Vigilância e postura daqueles que esperam o Senhor

Padre Roger Luis

Nós estamos contemplando o mistério da nossa salvação nestes dias. E dentro deste mistério, nós passamos pela experiência do Sábado Santo, que é do silêncio de Deus, o silêncio da espera.

Antes de ser preso, Jesus havia escolhido os três discípulos mais próximos d’Ele para estar com Ele no momento de angústia, porque se aproximava a hora de Sua morte. E o Senhor lhes deu uma ordem: “ficai aqui e vigiai!”. Foi um momento de profunda oração com o Pai, mas também um momento de profundo silêncio de Deus.

Refletindo sobre esta oração de Jesus no Getsêmani, o Papa Bento XVI diz que é o momento em que o Céu toca a Terra. E o que Jesus encontra quando vai ter com Seus discípulos? Encontra-os dormindo.

Em seguida, foi ter com seus discípulos e achou-os dormindo. Disse a Pedro: Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora! Vigiai e horai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto mas a carne é fraca. (Marcos 14, 37-38)

Eu imagino que existia um peso espiritual sobre aqueles discípulos, não muito diferente do combate espiritual que vivemos hoje. A você que veio aqui e que está em casa, eu digo: nós não podemos nos dispersar e perder o foco! Precisamos ser um povo atento e vigilante.

Por causa do secularismo e do laicismo, que são disseminados por tantos meios, nós nos dispersamos, muitas pessoas perderam até o respeito pela Semana Santa. Conheço um amigo que trabalha para um protestante e que estava com o coração ferido porque, depois de 25 anos, teve que trabalhar pela primeira vez durante a Sexta-feira Santa. Nós temos deixado de nos entregar à oração, estamos num torpor diante daquilo que cremos e professamos. Muitos católicos que se dizem praticantes foram para a praia viver a Semana Santa. Nós deixamos de viver o mistério e a expectativa da ressurreição. Deixamos de saborear a mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Estamos na mesma condição desses discípulos que cederam à carne, se dispersaram e não foram com Jesus até o momento da dor. Apesar de o Senhor tê-los alertado sobre o caminho da cruz, eles ainda não sabiam ao certo, existia um ponto de dúvida se Jesus era realmente o Messias, porque ali Jesus estava numa situação de aparente derrota. “Como o Messias seria uma pessoa que não tinha nem a aparência humana diante de Seu sofrimento?” Talvez os discípulos esperassem algo mágico ou poderoso, mas não; Jesus permanecia em silêncio.

Se você estivesse na pele de Pedro, de Tiago e de João, você enfrentaria esta situação? Quem aqui já viveu o silêncio de Deus? Você pede, pede e pede e Deus continua em silêncio, principalmente no momento da dor e da dúvida. Mas é um aparente silêncio, uma aparente “não resposta” que prova a nossa fé. E, muitas vezes, nós abandonamos o silêncio e, junto com ele, a nossa fé, para procurar o ocultismo ou até mesmo a teologia da prosperidade.

Nós só conseguiremos nos manter de pé diante do Senhor se estivermos vigilantes e firmes na oração.

O que dizer diante do sepulcro de Alguém que veio para fazer o bem, mas que agora está aparentemente “destruído”? O sentimento que fica é de tristeza, solidão, angústia, porque não estavam entendendo o plano de Deus. Parecia que todas as promessas e tudo o que eles viram e ouviram estava silenciado num sepulcro. As multidões, os milagres, as palavras, os sinais, tudo estava silenciado num sepulcro!

Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia (Mateus 16, 21).

Contudo, o Senhor já havia lhes anunciado tudo o que iria sofrer. Mais de uma vez os discípulos escutaram da boca do próprio Jesus sobre tudo o que aconteceria com Ele, tudo o que estava previsto. Então o que lhes faltou? Faltou-lhes vigilância, faltou-lhes a oração, porque a frustração cegou a fé dos discípulos.

Durante nove meses meu pai ficou em cima de uma cama por causa do câncer. Há quase um mês meu pai foi chamado por Deus. E o que aconteceu nesses nove meses de sofrimento em que eu clamei ao Senhor que operasse o milagre? Silêncio. Eu rezava e só recebia notícias ruins por parte dos médicos. É fácil viver o silêncio de Deus? Não, mas quem tem fé sabe que a vontade de Deus é sempre o melhor para nossa salvação.

Deus não estava parado naquela situação de morte, Ele desceu à mansão dos mortos. O Senhor não está dormindo no dia de hoje, Ele está fazendo aquilo que professamos na oração do Creio: “Cristo desceu à mansão dos mortos”.

Este silêncio não é um silêncio paralisador, mas um silêncio que restaura e nos devolve a nossa identidade.

Hoje, neste Sábado Santo, eu quero assumir que eu estou na “mansão dos mortos”, mas que neste silêncio Deus está descendo à situação em que eu me encontro para devolver a beleza da santidade e da restauração. Se você está nesta “mansão dos mortos”, à espera de uma luz, esteja certo de que Deus desce aí onde você está e diz: “Desperta-te, tu que dormes, e levanta dentre os mortos!”. Sim, Deus está, pelo poder da ressurreição de Jesus, o tirando da situação de morte e de sono.

E a vigília pascal vai ser a grande tomada de posse desta certeza: que Deus morreu por mim e que, mesmo passando pelo vale tenebroso da morte, eu vou continuar esperando, porque o silêncio de Deus é trabalho, é movimento, é restauração, é vida e eu quero experimentar.

Nós temos que ter uma postura: a postura de filhos conquistados e restaurados pela Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Põe-te de pé, porque Cristo te iluminará!

Transcrição e adaptação: Daniel Machado

 

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