A Festa da Misericórdia é um convite para quebrar o nosso pedestal

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Padre Fábio de Melo. Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Só aquele que desce no fosso das suas misérias é capaz de encontrar-se com Deus

Este Evangelho é tão confortável para nós, porque aqueles que duvidam do Senhor também têm um espaço quando fazem da sua dúvida um degrau para subir. Quem tem um pouco de Tomé? Eu tenho. Quantas vezes eu rebaixo a minha fé e as questões materiais dela! O que eu sei é que, nesta imaterialidade, encontro um chão firme, onde coloco os pés mesmo sem saber. A fé é isso, eu coloco os pés e Deus coloca o chão. Eu assumo que trago Tomé dentro de mim, mas quero viver a mesma coisa que ele viveu.

Hoje, a palavra de Tomé é concreta. Uma palavra de alguém experimenta concretamente ao dar um passo e aproximar-se de Jesus. A fé é processual e exige que vivamos essa maratona todos os dias. Concretamente, quando o Ricardo Sá, em sua pregação, falava que o coração humano se equivoca para dar pequenos passos, é verdade.

Muitas vezes, ficamos privados e não fazemos a experiência com o Senhor, porque ficamos parados. Se você acha sofisticado crer na ressurreição, você ainda não sabe o quanto é sofisticado  crer na misericórdia. Como Tomé, nós precisamos querer tocar o Senhor, e não fingirmos ser santos. Precisamos dizer ao Senhor: “Se eu não vir e não tocar, eu não acredito”. É preciso que você tenha a coragem de viver um pouco o que Tomé viveu. Não podemos oferecer a Deus a mentira, mas a nossa verdade.

Ricardo Sá dizia que a fé na devoção a Jesus misericordioso nos inspira um jeito de viver. Eu não tenho o direito de dizer que sou filho dessa devoção se simplesmente leio o Diário de Santa Faustina ou porque fui à Polônia, se eu não arrancar os pecados de minha alma.

A mística da Ressurreição é maravilhosa, porque, no primeiro momento, vivemos a ausência. Eu não vi materialmente o Senhor como Madalena e Paulo O viram.

Eu creio na Ressurreição, mas não tenho nenhuma prova material disso. Nós não cremos na Ressurreição de Jesus por uma prova material, mas pela presença viva de Cristo no meio de nós.

Quanto tempo dura em nós um dia? Eu não sei. Talvez a morte de um filho nunca acabe dentro de você. Quanto tempo durou a morte de Jesus no coração de Pedro? Eu não sei.

Nós chegamos ao Dia da Misericórdia, quando é o momento de dizermos: “Eu creio no Ressuscitado e ofereço o meu corpo, o meu coração e a minha família para que Ele aja em mim”. A Festa da Misericórdia só tem sentido se voltarmos para casa misericordiosos.

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“Às vezes, nós não encontramos Deus, porque só O buscamos nas alturas, mas Ele está na humildade”, afirma padre Fábio. Foto: Wesley Almeida/cancaonovacom.

 

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Antes de querer trazer o seu marido à Festa da Misericórdia, leve a ele a misericórdia que você experimentou. Essa festa nos ensina que Deus é amor e que não temos o direito de sermos filhos da maledicência. Não se chega à experiência da misericórdia do Senhor sem antes pisotear o coração mesquinho que temos. Não se chega à misericórdia do Senhor se antes não domarmos o temperamento que nos destrói e quebrar o pedestal que nos sustenta. Nesta festa, nós podemos ver que não somos melhores que os outros e não temos o direito de humilhar os que estão no pecado. Procure na Bíblia se há algum momento em que Jesus humilha alguém que tenha pecado. Se Ele não fazia isso, quem somos nós para fazer?

Não fique iludido com as coisas grandes, porque o que nos salva é tão miudinho que pode passar despercebido aos nossos olhos.

O primeiro passo é acreditar que não estamos perdidos para dar o primeiro passo. A Festa da Misericórdia é a festa dos miseráveis. Mas, por favor, retire o salto alto da sua alma. Só aqueles que descem no fosso das suas misérias são capazes de se encontrar com Deus. Às vezes, nós não encontramos Deus, porque só O buscamos nas alturas, mas Ele está na humildade.

Não importa o posto em que estamos, o que vai nos salvar é o tanto de vezes que olhamos Deus nos olhos.

São Francisco era um jovem que tinha todas as oportunidades, mas ele decidiu descer para encontrar-se com Deus. Francisco foi atrás dos miseráveis. O que nos salva é o amor que realizamos. O ódio está cada vez mais socializado entre nós, estamos nos acostumando com o ódio e as ofensas. Um coração que quer ser misericordioso precisa viver, todos os dias, tudo aquilo que o faz misericordioso.

Papa Francisco está fazendo uma revolução silenciosa na Igreja, de olhar nos olhos daqueles que estão esmagados pela humanidade. Sejamos honestos, não cuidarmos da nossa alma e dos nossos comportamentos é uma “safadeza” só. Se não nos deixarmos olhar por Deus nem nos olharmos, nos tornaremos um trapo da noite para o dia.

Eu não sei onde você está, nem em qual ponto desta caminhada de Tomé até Jesus. Pode ser que você esteja na minha frente ou eu um pouco mais à frente, mas o lindo é que nós não estamos em uma fila que um vai na frente, mas todos do mesmo lado, onde um pode olhar para o outro e se ajudar.

Quando fazemos bem a alguém, nós repercutimos Deus sem alardes. Saiba que a melhor coisa que você pode fazer a um ser humano está nas miudezas do dia a dia.
Nós já estamos no tempo da prorrogação. Quanto tempo você vai viver para alcançar Jesus? Eu não sei quanto tempo falta, mas o que sei é que o tempo não espera ninguém. Ponha o seu coração para bater mais forte, rompa as mágoas! Jogue fora tudo aquilo que, dentro de você, não serve para mais nada! Acelere este tempo dentro de você para que tenha condições de se aproximar de Cristo.

As catedrais lindas estão aí para nos fazer rezar e nos levar a Deus, mas é dentro do nosso coração que precisamos fazer uma capelinha que nos aproximará d’Ele.

Você sabia que santidade tem odor? Eles falam que santo você percebe de longe que é santo. Qual é o cheiro que você exala da sua vida? Você já viu uma casa que há muito tempo está fechada? Fica embolorada. O que causa este bolor é a arrogância, o apego aos cargos. Lembre-se: o odor que vai atrair o outro e o convencer da misericórdia de Deus é a nossa vida. Na dinâmica do dia a dia, viva a Festa da Misericórdia. Esta festa não pode acabar.

Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio.

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