O discípulo nasce do encontro

A atual cultura assim chamada adveniente ou pós-moderna – que no entanto não deixa de ser substancialmente moderna – se caracteriza por seu desencanto com muitos dos resultados do iluminismo da modernidade, em especial com as grandes ideologias, filhas da modernidade, como foram o nazismo/fascismo e o comunismo, que, depois de desencadearem guerras e revoluções de extrema violência e devastadora crueldade e desumanidade para imporem seu respectivo sistema sócio-econômico-político, felizmente fracassaram e caíram. Mas a pós-modernidade se decepciona também com o liberalismo capitalista, outro filho da modernidade, ainda vigente, que não consegue cumprir suas promessas de vencer a pobreza no mundo, mas, ao contrário, explora desumanamente os pobres e os exclui da nova ordem econômica mundial globalizada.

Por outro lado, estas ideologias constituíam uma espécie de coletivos, por vezes mundiais, que cooptavam grandes multidões, que a eles se filiavam, tornavam-se seus militantes ou neles confiavam e com eles colaboravam. Para essas multidões cooptadas, essa sua respectiva ideologia, ou partido nascido da ideologia, significava esperanças concretas de futuro mundo melhor e assim dava sentido a suas vidas e à sua atuação na sociedade. Eram grandes coletivos que davam suporte a milhões e milhões de pessoas. Essas se sentiam fazendo parte deste coletivo escolhido e de seu destino. As pessoas diziam com convicção, quando não com arrogância e prepotência: \”sou marxista, sou comunista, sou fascista, sou nazista, sou deste ou daquele partido político\”. Mas agora, tendo caído estas ideologias, as pessoas vêem-se de repente sozinhas, órfãs, diante da vida, sem projeto e sem companheiros. Que sentido dar a suas vidas a partir de agora?

Esta situação das pessoas que antes tinham um coletivo ideológico, do qual faziam parte e que dava sentido a suas vidas e do qual agora foram privadas, constitui um dos aspectos da pós-modernidade. Nasceu então um grande desencanto e um recolher as bandeiras. Grande número das pessoas perderam o sentido de sua vida e agora tentam reconstruir sozinhas, num individualismo decepcionado, algum sentido, o que contribui para o crescimento do desinteresse político de muitos, do ceticismo, relativismo e agnosticismo no mundo das idéias, do consumismo desenfreado na vida quotidiana, do cinismo diante da vida, do \”cuide cada um de si mesmo\”, da corrupção na política e portanto da desvalorização da ética. O tecido social se esgarçou e a fragmentação da sociedade cresceu, com a conseqüência do desgaste das grandes instituições públicas, incluídas as grandes religiões. É bom acrescentar que esse processo atingiu e atinge em especial a cultura ocidental, onde a modernidade nasceu e se desenvolveu.

É neste contexto que hoje a sociedade consumista oferece também uma espécie de supermercado de religiões, principalmente nas áreas urbanas, onde os indivíduos isolados e decepcionados ou céticos, até mesmo com sua própria religião, buscam novos refúgios e novos coletivos. E vice-versa, muitas religiões ou igrejas, especialmente as de origem mais recente, vão em busca dessas pessoas isoladas, de todas as classes sociais, que se sentem sem amparo e sem rumo, mas sobretudo nas grandes periferias urbanas pobres, onde além da falta de um claro objetivo para suas vidas as pessoas e famílias sofrem sozinhas toda sorte de carências, como falta de trabalho, de escola, de saúde, de moradia, chegando a passar fome e miséria extrema. Essas religiões, aqui entre nós principalmente as chamadas igrejas de crentes ou evangélicas-pentecostais e neo-pentecostais, vão ao encontro dessas pessoas, de todas as classes sociais, mas, repito, sobretudo das pessoas pobres, e procuram levá-las a suas comunidades, aos seus coletivos. Vão visitar as famílias, fazem um encontro com as pessoas e assim convertem a muitos. Note-se que aqui o fator \”encontro com as pessoas\” é decisivo.

