Nada nos desarma tanto quanto o amor

Padre Adriano Zandoná prega na Canção Nova. Fotos: Wesley Almeida/ CançãoNova.

Padre Adriano Zandoná. Fotos: Wesley Almeida/ CançãoNova

Nada nos desarma tanto quanto o amor. Às vezes, quando você chega num local temeroso, ansioso, com medo de não ser bem recebido, nada te desarma tanto quanto o amor. Você pode ter ido a um lugar que você não se sentiu à vontade, pode haver caminhos dos quais você se arrepende te ter escolhido, mas saiba que hoje Deus está lhe oferecendo um olhar de amor. Ele não se importa por onde você tenha andado, mas hoje Ele te acolhe com amor, com perdão, e te diz: “Eu te amo meu filho, minha filha”.

A vida nos exige, nos cobra. E isso vai fazendo com que não sejamos acostumados a receber um olhar de compaixão, de misericórdia. O mundo, o trabalho, até os membros da sua família podem cobrar de você e podem ver o seu pior. Mas Deus está te olhando do jeito que você está e te ama com suas limitações e imperfeições. Deu não te ama pelo que você faz, mas pelo que você é. Não há lama no mundo que impeça uma mãe de beijar o seu filho, ainda que ela fique suja de lama também. É assim que Deus acolhe a mim e a você.

Precisamos fazer uma experiência com o amor de Deus, esse amor Ágape, livre. Se você quiser estabelecer relacionamentos que não exijam cobranças, deixe-se primeiro ser tocado pelo amor de Deus. O que nos impede de amar são nossas feridas. A partir do momento que você se permite ser amado por Deus, esse amor te cura para que você saiba amar da maneira correta. Mas não espere estar melhor para amar, ame do jeito que você está. Nada impede seu coração de amar com generosidade. O seu coração ganha asas quando você se decide por amar.

E o que é, de fato, amar? Amar é como o nadar, por exemplo. Você aprende a nadar, nadando! O medo não pode te impedir, senão você não nada. Amar é assim: você aprende amar, amando. É na prática. É claro que, quando você aprende a nadar, você engole água. Assim também é o amor. O melhor jeito de amar é o seu, portanto, ame até doer. Ame com gestos, com o olhar, com sorriso. Se o corpo fica preso pela dor, o amor pode dar asas e libertá-lo. Foi assim que Jesus nos amou na cruz.. Ele estava lá, humilhado, rejeitado, abandonado, nú. Mas, mesmo assim, Ele olhou para o céu e pediu “Pai, perdoai-lhes”.

Com certeza, você já deve ter ouvido esta parábola dos talentos. O servo que não multiplicou o talento foi movido pelo ressentimento e pela inveja (pois ele recebeu apenas 1 talento, enquanto os outros 2 servos receberam mais). E o ressentimento e a inveja acarretaram na acomodação. A acomodação é um pecado grave, pois não importa qual seja a situação, o problema, o obstáculo, o que importa é o que fazemos diante disso. Há sofrimentos que já aconteceram, mas que nós deixamos que essa dor ainda hoje nos escravize, nos paralise. Por isso, Deus está nos falando: não seja um preguiçoso! Não seja acomodado! Não se torne vítima da sua história! As feridas de ontem não podem limitar um coração que decide voar através do perdão e do amor.

"Deu não te ama pelo que você faz, mas pelo que você é", afirma padre Adriano Zandoná. Fotos: Wesley Almeida/CançãoNova

“Deus não te ama pelo que você faz, mas pelo que você é”, afirma padre Adriano Zandoná. Fotos: Wesley Almeida/CançãoNova

Santo Agostinho tem uma frase belíssima: “Se você não quer sofrer, então não ame. Mas se você não quer amar, então para quê queres viver?”. É o amor que dá sentido para a nossa vida. Eu e você temos essa capacidade, mas muitas vezes os talentos estão enterrados embaixo da nossa acomodação, dos nossos medos, dos nossos receios. Deus te deu uma família, um emprego, uma profissão e tantos outros talentos. O que eu e você temos produzido com os talentos que Deus nos deu na vida? Nós temos transformado os dons que Deus nos deu em dons de amor, em oferta aos outros? O que temos feito? Tudo o que temos, vai passar…

