Eucaristia: Presença do mistério Pascal

 

Pe. Fabrício
Foto: Daniel Mafra

Celebrar essa ação de graças é mistério de fé! Falar do mistério da Eucaristia e explicar o mistério desse sacramento não é fácil; algumas palavras podem ser ditas, mas ele precisa ser experimentado.

A grandeza e a dignidade de um tapete confeccionado para a Festa de Corpus Christi são pequenas para falar deste mistério. A teologia, com toda sua profundidade, precisa se dobrar diante do mistério da Eucaristia.

Falar em Eucaristia, hoje, em ação de graças e mistério de fé, é um desafio. A Liturgia hoje nos oferece três momentos, três espaços para falar desse mistério. O que direciona os nossos olhos para o passado, para o presente e o futuro, o que não é separar o mistério, mas abrir caminho para entendê-lo e vivê-lo.

A Liturgia hoje abre os nossos olhos para o tapete estendido ao longo da história, o qual nos traz a Eucaristia nos dias atuais. Na primeira leitura, Moisés provoca a memória do povo para que este reconheça as graças que Deus. A ação de graças só brota da memória daquele que se lembra que já recebeu muito de Deus.

Moisés diz: “Não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair do Egito, da casa da escravidão. Foi ele que fez jorrar água da pedra duríssima, e te alimentou com maná" (Dt 8, 2-3ss), ele recorda o cuidado e a libertação de Deus para com o povo. 

 

A Eucaristia nos faz olhar para a história e ver o tapete histórico do cuidado de Deus. Participar da Santa Missa precisa gerar no nosso coração a alegria e a ação de graças. Só sabe fazer festa quem reconhece o que recebeu. Moisés ensina o povo a celebrar a ação de graças vendo aquilo que já recebeu.

Eucaristia é o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, porém, ela acontece no hoje. A segunda leitura de hoje atualiza esse sacramento. Já não é mais Moisés quem se recorda dele, agora é Paulo que faz isso ao perguntar: “Esse cálice que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? Esse corpo não é corpo de Cristo?” (I Cor 10,16).

Eucaristia une o povo a Deus, e o povo entre si. Tem caráter vertical, mas precisa ter caráter horizontal também e nos unir a nossos irmãos. Já não é mais maná, agora é o Corpo de Cristo; já não é mais água que jorra da pedra, mas o Sangue que jorra do lado aberto de Cristo.

Nossa inteligência precisa se dobrar diante do mistério de Cristo. A Eucaristia faz, da mesa do altar, um calvário, e, ao mesmo tempo, recorda a mesma mesa da Última Ceia. O altar é o lugar da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O sacerdote é o próprio Cristo, que está presente entre nós. Não é teatro, não é brincadeira, não é faz de contas! É o lugar do calvário, aqui e agora! É a hora, é o momento, é presente. Eucaristia não é um ritual vazio e triste.

Este é o momento privilegiado da catequese. Cristo significa e realiza, principalmente, o mistério pascal. Jesus, na vida terrestre, já anunciava esse mistério, o único evento da história que não passa. Eucaristia: Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, que é um momento único e deve provocar em nós zelo maior. Deve provocar também maior amor pelo sacerdote, seja ele quem for.

Por isso a grandeza e a dignidade de um tapete, da liturgia, da música que celebra um momento que não passa. Eucaristia é o momento de olhar para o passado, celebrar o presente e nos provocar a celebrarmos o futuro.

Não é mais Moisés, nem Paulo quem nos provoca, mas o próprio Jesus no Evangelho de João ao afirmar: “A minha carne é verdadeira comida, o meu sangue verdadeira bebida. Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Comungar hoje é um ensaio de vida eterna, de comunhão: eu com Ele, Ele comigo. “Assim aquele que me recebe como alimento vive por causa de mim. Aquele que come da minha carne viverá para sempre”. Futuro escatológico, introdução na vida eterna. Eucaristia nos introduz no céu.

Depois do momento da consagração o sacerdote se ajoelha em adoração ao Corpo de Cristo, quando ele se levanta e diz: “Eis o mistério da fé”, ele não diz: “Eis a explicação da fé”; é mistério! Hoje essa proclamação precisa alargar o seu coração, provocar algo dentro de você ao responder. A resposta sempre faz a junção do passado, presente e futuro: “Anunciamos. Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!

"Comungar é um ensaio de vida eterna e de comunhão com Cristo" afirma Pe. Fabrício
Foto: Daniel Mafra

Quem está na Santa Missa está no calvário, está na Última Ceia. Quando o padre apresenta a você o Corpo de Cristo você responde: “Amém”, que quer dizer: “Eu creio”. Não precisa chamar a atenção querendo beijar Jesus, fazendo poses, isso não importa, o que importa é Jesus em você. A cara com que você vem comungar representa a disposição do seu coração; se você vem com cara de defunto, representa o que está no seu coração.

Não importa quem é o sacerdote nessa hora; ao receber Jesus na Eucaristia, se você muda de fila por causa do sacerdote, você não entendeu nada! A comunhão dada por uma senhora que é ministra da Eucaristia tem o mesmo valor da que é entregue pelo Papa.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz que, em cada comunhão que o cristão recebe, cresce nele a intimidade com Deus. Após a comunhão vamos ficar mais bonitos, mas não por aquilo que é externo, mas pela intimidade com o Senhor.

Missa não é carnaval, nem velório; é louvor e ação de graças. Por isso a cara do cristão não precisa ser cara de carnaval, nem de velório, mas de louvor. O primeiro tapete a ser estendido precisa ser dentro de nós, deixe o seu coração se alargar diante de Deus, deixe o Senhor passar pela sua história e por seu coração.

 

"A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os atualiza, toma-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevém a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério. É a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue” (CIC §1104 e1105). Quando o sacerdote impõe as mãos e ora, o pão se transforma na Carne e o vinho no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando você ouvir hoje: “Eis o mistério da fé”, sua resposta precisa ser diferente. Quando Jesus passar pelo tapete é só um sinal daquilo que já aconteceu dentro de mim e de você. É um sinal de que Ele já entrou em mim e em você.

 

Você duvida que o Espírito é capaz de transformar vinho em sangue e pão e vinho em carne? Saiba que é o mesmo Espírito que pairou sobre a Virgem Maria e fez no ventre dela Jesus corpo e sangue, a sombra das mãos do sacerdote é a mesma sombra que cobriu a Virgem Maria e ela concebeu Jesus” (São João Damasceno)

Diga ao Senhor que você O quer dentro de você, dentro da sua história e daquilo que você já viveu, no passado e presente. Confie a Ele seu futuro também. Renda louvores a Deus por essa presença concreta de céu em cada um de nós. Quando a homilia acaba cessa toda a explicação, mas o discurso do mistério da fé continua nas mãos do sacerdote, que é um homem escolhido para pedir a Deus a efusão do Espírito Santo sobre as espécies. Mistério não se explica, mistério se vive.

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