De fato, o discípulo nasce do encontro. Encontrar as pessoas e levá-las a ter um encontro forte e pessoal com Jesus Cristo. Este é o caminho da missão, que Jesus entregou aos seus apóstolos e a nós, bispos, hoje, quando disse: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo”(Mc 16,15-16); \”fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo\” (Mt 28,19). Nos Evangelhos vemos como o próprio Jesus converte as pessoas em discípulos seus através de encontros fortes com elas.

Como primeiro exemplo podemos tomar Jo 1,35-51, em que se narra como ocorre a adesão dos primeiros discípulos de Jesus. Jesus havia sido batizado por João, no rio Jordão. No dia seguinte, João Batista estava de novo ali com dois de seus discípulos. Acontece que também Jesus naquele momento passou novamente por lá. João ao vê-lo, o proclamou, dizendo: \”Eis o Cordeiro de Deus\”. Ouvindo isso, os dois discípulos de João Batista se aproximam de Jesus e lhe perguntam: \”Onde moras?\”. Disse-lhes Jesus: \”Vinde e vede\”. Eles então foram com Jesus, viram onde morava e permaneceram com Ele o resto do dia.

Foi um encontro pessoal muito forte dos dois com Jesus. Um encontro que Jesus espera que também nós, bispos, façamos e renovemos, um encontro forte e pessoal com Ele, para renovar nosso discipulado.Um encontro face a face, de tu a tu. De fato, os dois discípulos de João que se encontraram com Jesus, deixaram-se atrair e envolver pessoalmente. Saíram deste encontro transformados, iluminados, entusiasmados. Haviam-se deixado alcançar por Jesus e este os havia impressionado intensamente. Eles creram em Jesus. Aderiram a Ele com todo seu ser. Tinham a certeza de que este era o enviado de Deus, o Messias prometido, e isto os fazia vibrar de emoção e alegria espiritual. Estavam prontos a segui-lo e investir tudo nele. Ele seria daqui para frente seu Mestre e seu caminho, sua certeza e sua felicidade. Tornaram-se seus discípulos, para nunca mais o deixarem. Como o apóstolo Paulo dirá mais tarde, também eles podiam dizer: \”Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? … Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer contra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor\” (Rm 8, 35 e 38-39).

Essas também devem ser as palavras que devem brotar de nosso coração de bispos, quando nos encontramos com Cristo. Mas para isso é preciso sempre de novo deixar-nos alcançar por Ele, de coração aberto e disponível. Devemos poder dizer com o apóstolo Paulo: \”Eu já fui alcançado por Cristo Jesus\” (Fip 3,12).

O evento da adesão dos dois primeiros discípulos continua, narrando como eles saíram deste encontro para contar a seus companheiros tudo o que experimentaram e levá-los por sua vez a fazer um encontro com Jesus. Diz o texto que André era um dos dois. Ele saiu do encontro com Jesus e foi depressa procurar seu irmão Simão Pedro, para dizer-lhe ainda emocionado e feliz: \”Encontramos o Messias\”. Esta afirmação simples e entusiasmada de André deve ter surpreendido profundamente Simão Pedro. Sim; toda Israel esperava o Messias há séculos. Os profetas de época em época lembravam isso ao povo. Mas agora, ouvir tão abruptamente da boca de seu irmão: “Encontramos o Messias”, deve ter sido um abalo muito intenso. Pedro aceita ir com André para encontrar-se com Jesus. Ao chegarem, Jesus fita Pedro nos olhos e penetra todo o seu íntimo e depois diz: \”Tu és Simão, filho de Jonas; chamar-te-ás Cefas (que quer dizer Pedra)\”.O encontro com certeza se prolongou. Ao saírem de junto de Jesus, Pedro e André haviam sido conquistados para sempre. Suas vidas daqui para frente mudariam totalmente. Serão discípulos deste Jesus, em quem reconheceram o Messias.

