Declaração da CNBB sobre o momento eleitoral

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou recentemente o documento \”Eleições 2006\”. Nele oferece propostas para um projeto de Nação e para a escolha de candidatos/as, baseada em pressupostos éticos. Insiste nos ensinamentos da Doutrina Social da Igreja, cujo fundamento é a dignidade da pessoa humana que norteia a perspectiva de uma sociedade alicerçada na justiça. Enfatiza a dignidade da política como forma sublime do exercício da caridade e como prática da ética pública que não suporta a corrupção endêmica existente no País.

A ética pública diz respeito não só à superação da corrupção mas, de modo especial, à configuração das relações sociais segundo os princípios da justiça, com oportunidades de vida para todos, especialmente para os pobres.

As complexas questões nacionais não serão resolvidas só com as eleições para preencher cargos previstos na Constituição. Estamos, não obstante, diante de um grande apelo ao depositar na urna o compromisso com o Brasil: eleger candidatos idôneos, capazes de orientar o País para novos caminhos, em resposta às necessidades do povo. O sujeito político é a sociedade que é chamada a atuar eficazmente na política.

Entre as propostas para o Projeto de Nação destacamos: democratizar o Estado e ampliar a participação popular;
rever o modelo econômico e o processo de mercantilização da vida; ampliar as oportunidades de trabalho; fortalecer exigências éticas em defesa da vida; reforçar a soberania da nação; democratizar o acesso à terra e ao solo urbano; proteger o meio ambiente e a Amazônia

As próximas eleições exigem que os Partidos apresentem candidatos competentes e honestos que defendam a dignidade da vida desde a concepção até a morte natural, recusando projetos que visem a legitimar o aborto e a eutanásia. Vote na vida e não na morte!

O atual momento brasileiro pede aos eleitores sério discernimento sobre o perfil ético e a competência dos candidatos a serem eleitos. Atenção aos candidatos, cujas plataformas camuflam interesses particulares, desconsiderando o bem comum! Atenção aos candidatos oportunistas que utilizam as siglas de seus partidos para ganhar eleições! Esses candidatos não têm escrúpulos em reproduzir o esquema da corrupção eleitoral. É necessário desconfiar de candidatos sustentados por campanhas financeiras vultosas que facilitam a compra de votos.

A Lei 9.840 é uma grande ajuda para sairmos do tradicional círculo vicioso da corrupção. Os Comitês locais devem estimular as comunidades a trabalhar de forma organizada e sempre avaliada. As 388 cassações (no Executivo e no Legislativo) já realizadas, a partir da Lei da moralidade eleitoral, mostram sua eficiência.

Urge uma Reforma Política capaz de proporcionar uma estrutura de maior participação popular nas eleições, que controle o poder econômico e bloqueie a corrupção eleitoral.

O grande desafio é alentar a esperança do nosso povo que manifesta desencanto e decepção com a vida política diante dos escândalos largamente divulgados. O desinteresse em participar da construção do Brasil poderá ter sérias conseqüências para o futuro. Confiantes nas potencialidades do nosso País, fazemos o premente convite: vote conscientemente e não anule seu voto! As eleições são uma esperança para a construção de um Brasil melhor. Devemos conhecer candidatos idôneos, com propostas sérias, que mereçam nosso voto.

Estamos conscientes de que o voto-cidadão, com participação popular, é uma das melhores formas de promover políticas públicas a serviço do bem comum. Somos convocados a uma ação política iluminada pela convicção de que o voto é de responsabilidade pessoal de cada eleitor – diante de sua consciência, da sociedade e de Deus -, lembrando-nos de que o \”voto não tem preço, tem conseqüências\”.

As campanhas eleitorais podem contribuir com a construção de um novo modelo de sociedade mediante os debates entre candidatos e eleitores, ajudando a implementar uma cultura política mais solidária para o Brasil.

Muitos desafios envolvem eleitores e candidatos. A desigualdade e a exclusão social, de longa data, constituem o desafio maior. O desemprego continua uma chaga aberta e os trabalhadores sentem-se ameaçados de perder seu trabalho. A violência e o crime organizado crescem. A reforma agrária e a reforma urbana, tão urgentes e inadiáveis, são proteladas.

As causas desses problemas são sobretudo a adoção de iníquas políticas neoliberais que o Papa João Paulo II classificou como \’um sistema apoiado numa concepção economicista do homem\’ (Igreja na América, n.56). O crescimento econômico só tem consistência se vier acompanhado por uma conseqüente distribuição da riqueza por ele produzida.

O Papa Bento XVI, na sua encíclica sobre o amor cristão, nos oferece motivações importantes para a ação política:\’O dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é própria dos fiéis leigos. Estes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública, assumindo funções legislativas e administrativas que se destinam a promover orgânica e institucionalmente o bem comum\'(Deus Caritas est, n. 29).

Deus Pai, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, abençoe o Brasil!


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Fonte: CNBB

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