A Virgem Maria e o Ecumenismo

Padre Albertine
Foto: Flávio Pinheiro/CN

Maria, quando bem interpretada na doutrina, nunca é ponto de desunião, mas de verdadeira união. Vemos muitas Igrejas cristãs que não reconhecem o papel de Maria, que não olham Maria na função que ela de fato exerce no meio de nós cristãos. Olhando para o verdadeiro papel dela é que podemos de fato perceber também o nosso papel de cristãos.

É preciso que olhemos com muito amor e carinho para Maria, e aprendermos de fato o que ela quer ensinar a nós, porque sabemos que Jesus tinha um grande desejo, e na sua oração Ele dizia: “Pai que todos sejam um”. E hoje infelizmente vemos tantas comunidades religiosas que buscam o caminho de Jesus, mas entre si não estão vivendo em harmonia, e criticam um ao outro. E o que Jesus nos pediu é que encontremos juntos o caminho da salvação.

Olhando para a história da Igreja, nós vamos entender um pouco algumas questões na doutrina de Maria e quais os caminhos que devemos tomar para que o desejo e a oração de Jesus aconteça entre nós. E com certeza o Pai já esta concedendo esse desejo ao seu filho Jesus, e aos poucos nós cristãos estamos buscando a verdade, e esta unidade que é tão importante para a nossa salvação.

Olhando a evolução da doutrina de Nossa Senhora, nós vamos entender de fato que na pessoa de Nossa senhora vamos encontrar quatro verdades de fé, que foram colocadas ao longo da história para podermos entender o mistério do papel de Maria, e o que ela representa a nós cristãos.

No ano de 451, no Concilio de Éfeso, Maria foi declarada Mãe de Deus. Depois de muitos estudos, debruçando sobre a Palavra de Deus, sobre a Tradição da Igreja e o Magistério, percebeu-se: de fato Maria é mãe de Deus. Isto é verdade de fé.

No ano de 649 na Basílica de Latrão, se declarou Maria sempre Virgem. Antes, durante e depois do parto. Esses dois dogmas da Igreja antiga permanecem fiéis e nos ajudam a caminhar.

No ano de 1854, ela foi reconhecida como a 'Imaculada Conceição'. Ela ficou livre do pecado original. Depois de muitos estudos, de muita dedicação à Palavra de Deus, nós encontramos esta verdade de fé: Maria é a Imaculada Conceição. Nela não existe o pecado original. Depois em 1950, foi declarada a Assunção de Maria. Ela foi elevada aos céu em corpo e alma.

Ela que é filha de Deus Pai, mãe de Deus Filho e esposa do Espírito Santo.

Os caminhos da Igreja, neste dois primeiros dogmas, pertencem a toda tradição cristã, porque não havia divisão na Igreja, apenas depois da Reforma Protestante.

O jeito de reconhecer Maria nas diversas tradições vão mudando, mas vemos que até 1500, até a Reforma Protestante, o papel de Maria era interpretado de uma única forma.

I Congresso Mariano na Canção Nova
Foto: Flávio Pinheiro/CN

Maria tem o papel muito importante. Como gostamos de lembrar no Evangelho nas bodas de Caná. Ela não espera apenas que peçamos, ela conhece quando o filho precisa de alguma coisa. Maria olha assim para nós, como mãe, e intercede por nós. Este é o papel de Maria na nossa história, porque ela não espera que peçamos a ela, mas se antecipa e pede, roga ao Filho por nós. Se não pedimos, ela intercede e se pedimos, ela intercede mais ainda, porque é nossa mãe e porque nos ama.

Porque é tão diferente o nosso olhar para Maria de como os nossos irmãos protestantes a olham?

Enquanto interpretamos a nossa fé através da Palavra, do Magistério da Igreja, na sua Tradição, nós temos estas diversas fontes, na Teologia. Nós temos um amplo olhar sobre Maria, enquanto os nossos irmãos não tem um Magistério para ajudá-los a interpretar, e eles ficam com a simples Maria de Nazaré, porque a olham através da Palavra sem um grande aprofundamento, olham a letra mas não buscam a profundidade.

