O castigo que teríamos que pagar caiu sobre Ele

Padre Anderson Marçal

Padre Anderson

Padre Anderson Marçal. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com

“Em verdade, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre Ele; fomos curados graças às suas chagas” (Is 53, 4-5).

Paixão de Jesus

A gratidão não é somente quando recebemos algo; quando alguém faz uma experiência com Deus, a gratidão toma conta do coração dessa pessoa.

Ontem, celebrávamos a Paixão de Jesus, nós O vimos e O adoramos na cruz, mas, hoje, Ele está no sepulcro. Jesus foi resgatar os que estavam perdidos, e o primeiro foi Adão. O culpado foi absolvido no dia de hoje. Então, cada um de nós, a partir dessa leitura de Isaías, pode dizer: eu era culpado, mas, a partir desse Sábado Santo, eu sou absolvido.

Diga assim: “Obrigado, Senhor, por tudo o que o Senhor fez por mim, eu era culpado e hoje posso dizer: sou absolvido; eu era réu e hoje não estou mais no julgamento, pois o Justo Juiz pagou, levou sobre si os castigos que eram meus, os castigos que eu teria que pagar, ele levou sobre si”.

O versículo 4, primeiramente, diz que eram os nossos sofrimentos e as nossas dores que Ele levava nas costas. Mas você pode perguntar: “Como Ele levou meu sofrimento, se eu sofro ainda hoje? Como levou as minhas feridas, se eu carrego minhas feridas ainda hoje?”. Alguém sofre aqui? Quem não sofre? Mas como Ele levou os nossos sofrimentos?

Pensa na tua vida e fala assim: “Não tem lógica isso aqui”. Pergunte para Deus: “Deus, se o Senhor levou os meus sofrimentos, por que eu ainda sofro? Se o Senhor levou as minhas dores, por que ainda sinto tantas dores? A angustia, quando alguém me trai, alguém me abandona, por que me sinto tão carente? se o Senhor levou, o Senhor fez um trabalho mal feito?”

Entenda seus sofrimentos

Vamos entender: em Jesus, os nossos sofrimentos não somem, os nossos sofrimentos não passam, mas, por Ele ter sofrido, o nosso sofrimento toma caráter de salvação. Ele quis mostrar a mim e a você que o sofrimento faz parte da vida. Mas uma coisa é sofrer sozinho e outra é sofrer com Aquele que sofreu por mim e por você.

Vivemos no mundo hedonista, e hedonismo é viver o prazer pelo prazer; e aqui não digo somente o prazer sexual, mas o prazer da beleza, que faz a pessoa tirar uma costela para ter uma cintura fininha, daquela que coloca silicone para chamar a atenção, do prazer das drogas, o prazer de comer. Nós estamos em uma sociedade com medo do sofrimento e, por isso, está desenfreada. É para olhar para a cruz e pensar: “Ele sofreu, por que eu não hei de sofrer? Pelo sofrimento d’Ele, Ele nos trouxe a salvação, pelo meu sofrimento eu irei ser salvo”.

Consequências de uma vida de prazer

Numa sociedade hedonista, que busca o prazer pelo prazer, nos tornamos pessoas fracas nas decisões. Não quero tomar uma decisão final, pois o fim pode ser dolorido. Por isso, que temos casamentos fracos que não vão pra frente. Somos uma geração que não tem coragem de assumir uma decisão definitiva. Por isso, muitas pessoas não casam, e vivemos hoje um fenômeno de eternos adolescentes porque são pessoas que não tomam decisões adultas e vivem com mais de 40 anos na casa da mamãe. Muita gente começa a tomar decisão muito lá pra frente. Por que? Estamos em uma geração de medrosos, que não são capazes de assumir as consequência de uma decisão. Toda decisão traz frustrações e gozo. E, para não ter de lidar com as frustrações, eu fico com a decisão até o momento que ela traz gozo. Quando começam as frustrações eu troco, eu mudo.

