O Senhor é fiel em suas obras

Padre Márlon Múcio

“Porque a Palavra do Senhor é reta, em todas as suas obras resplandece a fidelidade” (Salmo 32,4). A partir desta Palavra o Senhor quer curar a cada um de nós.

Santo Inácio de Antioquia afirma que, quando a Palavra de Deus é proclamada na celebração da Santa Missa, não podemos perder nada. E neste dia a Palavra de Deus, para nós, é de cura, Ele quer nos curar e nos formar para exercermos o ministério de cura e libertação.

O Senhor é o melhor amigo do homem, Ele é o amigo certo das horas incertas. Ele é o amigo verdadeiro, leal e o que Ele disse se cumpriu, está se cumprindo e se cumprirá.

O Papa Francisco encontrou-se com seus colaboradores mais próximos para as felicitações de fim de ano. Ao se dirigir a eles o Pontífice fez um diagnóstico de 15 doenças da Igreja. Essas doenças podem atingir a qualquer cristão. Em seu discurso ele tocou nas feridas e trouxe ataduras para curá-las. O Senhor é assim, quando nos mostra uma ferida Ele já a cura.

Na virada do ano muitos desejam paz, prosperidade, dinheiro, amor e saúde. Muitos dizem: “Saúde, porque do resto a gente corre atrás”. Se para a alta hierarquia eclesial, o Santo Padre pediu a graça da cura; nós, que somos os menores dos menores, também precisamos ser curados. Peçamos a Deus que faça chover sobre a nossa vida a graça da saúde porque precisamos dela.

O Senhor é fiel. O Deus da Palavra é alguém de palavra. O Senhor me disse ao meu coração: “Desejo curar o meu povo. Que comecem o ano curados e bem engajados no ministério de cura”.

Existem pessoas para as quais não existe diagnóstico para suas enfermidades, porque estas não são deste mundo, são espirituais, portanto, não podem ser curadas com remédios deste mundo. Assim como há doenças deste mundo que podem ser curadas com remédios que não são deste mundo.

Santa Terezinha dizia que ela não era um soldado que combatia com armas humanas, mas com armas do Espírito, isto é, a Palavra de Deus.

“Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (Efésios 6, 10 – 18).

O lugar onde você está agora é uma mesa de cirurgia, o Senhor é o cirurgião. Muitas vezes, temos medo de que Deus mexa em nosso interior e descubra quem somos, temos medo de melhorar. Mas o Senhor quer fazer em nós uma obra nova, quer nos curar.

Por diversas ocasiões o Papa referiu-se à Igreja com terminologias terapêuticas. E já a chamou de hospital de campanha. E na ocasião do discurso para a Cúria ele deu um diagnóstico com 15 doenças: Sentir-se imortal, “martalismo” [ao nos assemelharmos mais à Marta do que a Maria, ou seja, nos preocuparmos mais com o trabalho do que com a oração], coração de pedra, planejamento excessivo, má coordenação, Alzheimer espiritual, rivalidade, esquizofrenia existencial, fofocas, divinização dos chefes, indiferença para com os irmãos, cara de funeral, círculo fechado, lucro mundano e exibicionismo.

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O soldado enfermo não está firme, não pode lutar como convém, não pode defender sua Igreja como convém. Se o Senhor nos trouxe este diagnóstico – com as 15 enfermidades citadas pelo Papa Francisco – é porque Ele já está nos curando. Vamos meditá-las:

“Sentir-se imortal”. Há quem se considere “a última bolacha do pacote”. Esta pessoa conjuga muito o verbo na primeira pessoa, e onde sobra o “eu” falta Deus.

“Martalismo” vem de Marta, irmã de Maria. Ela era a dona da casa, mas não se entreteve com o Dono da história dela. Jesus queria algo mais de Marta, não a casa de teto, chão e janela, Ele queria sua casa interior. É preciso conjugar as mãos laboriosas de Marta com o coração adorador de Maria. Ambas são importantes, mas apenas uma recebeu os elogios do Senhor. Maria se deliciava com a Palava. Ela parou tudo para estar aos pés do Mestre.

“Coração de pedra”. São aqueles que estão presos a papeis, às coisas, às leis e não se abrem ao Espírito. Em Deus é sempre tempo de voltar, sempre cabe mais um.

“Planejamento excessivo”. Esta atitude é de quem quer “pilotar” e “engessar” o Espírito Santo de Deus. Recebemos o Espírito Santo em nosso batismo, mas, muitas vezes, queremos deixar parada a água do Espírito. Deixemo-nos livres nas mãos do Espírito Santo neste novo ano! Submetamos nossa carne ao comando do Espírito e nos coloquemos à disposição dos planos do Pai.

“Má coordenação”, pois precisa haver harmonia no corpo espiritual.

“Alzheimer espiritual” significa o esquecimento dos feitos de Deus em nossas vidas. A pessoa que sofre do Mal de Alzheimer fica refém da doença e das pessoas que cuidam dela, perde o autodomínio; o mesmo vale para o nosso lado espiritual, pois perdemos o controle.

“Rivalidade”. Aqui o Santo Padre fala das pessoas que gostam da exterioridade do culto. Na igreja são de um jeito e em casa são de outro. São os sepulcros caiados.

“Esquizofrenia existencial”. É a pessoa que tem dupla personalidade. Existe um divórcio entre liturgia e vida, fé e cotidiano. É maravilhoso estar na Santa Missa, melhor ainda vivê-la no dia a dia. Deus ficará muito feliz se, com a vida, você cantar uma canção nova.

“Fofocas”. O Sumo Pontífice afirma que essa é a doença dos velhacos, que não têm coragem de falar algo na frente das pessoas, então falam pelas costas delas.

“Divinização das autoridades”. Ocorre quando as pessoas ficam bajulando os superiores e os chefes apenas por interesse, o que não é um desejo cristão. Ocorre com aqueles que ficam se perguntando o que a Igreja pode fazer por eles, mas nunca se perguntam o que eles podem fazer pela Igreja.

“Indiferença”. Você não se levanta, não se faz combatente e não levanta o irmão; se parece com um gelo.

“Cara de funeral”. Em casa as pessoas nos observam e se não damos um bom testemunho cristão muitas delas deixam de ir à igreja quando notam que nós, que frequentamos a igreja, estamos piores que elas.

“Lucro mundano”. Ocorre sempre que a pessoa quer lucro a qualquer custo.

“Círculos fechados”. Aqui no Brasil isso se chama “panelinha”. A pessoa não se abre para os outros.

“Exibicionismo”. Sempre que o indivíduo se serve da oportunidade do poder para ter cada vez mais.

O Santo Padre termina essa reflexão assim: “Mas o Espírito Santo é capaz de curar todas as enfermidades”.

Transcrição e adaptação: Rogéria Nair

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