No dia seguinte, Jesus encontra Felipe, que – como diz o texto – morava na mesma cidade que Pedro e André. De novo se repete esta extraordinária transformação, que faz de Filipe mais um discípulo. E ele, também, assim como André fez com seu irmão Pedro, Felipe vai em busca de alguém que possa ouvi-lo e a quem possa transmitir a maravilhosa experiência, o forte encontro que mudou sua vida e seu futuro. Vai buscar Natanael e lhe diz: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, o filho de José, de Nazaré”. Também Natanael se sente sacudido pela surpreendente declaração de Felipe e acaba indo com ele ao encontro de Jesus. Este o recebe com uma declaração que faz Natanael sentir-se imediatamente acolhido como se fosse um familiar, um conhecido e amigo. Jesus lhe diz: \”Eis verdadeiramente um israelita em quem não há fraude\”. No transcorrer deste encontro, também Natanael se sente transformado, atraído e iluminado. Sente-se envolvido pessoalmente e percebe que Jesus o vincula a si para sempre. Natanael adere a Jesus e crê que este Jesus é o Messias prometido e exclama: \”Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel\”

Os Evangelhos trazem muitos exemplos destes encontros de Jesus com pessoas, que acabam crendo em Jesus, aderindo a ele totalmente, tornando-se seus discípulos e discípulas, capazes de investir toda sua vida nele e no seu Reino. Podemos citar os encontros com os irmãos Lázaro, Marta e Maria, de Betânia, os encontros com Nicodemos, com a Samaritana, com Maria Madalena, com Mateus (Levi), com o rico Zaqueu, e tantos outros. Em todos, ocorre aquela extraordinária transformação interior, a adesão, a fé, a prontidão em seguir Jesus e ser seu discípulo.

Mas quando faltavam certas condições de disponibilidade interior e de desapego, quando outros interesses de poder, dinheiro ou prestígio continuavam prevalecendo, o encontro não resultava em conversão, como aconteceu no caso do jovem rico, a quem o apego à riqueza impediu de seguir o Mestre. O inverso aconteceu com Zaqueu, que também era rico, mas se converteu, devolveu ao quádruplo tudo que havia adquirido ilicitamente e do que lhe sobrou deu a metade aos pobres. Mesmo um dos Doze, Judas Iscariote, nunca se converteu de verdade. João o acusa de ser ladrão. Alguns pensam que ele tinha outro projeto de poder e dominação, que não coincidia com o projeto de Jesus. Acabou traindo o Mestre e entregando-o para ser morto, recebendo em troca trinta moedas. Por fim, desesperado, enforcou-se.

Não podemos deixar de mencionar os encontros que ocorreram depois da ressurreição de Jesus Cristo. Esses encontros renovaram e aprofundaram a adesão dos discípulos e discípulas, os quais são então fortalecidos e consolidados na sua fé e discipulado com o dom do Espírito Santo. Lembremos os encontros de Jesus ressuscitado com Madalena e as outras mulheres, com Simão Pedro, com os apóstolos reunidos, com Tomé especialmente, com os dois de Emaus, com a multidão de discípulos reunidos na hora de sua ascensão ao céu e mais tarde com o apóstolo Paulo, no caminho de Damasco. Sempre de novo trata-se de encontros pessoais e agora também comunitários, ou seja, com a comunidade que Jesus fundara e agora se consolidara com sua ressurreição e o dom do Espírito Santo.

Jesus era o Deus invisível que se tornou visível no meio de nós. Era o Filho de Deus feito homem, com quem as pessoas que com ele conviviam podiam encontrar-se, como nós, pessoas humanas, nos encontramos entre nós. Contudo, o Antigo Testamento nos atesta muitos encontros que Deus concede a pessoas, principalmente àquelas às quais encarrega de uma missão especial. E hoje, como podemos fazer um encontro pessoal ou comunitário com Jesus Cristo, que já não está mais visivelmente entre nós?

Comecemos pelo Antigo Testamento. Dois encontros são centrais para a história de Israel, o povo eleito, e toda a revelação que consta no Antigo Testamento: o encontro com o patriarca Abraão e o encontro com Moisés na sarça ardente.

