Decidir pelo amor, não pelas feridas

Padre Eliano
Foto: Wesley Almeida/Fotos CN

Jesus argumenta acerca do testemunho, essa é a palavra central nesse Evangelho. O Senhor contempla a incredulidade dos judeus que distorcem as Escrituras em benefício próprio e rejeitam o anúncio d'Ele.

Mas toda essa exortação é proclamada para a salvação. Porque Jesus veio para nos salvar e não para nos condenar. Essa luz e verdade, que é proclamada, é para nos salvar. Mesmo que exista mincredulidade e resistência, Cristo nunca deixa de proclamar a verdade.

Ele poderia ter desistido desses que O perseguiam porque Ele veio para o que era seu, e os seus não O receberam.

Nesta Quaresma, celebramos algo que acontece, se atualiza, se manifesta. É vivo, é vida. Mas para isso, precisamos viver esse tempo de prova e preparação. A experiência cristã nos convoca a essa realidade. Se a Palavra de Deus não permanece em nós fazendo morada, a dureza do nosso interior, as incoerências e insensibilidades não cessam nunca. Eles ouviram a Palavra, mas não buscaram mudança de vida, mas sim, a glória junto aos homens. Até mesmo a Palavra que eles diziam ‘observar’, não estava no profundo do interior deles, não fazia morada neles.

‘Se minha Palavra não permanecer em vós não podereis ser meus discípulos’ (cf. Jo 8,31).
Permanecer, para São João, é experimentar Cristo. É ser verdadeiro discípulo. Morada lembra casa, que lembra intimidade, familiaridade. Aquele que traz a Palavra em seu interior torna-se alguém que tem intimidade com Deus.
Nesta Quaresma precisamos refletir sobre isso. Como está nossa relação com Deus? A Palavra de Deus encontrou morada em nós?

Quando você for se confessar, pergunte-se isso: você quer simplesmente apresentar os pecados ou quer mudança? Só apresentá-los não basta. É preciso querer a mudança, senão, nada acontece. E vai ser apenas mais uma Quaresma.
É preciso disposição para mudar de vida. Pensar em ‘como’ essa mudança vai acontecer de forma prática.

Sem experiência de amor não consigo deixar o desamor. Só existe fidelidade para o coração que ama e se deixa amar por Deus.
A conversão maior é deixarmos todo desamor para assumir Deus que é amor.

Em Êxodo está escrito que trocaram o Deus verdadeiro. E quantos estão adorando seus pecados, suas feridas? Enquanto não aderimos ao Deus verdadeiro, continuaremos perdidos, adorando outras coisas, e não adorando ao verdadeiro Deus, o essencial.

O que é essencial e você tem deixado de lado? Você precisa retornar ao primeiro amor, à primeira experiência. É tempo de voltar.

'O caminho do amor não é o mais fácil, mas é o que nos transforma'
Foto: Wesley Almeida/Fotos CN

No versículo 42, Jesus vai dizer ‘eu sei que não tendes em vós o amor de Deus’. É duro ouvir isso do Senhor, mas Jesus nos fala isso para a salvação. Por mais duro que seja, Ele nos fala para manifestar a salvação.

Quantas vezes acabamos ouvindo aquilo que queremos e não o que precisamos? Precisamos enfrentar as coisas. É no coração que está o centro das decisões, onde acolhemos o testemunho do Senhor. Quem rejeita Jesus, rejeita o Pai. Quem testemunha é o Pai. Não basta ver as obras, ler as Escrituras, é preciso que essa Palavra habite em nós. A Palavra precisa habitar em você para que aconteça a experiência verdadeira com o Senhor.

Mesmo diante da desobediência, o Senhor não desiste de nós. Ele vai manifestando salvação. Ele está à sua espera. É essa a promessa para vivermos essa graça.

Em Êxodo, há também uma exortação de salvação. Moisés é o grande intercessor em favor do povo que peca e nega Deus. Um grupo não aceita a autoridade dele e incentiva o povo à idolatria. Não são poucos que hoje diante das situações da necessidade de esperar abandonam a Deus e buscam as soluções humanas em vez de esperar as promessas de Deus. Jogam as promessas de Deus fora, porque não sabem esperar.

O Reino de Deus só se constrói na paciência. Quem não sabe esperar, erra. Avalie, na sua vida, situações nas quais você cometeu erros, porque não quis esperar. Você se desesperou e errou. Até quando vai ser assim? Até quando vamos ser imediatistas e não vamos esperar no Senhor?

Veja: não era qualquer povo. É o povo que experimentou milagres extraordinários! Não souberam esperar porque é um povo de memória curta. E na ânsia de conseguirmos o que queremos, cometemos grandes erros. Precisamos aprender a esperar. Aprendamos com a Escritura, com o Senhor, a ter um coração paciente. ‘Eu não entendo, mas eu espero’. Preciso saber esperar. Esse povo, logo após a experiência de ser constituído povo de Deus, peca, negando a sua origem, dignidade e aliança com Deus e Suas obras.

Quando não se espera, a rebelião interior e exterior acontece por causa do desespero. No desespero ninguém toma boas decisões. Na tempestade não há outra coisa a fazer a não ser confiar que o Senhor está na "barca". E se Ele ali está não há o que temer. Porque Ele tudo pode. Ele está conosco! É preciso experiência de confiança. Só crescemos na confiança com aquilo que conhecemos. E conhecer é experiência. É saber que o Senhor é íntimo, é próximo.

Eu preciso decidir a vida, além das minhas feridas. Preciso decidir a vida no amor. É isso que Jesus fez todo o tempo. Decidiu além daquilo que lhe fizeram. Mesmo chagado, Ele perdoou, porque decidiu no amor e não nas feridas.

O caminho do amor não é o mais fácil, mas é o que gera redenção e nos transforma.

Transcrição: Nara Bessa

↑ topo