A Graça e as graças de Jesus

Padre Duarte Lara

A graça é uma participação na vida de Deus

Padre Duarte Lara Foto: Rogéria Nair/cancaonova.com

O tema desta pregação é “A Graça e as graças de Jesus”. É preciso entender que “uma única letra” faz toda a diferença. Graça e graças não são a mesma coisa. Para refletirmos sobre isso, vamos ler essas duas passagens bíblicas:

“E vós outros estáveis mortos por vossas faltas, pelos pecados que cometestes outrora seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar, do espírito que agora atua nos rebeldes. Também todos nós éramos deste número quando outrora vivíamos nos desejos carnais, fazendo a vontade da carne e da concupiscência. Éramos como os outros, por natureza, verdadeiros objetos da ira (divina). Mas Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em consequência de nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos! -, juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, com Cristo Jesus. Ele demonstrou assim pelos séculos futuros a imensidão das riquezas de sua graça, pela bondade que tem para conosco, em Jesus Cristo. Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus. Não provém das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2,1-9).

“Esta é a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo, para todos os fiéis (pois não há distinção; com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus), e são justificados gratuitamente por sua graça; tal é a obra da redenção, realizada em Jesus Cristo” (Romanos 3,22-24).

São Paulo nos ensina uma verdade de fé: todos nós somos salvos pela Graça de Deus. Infelizmente, hoje, pouco se fala da Graça de Deus. E ela é algo essencial para a nossa salvação.

O Papa Francisco tem nos alertado sobre duas heresias. A primeira é o pelagianismo, no qual o homem pensa conseguir a salvação unicamente pelas próprias forças. A outra é o gnosticismo, no qual o homem pensa conseguir a salvação tão somente por meio do conhecimento. O que salva o homem é a Graça de Deus transmitida a nós pelos sacramentos da Igreja.

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O pecado nos separou de Deus, nos afastou da comunhão com o Senhor, nos fez perder a Graça divina. E o que o apóstolo ensina nessas duas passagens é que o homem não consegue restabelecer, pelas próprias forças, essa amizade com Deus. Portanto, não existe uma “autossalvação”. O homem precisa de Jesus como seu Salvador, pois não há ninguém que, por si só, consiga libertar-se do pecado. Sem Jesus é impossível vencer o pecado.

A palavra “graça”, no grego, significa cháris; e é a mesma raiz da palavra caridade e da palavra carisma. Interessante isso, não é mesmo?

Ensinamento do Catecismo da Igreja Católica sobre a Graça

E como o Catecismo da Igreja Católica define a Graça de Deus? Para a minha surpresa, encontrei cinco definições no Catecismo. Veja:

1º – A graça é, antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica (CIC, nº 2003).

2º – A graça é o favor, o socorro gratuito que Deus nos dá, a fim de respondermos ao seu chamamento para nos tornarmos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina e da vida eterna (CIC, nº 1996).

3º – A graça é uma participação na vida de Deus (CIC, nº 1997).

4º – A graça de Cristo é dom gratuito que Deus nos faz da sua vida, infundida pelo Espírito Santo na nossa alma para a curar do pecado e a santificar (CIC, nº 1999).

5º – A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural, que aperfeiçoa a alma, mesmo para a tornar capaz de viver com Deus e de agir por seu amor (CIC, nº 2000).

A Graça de Deus nos torna capazes de fazer as coisas mais simples da vida em Deus e por Deus, por isso, é chamada de graça santificante. Se você quer ser santo, não precisa fazer coisas complicadas, mas precisa viver uma vida de comunhão íntima com Deus.

Graças sacramentais, especiais e de estado

Agora quero falar sobre as graças que são chamadas de graças atuais. Elas são diferentes da Graça de Deus que refletimos até agora. Um exemplo dessa graça atual é a cura de um vício. E Deus pode conceder essas graças até mesmo para quem vive em pecado, pois Deus ama a todos os seus filhos.

Vamos retomar o número 2003 do Catecismo da Igreja Católica para compreender mais a fundo sobre essas graças atuais:

A graça é, antes de tudo e principalmente, o dom do Espírito que nos justifica e nos santifica. Mas também compreende os dons que o Espírito nos dá, para nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar na salvação dos outros e no crescimento do corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, também chamadas «carismas», segundo o termo grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício. Qualquer que seja o seu carácter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja.

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Daí compreendemos que quando somos curados por Deus, Ele o faz em vista da graça santificante. E o número 2004 do Catecismo da Igreja também nos ensina o seguinte:

Entre as graças especiais, devem mencionar-se as graças de estado, que acompanham o exercício das responsabilidades da vida cristã e dos ministérios no seio da Igreja.

Por exemplo, você que é casado, pelo seu estado de vida você recebe uma graça de estado que santifica sua vida e a vida do seu cônjuge. Nossa fidelidade a Deus em nosso estado de vida é duramente provada, mas é preciso entender que essa graça de estado vem em nosso auxílio. Portanto, nada de medo! É preciso lutar e permanecer fiel ao seu estado de vida até o fim.

A maior graça é permitir que Deus entre em nossa vida

Quando venho para um evento como esse, vejo muitas pessoas vindo dos lugares mais distantes deste país, porém, preciso alertar que, muitos, infelizmente, vêm atrás somente das graças, ou seja, da própria cura e libertação, mas não vêm atrás da Graça de Deus. Isso requer de nós uma profunda conversão!

Precisamos pedir ao Senhor que coloque dentro do nosso coração cada coisa no lugar certo. Não é pecado procurar as graças de Deus, mas, em primeiro lugar, é preciso buscar o próprio Deus e o resto vem depois.

A maior graça de um encontro como esse é você voltar para sua casa tendo recebido a Graça de Deus na sua alma, é sair do pecado, é buscar uma confissão sincera e completa. Isso permite Deus entrar na sua vida. E você volta para o seu lar sendo um sacrário vivo, lugar onde se encontra esse Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.

Vamos rezar juntos a seguinte jaculatória que nos centra na importância de se viver na Graça de Deus: “Virgem Maria, não permitais que eu viva nem morra em pecado mortal. Em pecado mortal não hei de viver nem morrer, porque a Virgem Maria me há de valer!”.

Se, por acaso, você se encontra em pecado mortal, busque urgentemente o Sacramento da Confissão. Jamais se acostume com o pecado, meu irmão! E não tenha medo de “incomodar” o padre, porque ele é padre exatamente para isso: ser ministro da reconciliação com o Senhor.

Nossa Senhora tem repetido, incansavelmente, nas suas aparições sobre a necessidade da Confissão frequente. Quem se confessa com frequência, normalmente, não tem pecado mortal, pois, na Confissão, encontramos o remédio para vencer as batalhas do dia a dia.

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Transcrição e adaptação: Alexandre Oliveira


Alexandre Oliveira

Membro da Comunidade Canção Nova, desde 1997, Alexandre é natural da cidade de Santos (SP). Casado, ele é pai de dois filhos. O missionário também é pregador, apresentador e produtor de conteúdo no canal ‘Formação’ do Portal Canção Nova.

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