O grande encontro que mudou toda a vida de Abraão foi quando Deus o chamou para sair de Ur da Caldéia e ir para a terra que ele lhe indicaria e depois lhe daria em herança. “O Senhor disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome: sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serão benditas todas as tribos da terra’. Abrão partiu, como lhe disse o Senhor”(Gn 12,1-4). Abraão acreditou em Deus e na sua promessa. Esta fé transforma toda a sua vida. Ele sai de sua terra, deixando para trás tudo o que até agora tinha sido sua vida. Esta fé lhe é imputada em justiça. Ele é o pai de todos os crentes no Deus único e verdadeiro. A partir daí, Abraão caminhará pela vida com quem vê o invisível.

Após este encontro de Abraão com o Senhor Deus, outros acontecerão através de sua longa vida de migrante do Senhor, escolhido para ser pai de um novo povo, um poço que Deus haveria de escolher como seu povo eleito, do qual nasceria o Salvador de todos os povos. Por isso, Abraão seria uma bênção para todos: “em ti serão abençoadas todas as tribos da terra”.

Dentre os muitos encontros de Abraão com o Senhor, convém destacar aquele junto ao Carvalho de Mambré, quando lhe apareceram três homens e neles Abraão reconhece o Senhor. Diz o texto do Gênesis: “O Senhor lhe apareceu no Carvalho de Mambré, quando ele estava sentado na entrada da tenda, no maior calor do dia. Tendo levantado os olhos, eis que viu três homens de pé, perto dele; logo que os viu, correu da entrada da tenda ao seu encontro e se prostrou por terra. Ele disse: ‘Meu Senhor, eu te peço, se encontrei graça a teus olhos, não passes junto de teu servo sem te deteres. Traga-se um pouco de água e vos lavareis os pés, e vos estendereis sob a árvore” (Gn 18,1-4). São três os homens que lhe apareceram. Ele os trata uma vez no plural e outra no singular. Os três que, no entanto, são um. São o Senhor. Abraão oferece-lhes uma refeição. Eles lhe anunciam que ele terá um filho. Mas Abraão e sua mulher Sara já eram velhos e por isso Abraão pergunta como isso será possível. Mas o Senhor lhe responde: “Há porventura algo impossível para o Senhor?” (Gn 18,14). E mais uma vez Abraão acreditou e de fato nascerá o filho Isaac.

Contudo, o encontro mais impressionante e decisivo de Abraão com o Senhor ocorreu quando este lhe manda sacrificar seu filho Isaac. Neste episódio dramático, conduzido unicamente pela lógica divina e profundamente estranho à lógica humana, a fé de Abraão é provada ao extremo. Mas ele permanece fiel até o fim. Por essa sua fidelidade Deus renova suas promessas, que deverão ser levadas depois em frente por Isaac, poupado pela intervenção do próprio Senhor que havia pedido seu sacrifício. Deus diz então a Abraão: “juro por mim mesmo, palavra do Senhor: porque me fizeste isto, porque não me recusaste teu filho, teu único, eu te cumularei de bênçãos, eu te darei uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu e quanto a areia que está na praia do mar, e tua posteridade conquistará a porta de seus inimigos. Por tua posteridade serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me obedeceste”(Gn 22,16-18).

Outro personagem fundamental da Bíblia é Moisés. Ele também teve seu encontro decisivo com o Senhor,, que o chamou para libertar seu povo da escravidão do Egito. Lemos no livro do Êxodo: “Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Conduziu as ovelhas para além do deserto e chegou ao Horeb, a montanha de Deus. O Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. Então disse Moisés: ‘Darei uma volta, e verei este fenômeno estranho, por que a sarça não se consome’. Viu o Senhor que ele deu uma volta para ver. E Deus o chamou do meio da sarça: ‘Não te aproximes daqui; tira as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa’. Disse mais: ‘Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Então Moisés cobriu o rosto, porque temia olhar para Deus” (Ex 3,1-6). Então o Senhor num longo diálogo, denso de revelações, encarrega Moisés com a missão de libertar o povo hebreu da escravidão do Egito. Moisés sai deste encontro transformado, deixa seu sogro, e, confiante no Senhor, vai cumprir a difícil missão de libertar os hebreus.