Aprenda que o sofrimento faz parte da vida. Em Jesus, os nossos sofrimentos fazem parte da vida, mas tomam um sentido diferente, e o sentido é a cruz de Jesus. Mas não tem somente o sofrimento.

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Padre Anderson Marçal

Em Jesus, a minha dor, a sua dor, é estrada que leva á Deus. A minha dor, seja ela qual for, me aproxima de Deus. Quanto mais eu coloco as minhas dores na estrada ao contrário de Jesus, mais estou longe d’Ele. A minha dor com Jesus tem sentido; Ele carrega as nossas dores para fazer com que as nossas dores não sejam mais um muro de separação, mas se tornem ponte. É pelo meu sofrimento que me aproximo d’Ele.

Quando vivemos momentos dores?

Na maioria das vezes, nos aproximamos de Deus nas dores, mas hoje corremos o risco de nos perder, pois temos inúmeras propostas, basta trocar o canal de televisão e você terá proposta de ser isso ou aquilo, ser empresário, ter dinheiro, mas não terá Jesus. Isso é pra enganar católico frouxo, que não se aproxima de Jesus pela cruz, mas quer se aproximar de Jesus pelos milagres, pelas palavras bonitas.
Não existe uma ligação mais íntima, que percorre toda a nossa vida, que vai nos ligar eternamente a Deus, do que o limiar da morte, que significa o meu sofrimento.

Jesus não foi somente um milagreiro, benzedeiro, Ele foi verdadeiro. Somente vai se aproximar aqueles que chegam até o limiar da morte. A tua dor não é a última palavra, isso se você estiver com Jesus. Porque a dor não foi a última palavra na vida d’Ele. Se você estiver com Ele, a última palavra é ressurreição, céu, vida eterna; aqui só estamos passando. Quem descarta os bens dessa terra, por causa de Jesus, gozará eternamente dos bens do céu.

Santa Cruz

Diga assim: “Em Jesus, pela sua Santa Cruz, eu sou culpado, porque era eu a estar lá, mas eu sou absolvido, porque Ele assumiu o meu lugar”.

A nossa sociedade tem medo da palavra culpa, pois quem é culpado paga o preço. Por isso, temos mais vergonha, do que culpa. Quando vamos confessar, temos muito mais vergonha dos nossos pecados do que sentimento de sermos culpados por eles. Essa sociedade fraca, essa geração de frouxos, tem muito mais o sentimento de vergonha do que de culpa. E o que a Igreja nos ensina a dizer: “confesso a Deus todo poderoso, e a vós irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa”. Somente quem se sente culpado tem o Justo Juiz pregado na cruz. Quem se sente culpado pode olhar para cruz e se sentir absolvido.

Em Jesus, somos culpados e absolvidos. Culpados, pois éramos nós a estar lá, mas absolvidos, pois Ele escolheu, por amor, estar lá, no nosso lugar. Ele aceitou livremente, por amor, estar no nosso lugar. Ele foi porque Ele quis, por amor. Nós não somos pessoas tristes, pois o Nosso Salvador não carregou a cruz com tristeza; pois Ele mesmo disse: “Não é ninguém que tira a minha vida, sou eu quem a dou livremente; e dou por quê? Porque amo você”.

O único julgamento que você entra culpado e sai absolvido é a confissão. Deus não dá o que merecemos, e sim o que precisamos, que é o Seu amor. O Deus que você experimentou é muito maior que o seu pecado. O castigo que teríamos que pagar, caiu sobre Ele.
Eu sou culpado sim, você é culpado, mas o castigo que era seu, Jesus tomos sobre as Suas costas. Aproximar-se d’Ele é deixar com Ele o que nos afasta d’Ele.

Os castigos que Jesus pagou são sete, e agora, vou dizer para vocês:

Primeiro: o castigo da traição, como de Judas. Todas as vezes que eu traio a Jesus, como Judas traiu, a cruz já pagou. Por isso, posso me aproximar d’Ele de novo. Quando eu traio a Jesus? Quando fabrico outros deuses. O deus para Judas era o dinheiro. Quando fabricamos deuses com as nossa próprias mãos, estou traindo a Jesus.