Na homilia que o Papa Francisco fez no dia 09 de janeiro de 2014, ele fala sobre o amor cristão que se manifesta na concretude e na generosidade. Portanto, é um amor que está mais no dar do que no receber, está mais nas obras do que na fala. O amor cristão tem sempre uma qualidade: a concretude. O amor é concreto. Primeiro critério para exercer o amor ágape: amar com as obras e não com as palavras.

Eu preciso usar o que Deus me deu para fazer o bem concretamente. Muitas vezes, nós esperamos ocasiões extraordinárias para amar e fazer o bem, mas Deus quer que concretizemos nossos dons nas coisas simples do dia a dia. Também com gestos e obras de caridade com desconhecidos, mas sobretudo com aqueles que estão mais próximos de você, na sua casa. É comum nos prendermos nos defeitos do outro ou naquele pecado que a pessoa cometeu há anos… mas o amor quer contar com o santo esquecimento. A nossa vida não melhora porque muitas vezes não queremos esquecer, perdoar de verdade. Precisamos decidir virar a página! Sei que há coisas que doem dentro da gente e que continuam doendo… mas peça a Deus a graça de você fazer uma experiência com o amor Ágape de Deus, para que você seja curado e páre de ser escravo do ressentimento.

O egoísta nunca entende o que é o amor Ágape e nunca vai ser curado por esse amor, porque quem não sabe dar, nunca vai saber receber. Portanto, não saberá receber o amor de Deus aquele que só quer receber. Uma pesquisa no Brasil revelou que, nos casamentos, quase 75% das mulheres não tinham vivido o prazer sexual ao longo dos anos. Isso porque os homens foram tão egoístas, que apenas pensaram neles mesmos e no seu próprio prazer. O sentido do casamento não é eu usar o outro, mas eu me dar inteiramente ao outro a ponto de fazê-lo feliz em vários aspectos, até que eu mesmo fique feliz. Quem afirmou isso foi essa pesquisa, que nem tem origem cristã. O amor é a única coisas que pode humanizar a sexualidade. Sexo sem amor é animalesco. O que é o amor senão essa capacidade de pensar no outro, de ser generoso? As pessoas acham que são livres, mas estão cada vez mais escravizadas pelos seus instintos.

"Nós temos que transformar o que somos em dom para o outro", disse padre Adriano Zandoná. Fotos: Wesley Almeida/CançãoNova

“Nós temos que transformar o que somos em dom para o outro”, disse padre Adriano Zandoná. Fotos: Wesley Almeida/CançãoNova

Outra pesquisa detectou que as pessoas que mais se realizam são aquelas que, com seu trabalho, fazem o bem ao outro; e não aquelas que mais ganham dinheiro. Em tudo o que você fizer, você pode fazer do seu talento um dom de amor. Seja um profissional honesto, que não dá jeitinho brasileiro, assim você já estará multiplicando seus talentos.

As palavras convencem, mas somente os exemplos têm o poder de arrastar multidões. Trate as pessoas com humanidade. Não são coisas extraordinárias, respeite as pessoas que trabalham com você, trate você mesmo com respeito, com generosidade. Não se torne escravo do trabalho. Permita-se fazer algo diferente, cuide de você, perdoe a você mesmo, tenha momentos em que você não faz nada. E principalmente: não se culpe pelos erros de ontem, Deus te olha com misericórdia.

Nós temos que transformar o que somos em dom para o outro. Nada pode impedir você de amar, nem suas limitações ou imperfeições. Ilumine as trevas que existem no seu trabalho, na sua casa, nas situações da vida com o seu amor. Transforme seus talentos em amor.

Transcrição e adaptação: Aline Carbonari Krachevski

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