Esperança: "Às novas gerações nós contaremos..."


A 44ª Assemblléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, de 9 a 17 de maio, tratará da evangelização da juventude. A questão é fundamental para a Igreja, não apenas no Brasil, mas em todo mundo. De fato, a juventude bem evangelizada garante a continuidade na transmissão da fé; e isso é da máxima importância para o futuro da própria Igreja.

É preciso dizer logo que a evangelização da juventude não é tanto um problema dos jovens, mas um desafio e uma tarefa para as gerações adultas. Os jovens de hoje, da mesma forma que os do passado, estão abertos a crer e praticar a fé: eles buscam um sentido para as próprias vidas e continuam aderindo a diversas propostas religiosas, ou a substitutivos para elas.

Assistimos, hoje, a uma grande oferta de opções religiosas para todas as ocasiões e gostos. Já não se apela tanto à verdade de uma proposta, mas insiste-se nos sentimentos e emoções, bem como na eficácia imediata da proposta. As novas gerações defrontam-se com uma variedade de possibilidades e caminhos de experiência religiosa e nem sempre os filhos seguem a fé dos pais. Os jovens ficam, muitas vezes, bem desorientados diante do vedadeiro “mercado religioso” que têm diante de si.

E mesmo os adultos ficam inseguros se vale a pena e, até mesmo, se é justo “ensinar” a própria religião aos filhos; há quem diga que isso fere a autonomia e o direito de livre escolha dos filhos.

Para muitos pais, religião já não é mais assunto que se trate com os filhos; assim o batismo vai ficando para trás e a religião é relegada sempre mais para a esfera privada e subjetiva, na qual cada um faz suas escolhas conforme seus gostos ou conveniências. Ora, gostos e conveniências mudam; assim também se vê como “normal” que as opções religiosas possam mudar. Como se não houvesse outros dados referenciais para a fé e a conduta moral, a não ser o próprio sujeito.

A transmissão da fé aconteceu sempre de maneira muito natural: as mães falavam de Deus aos filhos ainda pequenos, enquanto lhes davam a comida ou lhes ensinavam a falar; contavam as “histórias sagradas”, na medida e no jeito dos pequeninos, e realizavam a sua progressiva inserção na vida eclesial, simplesmente levando-os consigo à igreja.

A catequese acontecia de maneira espontânea e natural, sem parecer um aprendizado intelectual de conteúdos desligados da vida; fazia parte do dia-a-dia e da educação para a vida.

A evangelização da infância e da juventude não depende tanto de estratégias e métodos complicados, ou de decisões da autoridade da Igreja. Bem mais simplesmente, ela requer a convicção e o testemunho de fé das gerações adultas, que sentem alegria em comunicar aquilo que dá força e esperança a elas próprias. Quem gosta de sua fé não deixará de comunicá-la.

Era assim que faziam os patriarcas e profetas, antes de Cristo: “Uma idade conta à outra as vossas obras e publica os vossos feitos poderosos; de vossa imensidade todos falam e exaltam, ó Senhor, vossa justiça” (cf. Sl 144[145], 4-7).

Os pais narravam as obras de Deus e falavam do exemplo dos patriarcas aos filhos, aos netos, às jovens gerações, aos estrangeiros… Era um privilégio, ao qual os adultos não renunciavam: “Tudo o que ouvimos e aprendemos, aquilo que nos transmitiram nossos pais, não haveremos de ocultar a nossos filhos, mas à nova geração nós contaremos” (Sl 77[78], 3-4).

Se hoje conservamos a fé apostólica, é porque ela nos foi transmitida, geração após geração. Já São Paulo diz a propósito da fé na Eucaristia: “transmiti-vos aquilo que eu mesmo recebi” (1Cor 11,23). Cada geração recebe o patrimônio da fé da Igreja, nutre-se dele, alegra-se com ele e enriquece-o com sua própria vivência e testemunho.

Cada época teve seus mártires e santos, seus grandes teólogos e mestres espirituais, seus pastores e testemunhas da fé, que confortaram e confirmaram os irmãos na fé. E a fé chegou até nós!

Evangelizar os jovens é ajudá-los a se encontrarem com Deus. O papa Bento XVI, na encíclica \”Deus é Amor\”, recorda que a fé cristã é a resposta humana à experiência pessoal do amor de Deus, revelado a nós por Jesus Cristo. Esse encontro pessoal e vivencial, desperta a fé, forma o discípulo e motiva o missionário. E depois, uma vez evangelizados, os jovens serão missionários de outros jovens. Um dia, falarão de sua fé aos filhos, aos netos, aos não-crentes… e o processo de transmissão da fé continuará. Como sempre foi.

D.Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de S.Paulo
Secretário-Geral da CNBB

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