu corpo, pois ele mesmo disse que chega uma hora em que o corpo não quer mais, chegando a dar repulsa disso. O corpo está doendo a ponto de se machucar, mas ele quer. Tem algo errado! Não adianta dizer que é natural, pois quem vive uma vida sexual desequilibrada, feito uma animal, vive insatisfeito.

O ser humano tem uma coisa que os animais não têm, e isso chama-se “alma”. A alma torna o ser humano “insatisfeito”, fazendo com que seu corpo deseje uma felicidade infinita.

Uma vaca, por exemplo, se você der um pasto, um salzinho, um bezerro e um boi, ela estará satisfeita e realizada na sua vida bovina.

Nós seres humanos temos um “acelerador” que os animais não têm, e isso nos torna insatisfeitos, em busca da satisfação, do “Infinito” que é Deus.

Olhe para dentro de você e constate que há uma insatisfação, um pé no acelerador que o faz desejar algo cada vez mais, e isso pode levá-lo ao exagero de várias naturezas, seja no sexo, na bebida, no consumo etc.

Um carro possui a engenharia adequada à sua estrutura, onde a capacidade de frenagem é compatível com sua capacidade da aceleração. Para um motor potente, usa-se um freio potente. Nos demais animais, o “freio” para equilibrar seus desejos está no seu corpo biológico; nos seres humanos, o “desejo” (aceleração) está na alma; e o “freio”, portanto, também na alma, e isso chama-se “vontade”.

O animal pode ser contrariado por algo, mas não pode contrariar a si mesmo por amor. É uma capacidade que somente os seres humanos têm. Quando se fala em força de vontade, trata-se de uma capacidade de inclinar a sua vida numa direção contrária às vontade do seu corpo. Quando se faz isso, é claro que pode surgir algum “recalque”, mas também pode surgir algo chamado “amor”. Um animal não pode dizer: “Meu bem, estou com fome, mas você está precisando mais do que eu. Por amor a você, eu não vou comer”. Pronto, ele se contrariou por amor. Você já viu algum animal fazer isso? Não pode fazer, pois não tem alma e não pode amar.

Ame de verdade

Somos capazes de amar, porque temos alma. Não se trata de recalque ou moralismo, onde tudo é pecado e pode inclusive gerar neuroses. Eu nunca vi ninguém buscar um psicólogo ou psiquiatra, porque amou de verdade. Amar de verdade é a capacidade de renunciar por causa do outro. Você pode até ficar chateado, porque o outro não o amou, mas dificilmente ficará triste porque você o amou. Nós somos capazes de nos contrariar, e nisso consiste o amor.

Agora, quero fazer uma dinâmica: pense em uma pessoa que você tem certeza que o amou. Pensou? Certamente, essa pessoa também sofreu por você. Não precisa ter poderes paranormais ou telepatia para descobrir isso. Você não pensa numa pessoa que lhe deu momentos de prazer, mas numa pessoa que sofreu por você. Essa é a experiência humana do amor. Não queira se rebaixar aos animais. Para eles, basta uma bacia de comida, porém, para o ser humano a força maior chama-se amor.

Quem deixa os impulsos sexuais sem rédeas pode machucar as pessoas que o amam.

Padre Pio vivia a castidade não porque ele era um “doente”, mas porque amava. Por isso, doou suas energias, no celibato, por amor ao próximo.

Muitas pessoas pensam que o celibato é a consequência de uma doença, de uma impotência. Não! Ser casto não é ser castrado; ser casto é ter tanto amor, tanta doação, tanta entrega, tanta energia espiritual dedicada ao bem da outra pessoa, a não usá-la e não torná-la objeto de consumo, que é evidente que uma pessoa como São João Bosco, São Felipe Neri, Santo Inácio de Loyola tornam-se referência de pessoas sadia e cheias de amor. Quem quer amar como celibatário, por amor a Deus, precisa se doar e doar tudo sem reservas.

No amor não há “reservas técnicas”. Deus quer que você doe tudo, não porque Ele é ganancioso, mas porque Ele quer que você seja 100% feliz. Repita comigo: “Eu quero ser feliz 100% e eu quero entregar 100% o meu amor”. Se você quer realmente isso, pare de fazer “reservas técnicas”. Se você quer ser radicalmente feliz, ame radicalmente.

A questão, portanto, é dominar os desejos, não os matar. Santo Tomás de Aquino nos ensina que precisamos fazer isso politicamente. A técnica usada com os animais é um exemplo. Para domar um cavalo é preciso ir ganhando sua confiança aos poucos, dia após dias, até que ele se torne dócil.

Com a castidade é da mesma forma. Você precisa negociar, pacientemente, com seu corpo. Preste atenção: não se trata de ir negociando com a “masturbação” – de diariamente para semanalmente, depois mensalmente. Não! Você precisará cortar (frear) as relações sexuais de sua vida e suportar as consequências físicas dessa belíssima decisão.

O sexo antes do casamento é uma mentira. Pare de mentir para quem você ama. Por um lado, você diz: “Sou todo teu” e “sou sua para sempre”, mas, na hora de assumir as responsabilidades de um casamento, vocês se levantam e vão embora, cada um para sua casa.

Namorar, de verdade, é você, junto com sua namorada, esforçar-se para domar esse “cavalinho” e viverem a castidade para serem livres, para doarem-se um ao outro. Um rapaz não pode dizer essa mentira a um moça e uma moça não pode dizer essa mentira ao rapaz.

A palavra “castidade” vem de castus (do latim), que quer dizer puro. Essa pureza não tem nada a ver com sujeira. O sexo não é sujo. Mas você precisa ser transparente para deixar o outro entrar em seu coração. Por isso, sentimos vergonha, porque é algo que diz respeito à intimidade. Só deverá conhecer sua intimidade quem for realmente transparente com você. Uma pessoa não enxergará sua alma se você insistir em mostrar somente o seu corpo. No Carnaval, ao ver uma mulher sobre um carro alegórico, usando somente com um tapa-sexo, você não vai elogiar o seu “QI”: “Nossa, que mulher inteligente!”. Por outro lado, ao ver uma mulher como Santa Terezinha do Menino Jesus, de hábito carmelita, só com a “carinha” de fora, todo mundo enxerga a alma dela. Só de olhar para uma foto dela, no olhar dela, você sabe que ali está uma alma preciosa. Ela escondeu o corpo, mas revelou a alma. Pare de esconder sua alma para seu namorado com sua roupinha provocante.

Comece a amar e ser transparente. Faça com seu namorado um voto de castidade. Tenha paciência. Seu corpo vai “espernear”, mas não dê para ele o sexo desregrado. Seu corpo vai querer, mas você não vai entregar para ele isso, pois o sexo não é ar que respiramos. Deixe hoje os grilhões, diga para seu namorado ou sua namorada: “Eu quero ser dono de mim, para poder me doar para você. Pare de alimentar as minhas correntes”. Todas as vezes que você vai namorar e cai no sexo desregrado, aumenta uma corrente no pescoço da pessoa que você ama. Diga para quem você ama: “Pare de se acorrentar. Eu quero ser livre para poder amar você. Pare de ficar me enrolando em correntes”. A castidade é um ‘sim’ ao amor, porque ela nos liberta, para que possamos nos doar e entregar totalmente à pessoa que amamos. Vamos viver a castidade. Esse é um grande convite ao amor.”

Transcrição e adaptação Cleber dos Santos Rodrigues

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