É preciso ter disposição para dar ao outro aquilo que tu pedes

Tudo o que quiser que Deus te faça, faça a Ele que está escondido no mais próximo de você

“Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó Senhor!” (Salmo 137)

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Padre Anderson Marçal. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Esse salmo é provocador. Não sei se você já teve a experiência de gritar, de rezar, rezar e não ser atendido. É provocador, porque na Quaresma somos chamados a viver as três realidades: a oração, jejum e a caridade. A vida do cristão deve se manifestar desta forma, quem crê em Jesus, quem abraça a fé em Jesus, reza.

A vida do cristão deveria se manifestar nesses três pontos constantemente, se potencializando na Quaresma. Essas três coisas se entrelaçam, estão muito ligadas, mas por causa da pedagogia de Jesus de ensinar os apóstolos a segui-Lo, Ele próprio quase separa, mas vemos que não há como viver uma sem a outra.

Muitos podem ter feito a experiência de bater e a porta não ser aberta, de pedir e não receber. Será que Deus é mentiroso ou estamos trilhando um caminho diferente? Na Palavra, Jesus diz: “Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta!Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta” (Mt 7, 7-8). Mas, por que muitos de vocês dizem que não acontece, que pedem e não recebem? Tem alguma contradição.

Quem está se contradizendo, Jesus ou nós? Você tem coragem de dizer que você é quem está contradizendo? Aprendeu a pedir? Uma verdadeira oração significa que antes de rezar é preciso ter algumas disposições. Muitas vezes, o que nos leva à oração não é a disposição, mas as minhas intenções. O que nos deve levar a rezar são nossas disposições.

A própria Ester se colocou em oração: “Naqueles dias, a rainha Ester, temendo o perigo de morte que se aproximava, buscou refúgio no Senhor” (Ester 4, 17).

Para que possamos viver essa Palavra do Evangelho, não podemos ter a intenção primeiro, mas as disposições. “Prostrou-se por terra desde a manhã até o anoitecer, juntamente com suas servas” (Ester 4, 17p). A primeira disposição é ter o coração prostrado diante do Senhor, em busca Dele mesmo e não do que Ele pode me dar.

Será que quando me coloco em oração, acredito, não que Ele vai realizar o milagre, mas que Ele é o Senhor da minha vida? É preciso dizer: “Senhor, não importa o que vai me dar, importa que o Senhor se dê a mim.” O que o Senhor pode dar é acréscimo. É preciso reconhecer: “Tu és meu Senhor e meu Deus!”. Muito mais do que Ele me curar, eu reconheço dizendo: “Tu és o meu Senhor!”

Ester, com sua serva, prostrou-se diante de Deus. O que é que tem nos prostrado? Será que são nossas preocupações, inquietações? O que tem te feito ficar prostrado se transformou no seu Deus, porque só diante de Deus devemos nos prostrar.

Ester, na sua oração, disse: “Senhor, eu ouvi, dos livros de meus antepassados, que tu libertas, Senhor, até o fim, todos os que te são caros” (Ester 4, 17aa). A segunda disposição é recordarmos tudo que Deus já fez em nossa vida, recordarmos quem é Ele, reconhecer e professar: “Se o Senhor lá, naquela situação, agiu com poder, aqui também agirá, mas só se o Senhor quiser.” Será que estamos preparados para viver as provas que Deus tem para nós, para que não percamos o caminho?

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“Não sejamos pessoas que têm muito mais prazer em dizer do que não aconteceu do que louvar pelo que já aconteceu!” (padre Anderson). Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

Deus nos prova na fé, como provou o povo de Israel

Deus age na minha vida conforme Ele quer, Ele não quer perder ninguém, por isso Ele nos prova, mas no guia. As provas que temos, a cada instante, servem para provar a primeira disposição, se Deus é realmente meu Senhor e se realmente é apenas diante Dele que eu me prostro. Aquilo que nos faz prostrar se transformou no nosso Deus.

Se a primeira disposição é nos prostrarmos somente diante de Deus, a segunda é reconhecer que Ele nos prova para amadurecermos na fé. É não desistir, mesmo sendo provado, é perseverar até o fim.

“Agora, pois, ajuda-me, a mim que estou sozinha e não tenho mais ninguém senão a ti, Senhor meu Deus” (Est 4, 17bb). A terceira é não recorrer a nenhum outro Deus, é confiar, dizer: “Eu sei que o Senhor tem o melhor para mim, mesmo que não seja o que eu queira.” Confiar e recorrer somente a Deus. Às vezes, sentimos mais prazer em dizer das desgraças na nossa vida do que dizer das graças. Se eu tenho disposição de recorrer somente a Deus: “Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta” (Mt 7,7-8).

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Muitas vezes, queremos ficar só com a parte fácil, mas antes da intenção precisa ter a disposição. Recorrer somente a Ele, mas temos a mania de buscarmos ser os “coitadinhos”. Não sejamos pessoas que têm muito mais prazer em dizer do que não aconteceu do que louvar pelo que já aconteceu!

Ester só tinha a Deus e por isso recorreu somente a Ele, confiando. Deus quer nos dar muito mais do que coisas que passam, Ele quer se dar a mim e a você e vamos ser fortes na tribulação, vamos passando por uma situação após a outra. Se Ele se doa a mim e a você, seremos perseverantes até o fim, porque Ele é minha única segurança. Confiar somente em Deus, porque não temos mais nada!

Queiramos o querer de Deus, isso nos basta! Se tivermos a disposição antes da intenção, vamos querer o que Deus quer.

Mas, há uma condição para que alcancemos o que Jesus diz no Evangelho: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas” (Mt 7, 12). Tudo que quero o que Deus faça a mim, devo fazer a Ele. Como?

Precisamos voltar ao Evangelho de segunda-feira: “Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’” (Mt 25, 35-36).

Preciso ter a coragem de ir até onde Jesus está escondido e Ele está escondido nos pequeninos, nos menores dos nossos irmãos. Mesmo que eu tenha disposição é preciso uma condição. O que você quer para você, faça para os mais pequeninos.

É fácil rezar? Por que pedimos e não recebemos? Será que colocamos as disposições à frente das intenções? Tudo o que quiser que Deus faça, faça a Ele que está escondido no mais próximo de você!

Padre Anderson – Comunidade Canção Nova

Transcrição e adaptação: Míriam Bernardes

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