E nós, como podemos hoje encontrar o Cristo Ressuscitado? O saudoso Papa João Paulo II, na Ecclesia in América (n.10), orienta como fazer o encontro com Jesus Cristo após sua ascenção ao céu, no tempo da Igreja, portanto, também hoje. Encontrar a Cristo é um dom de Deus e não simplesmente resultado de nossos esforços humanos. Na verdade, é Ele quem nos busca e nos amou primeiro. Ele bate à nossa porta. Mas somos nós que devemos acolhê-lo livremente. O apóstolo Paulo, por isso, diz com razão: “Eu já fui alcançado por Jesus Cristo” (Fip 3,12). Jesus Cristo o buscou e Paulo lhe abriu a porta.

Onde pode dar-se hoje este nosso encontro ou re-encontro? Digo re-encontro, pois devemos sempre de novo re-encontrar-nos. Reconstruir e consolidar nossa adesão de discípulos de Jesus Cristo. João Paulo II nos indica algumas situações privilegiadas, em que isso pode acontecer. Primeiro, na escuta da Palavra de Deus, seja ouvindo de novo a pregação do querigma fundamental, pois, como escreve Paulo: “a fé nasce da pregação” (Rm 10,17), seja lendo a Palavra de Deus. No caso de leitura, o papa recomenda o método da “lectio divina”. Trata-se de uma leitura orante, “à luz da Tradição, dos Santos Padres e do Magistério, e aprofundada através da meditação e da oração” (EIA,12). É uma leitura em vários passos: 1o. ler devagar, com atenção, como se fosse a primeira vez, para entender o quis dizer o texto, quando foi escrito; 2o. Meditar o texto, para descobrir o que o texto diz hoje a mim e ao mundo; 3o. A partir do que entendi do texto, colocar-me em oração e deixar o Espírito orar em mim; é o momento do encontro com Cristo; Ele me fará experimentar o amor com que Deus nos ama e nos amou primeiro; 4o. É contemplar o mistério de Deus e sentir-se envolvido pessoalmente com Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo. Neste momento, não dizer muitas palavras, mas sim sentir-se diante de Deus e em Deus como seus filhos muito amados.

Outro lugar em que posso fazer o encontro com Cristo é na liturgia, diz João Paulo II, principalmente na Eucaristia. Ali Cristo está presente no celebrante que torna presente sobre o altar novamente, ainda que sacramentalmente, o Cristo que por amor ao Pai e a nós aceita morrer na cruz e ressuscita dos mortos para nos salvar da morte e de todo mal. Em conseqüência, também as visitas ao Santíssimo Sacramento, fora da Missa, são oportunidades excelentes de um encontro com Cristo.

Outro lugar de encontro é certamente a oração tanto pessoal como comunitária. A oração pode constituir-se em um tempo de profunda intimidade com Cristo e de compromisso em ser sua testemunha no mundo.

Outro lugar de encontro com Cristo, diz João Paulo II, são os pobres, nos quais Cristo quer ser identificado. Aliás, o amor aos irmãos, sejam de que classe social forem, é sempre uma forma de amar a Deus e unir-se a Jesus Cristo como discípulo. Ele mesmo disse: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Mas entre os irmãos, os pobres e sofridos de todo tipo devem ter a prioridade em nosso amor e solidariedade. Contudo, só veremos Jesus nos pobres, se tivermos conseguido construir um relacionamento pessoal muito forte e consciente com Cristo.

Termino lembrando que o discípulo nasce do encontro forte e pessoal com Cristo. É preciso que sempre de novo renovemos este encontro para consolidar-nos como discípulos seus. Contudo, os discípulos não vivem isolados, mas Cristo os reúne em comunidade, a partir da comunidade dos Doze Apóstolos. Assim, por sua vez os apóstolos, após a volta de Cristo ao Pai, quando fazem novos discípulos por sua pregação e testemunho, formam novas comunidades de crentes. Desse modo, o encontro com Cristo, na Igreja, deve também sempre acabar tornando-se um encontro comunitário. Façamos então nestas horas de retiro nosso re-encontro pessoal e também comunitário com Jesus Cristo, sobretudo na liturgia, para sentir-nos mais perto do Senhor e mais felizes de sermos por Ele amados e enviados em missão.

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