A nossa fé nos ajuda a encontrar as graças e as bênçãos de Deus. E algo que ninguem pode negar é que Maria é o sinal da passagem da antiga para a nova aliança. Quem é Maria? É a mulher que nos une, é a mulher do sim, aquela que fez a vontade de Deus. Se queremos seguir Jesus precisamos olhar para Maria.

Maria é transparente, ela nunca é obstáculo, mas nela contemplamos Cristo. Olhamos para ela, e dela recebemos o ensinamento de Cristo. Maria nos deixou um mandamento: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Seguindo o mandamento de Maria não temos medo e não há nenhum perigo de nos afastarmos de Jesus.

Ser cristão é ser transparente é deixar Deus transparecer em nós. Esse é o cristão que busca verdadeiramente Jesus.

Muitas vezes vemos muitos maldizendo e zombando do nosso amor a Maria. Parece até que Maria é alguém apenas para os católicos, mas não é verdade, encontramos Maria na vida de todos.

'Lutero conservou-se fiel a Nossa Senhora, conservou a sua devoção.'
Foto: Flávio Pinheiro/CN

Encontramos Maria nos fundadores do protestantismo: Lutero, Calvino e John Wesley. Encontramos neles, em seus estudos, uma profunda mariologia.

Quero trazer algumas frases destes fundadores, o que eles falavam de Maria.

Lutero, o mais conhecido mestre da reforma, nunca abandonou Maria. Ele se fez padre por causa de Maria. E mesmo depois da separação, ele se apegou profundamente a Maria. Eles conservaram muitas tradições onde os seu continuadores não levaram à frente.

Ele nunca rejeitou Maria, e disse que quem a nega não é cristão. Nos seus escritos encontramos que quando diz na Palavra 'os irmãos de Jesus', quer dizer primos parentes. No seu calendário luterano, até hoje existe três festas de Maria: A festa da Anunciação e encarnação, a festa da visita de Isabel e a festa da purificação de Nossa Senhora. E isso se conserva até hoje.

Ele tem um comentário belíssimo, sobre o Magnificat. Lutero diz: "Oh bem aventurada Mãe, Virgem digníssima, recorda-te de nós, obtém que também em nós o Senhor faça essas grandes coisas". Lutero fala também da virgindade de Maria. Quando Mateus fala da concepção de Maria e diz que depois Maria co-habitou com José. (Evangelho de São Mateus 1) Diz Lutero: Depois dessas Palavras não se deve crer nem dizer que houve consórcio conjugal, não se deve crer e nem dizer isso, porque Maria permanece virgem.

Os irmãos, mencionados nos evangelhos, são parentes do Senhor, isso Lutero escreve quase no final de sua vida.

No ano de 1546 num sermão onde ele estava muito agitado, ele falou fortemente assim: “Se deve adorar somente a Cristo, mas não se deve honrar a Santa mãe de Deus? Esta é a mulher que esmagou a cabeça da serpente. Ouve-nos pois o Filho te honra. Ele nada te nega". Lutero conservou-se fiel a Nossa Senhora, conservou a sua devoção.

Calvino, aceita Maria como Mãe de Deus, ele sustenta a virgindade de Maria, e como Lutero, ele também diz que os irmãos citados no Evangelho são parentes de Jesus. Ele diz que professar o contrário (dizer que Maria teve mais filhos) é ignorância, é louca sutileza e abuso da Sagrada Escritura.

Nós temos esta graça, e outra coisas bonitas que encontramos em outra religião que não aceitam Jesus como Deus, mas que tem uma profunda devoção pela Virgem Maria, falam da sua concepção virginal, falam do papel de Maria, onde ela é a única mulher citada no Alcorão do islamismo.

A Palavra de Deus nos revela a grandeza de Maria a mãe de Deus e nossa mãe. Ela se faz presente em nossa vida, se faz presente na vida de cada um de nós para que encontremos o sentido da nossa vida. Ela como mãe intercede por nós.

Transcrição e adaptação: Célia Grego

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