Segundo: o da negação, como de Pedro. Quando negamos a Deus esse castigo já foi pago por Ele. Mas só não vamos pagar quando nos aproximarmos d’Ele, pois, se aproximar d’Ele é deixar com Ele o que nos separa d’Ele. Como nego a Deus? Tem várias maneiras de negar a Deus; por exemplo, quando saio de um grupo de oração e escondo o crucifixo; aqueles cantores, coordenadores de pastorais que fazem tudo só para se aparecer. Você sabe qual é a diferença do pecado de Judas e de Pedro? Eu não sei qual é maior, qual foi pior. A diferença é que um voltou e o outro não.

Terceiro: o da indiferença, como dos outros apóstolos. A Palavra de Deus vai dizer que estavam aos pés da cruz, claro, não ignorando Nossa Senhora, Maria de Madalena e a outra Maria, mas o único apóstolo era João. Os apóstolos tinham visto tudo que Jesus tinha feito, ouvido tudo que tinha falado, mas foram indiferentes; não vou nem dizer que foram covardes. Mas o castigo da indiferença, como dos outros apóstolos, já foi pago. Quando sou indiferente com Jesus? Quando não O admito como Senhor da minha vida, quando eu O busco nas manifestações milagreiras, quando só O busco quando Ele pode me dar alguma coisa. E, quando Ele não pode me dar nada ou só pode me dar a cruz, eu quero que Ele “se lasque”.

Quarto: o da condenação, como dos Sumos Sacerdotes. Não foi Pilatos quem condenou; Pilatos deu a sentença. Quando condenamos a Deus? Quando Ele não faz o que nós queremos. Quantas vezes O condenamos por levar uma pessoa amada? Quantas vezes O culpamos por não fazer aquilo que nós queremos? Ele é tão amor que, mesmo apontando o dedo na cara dE’le e dizendo que Ele é culpado por aquilo que estamos vivendo, Ele já pagou esse castigo. Quando condenamos a Deus, Ele já nos absolveu.

Quinto: o da conveniência, como Pilatos. Ele foi covarde, foi conveniente das situações. Quando eu sou conveniente? Quando eu falo o que os outros querem ouvir; quando eu faço o que os outros querem que eu faça. Quando está tudo bem, estou do lado de Deus; mas quando as coisas apertam, vou acender vela para o cão. Pessoa que não tem personalidade: se a maré é o diabo, vai para o diabo; se a maré é evangélico, vai para os evangélicos; se a maré é os católicos, vai para os católicos. Conveniência como Pilatos. Esse castigo você não vai pagar. O castigo que era nosso, Ele já pagou.

Sexto: quando somos interesseiros, como o povo, que gritou “Hosana” e, depois, “crucifica-O”. Quando somos interesseiros por aquilo que Jesus pode nos dar. Esse castigo já foi pago. Por todas as vezes que somos interesseiros. “O Senhor só entra na minha vida até aqui, daqui para frente não entra mais. Vou só gritar “Hosana” mas quando o bicho pegar para p Seu lado, vou dizer “crucifica-O”.

Sétimo: o castigo das injúrias, como dos soldados romanos. O castigo de caçoar de Deus, de blasfemar contra Deus, de brincar com as coisas de Deus, assim como os soldados romanos fizeram. Cada vez que blasfemamos, cada vez que proclamamos injúrias, cada vez que fazemos injúrias com o nosso corpo, oferecendo o nosso corpo aos deuses falsos. Essa culpa você não vai pagar. Cada vez que jogamos palavras de maldição, palavras malditas. Jesus já pagou essa culpa.

Nós só precisamos nos aproximar d’Ele arrependidos. Os castigos que eram nossos, Ele pagou. Mas só vamos receber isso, se nos aproximarmos d’Ele. Por isso, levante-se e reze, para se aproximar de Deus.

Transcrição e adaptação: Guilherme Zaparole

 

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