João Paulo II e Maria co-redentora

Padre Paulo Ricardo
Foto: Daniel Mafra/ CN

É importante desde o inicio compreendermos que não existe nenhuma competição entre Jesus e Maria. Dando amor a Maria, não estamos diminuindo em nada o amor a Jesus.

Quero apresentar a vocês o pensamento de São João Paulo II. Ele teve uma escola de devoção à Virgem Maria, no livro chamado: “Tratado da verdadeira devoção à Virgem Maria”, esse livrinho foi a escola de santidade de João Paulo II. Muitas pessoas encontraram neste santo um farol, um modelo de santidade a ser seguido.

Lembro-me que na época em que João Paulo II estava enfermo eu ficava noites em claro buscando as notícias deste santo, porque eu não queria perder o momento da Páscoa deste santo dos nossos tempos.

Deus tem seus caminhos, ele faleceu no sábado as vésperas do 2º Domingo de Páscoa, Domingo da Divina Misericórdia. Unindo-se assim as duas devoções em um dia só, o sábado que é dedicado a Virgem Maria e o domingo da Misericórdia, Festa instituída por ele a pedido de Jesus a santa Faustina.

O Papa João Paulo II reuniu o maior número de pessoas da história da humanidade, 6 milhões de jovens em Manila nas Filipinas. Ele foi um Papa que nadou contra a corrente. Este homem entregue totalmente a Jesus Cristo se configurou a ele.

No brasão de João Paulo II estavam representados os dois corações que nos amaram. A cruz dourada de Nosso Senhor, que nos amou divinamente com coração humano, e um M de Maria, a co-redentora que nos ama profundamente.

João Paulo II usou essa expressão “co-redentora” sete vezes, vamos explicar. A Igreja viveu um século de ouro da Mariologia. Nunca a Igreja se desenvolveu tanto na Mariologia como neste século. E nesta mesma época aconteceu duas aparições reconhecidas pelo magistério da Igreja, a de Lourdes e a de Fátima.

Existem dois dogmas de Maria nela mesma, de mãe de Deus e da Virgindade perpétua. Porém ainda faltava a parte de Maria para conosco. O que Maria é em relação a nós? Maria é mediadora de todas as graças, todas as graças vem a nós por meio de Maria. Ela participa da redenção, por isso é co-redentora, pois participou da redenção como nenhum outro santo participa.

Maria é membro da Igreja, mas também é mãe da Igreja. Parece contraditório, mas não é. Quando olhamos Maria em relação ao Pai ela é como nós, mas com relação a Jesus ela é mãe, portanto é mais, é nossa mãe.

Durante o Concílio Vaticano II alguns padres queriam essas duas aprovações a respeito da Virgem Maria, como o Concílio era pastoral e ecumênico, não foram aprovados estes dogmas. Depois do Concílio a teologia sobre Nossa Senhora foi diminuindo, até chegarmos a década de 80, em que certo teólogo afirmou que estávamos na “era glacial da Mariologia”. Até vir o Papa João Paulo II, o papa Mariano que quis reacender nossa devoção a Mãe de Deus.

Maria aos pés da cruz, co-redentora. Não há salvação em outro nome a não ser em Jesus Cristo. Quando chamamos Maria de co-redentora não estamos dizendo que ele salvou metade ou 99% da humanidade e Maria salvou a outra parte. Não é isto! Jesus salvou toda a humanidade, 100%.

Deus poderia fazer com que redenção viesse ao mundo por um decreto. Ele poderia nos salvar por um decreto, um estalar de dedos, mas ele não quis fazer isso. Seria humilhante para o homem. O pecado entrou no mundo por um homem e era necessário que o pecado fosse retirado do mundo por um homem.

No início não estava apenas o homem no jardim quando pecaram. Teologicamente, de acordo com os padres da patrística, Jesus é chamado de Novo Adão e Maria Nova Eva, isso é desde o tempo dos Apóstolos. A perdição entrou no mundo por Adão, a salvação entrou no mundo por Jesus. Bem como a perdição entrou no mundo por Eva a salvação entrou no mundo por Maria.

Um anjo visitou uma virgem, prometida em casamento a um homem, quem é esta mulher? Eva. A mulher que foi visitada por um anjo, e este anjo era Satanás e a desobediência entrou no mundo. Anos mais tarde, um anjo visitou uma virgem, prometida em casamento. Quem é esta mulher? Maria que foi visitada pelo anjo Gabriel. E a salvação entrou no mundo.

No céu Deus não poderia padecer, não poderia sofrer uma paixão e morte, porque no céu não se sofre, no céu ninguém morre. Em sua bondade divina, deus quis que Maria colaborasse dando a Cristo o corpo que ele ia sacrificar na cruz.

"Adão era homem e se fez deus. Jesus era Deus e se fez homem"; atesta Padre Paulo Ricardo
Foto: Daniel Mafra/ CN

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Quando Maria vê Jesus morrer na cruz, ela cumpre a profecia de Simeão, que havia dito na apresentação de Jesus no templo que uma espada de dor lhe transpassaria a alma. Imagine a dor do coração Imaculado de Maria o quanto sofreu por seu filho.

Um dia havia uma Virgem ao pé de uma árvore que queria pegar o fruto para si e ser como deus. Assim estavam Adão e Eva, quiseram para si o Dom de Deus, desejaram agarrá-lo para si.

“Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!” Filipenses 2, 6 – 8 Adão e Eva não eram deuses, mas quiseram ser deus. Jesus era Deus e não se apegou a sua condição divina. Adão era homem e se fez deus. Jesus era Deus e se fez homem.

Milhares de anos depois estava a mulher ao pé de uma árvore e lá estava o fruto de seu ventre. Ela não se apegou a ele, ela o deu, o ofereceu. E por essa razão Maria é a nova Eva. Compreendem que Maria não é apenas uma santa da Igreja, existe uma participação qualitativa de Maria na salvação.

João Paulo II com seu brasão, Maria aos pés da cruz, nos convida a voltarmos a fé, a devoção na Virgem Maria. Todos estavam com medo da fé na Virgem Maria, mas o santo dos nossos tempos no chama a reacendê-la.

Deus nosso Pai criador, nos chama a a ser colaboradores de Deus na criação, com os pais que geram seus filhos. Como podemos aceitar com clareza que nós simples humanos somos colaboradores na criação e não podemos aceitar que Deus quis se utilizar da criação, Maria, na salvação?

Assim como a lua não tem luz própria, assim é Maria, ela reflete a luz que vêm de Deus. Ela é como a lua.

Você pode pensar: “Por que não vamos diretamente no sol?”, tudo bem você pode ir, mas cuidado para não queimar a sua retina.

Vamos a Maria primeiro, porque o pecado original nos faz ter medo de Deus, assim como Adão e Eva após o pecado no paraíso; quando Deus desce na brisa da tarde eles tem medo de Deus. Quando nos colocamos debaixo do manto de Nossa Senhora estamos acolhendo a solução que o próprio Deus já nos deu. Na Palavra de Deus diz da mulher grávida, prestes a dar a luz a um filho e a antiga serpente está esperando essa mulher dar a luz a um filho ele está pronto a devorar. Esta mulher é Maria.

Intelectualmente entregamos nossa vida para Deus, mas em nosso coração não. Precisamos entregar a Maria, assim não temos mesmo. Ela é uma mulher pobre e não fica com nada para si, automaticamente entrega a Jesus. Quando entregamos a Maria entregamos nosso coração também.

Intelectualmente eu sei que o amor de Deus é infinito, é perfeito. Mas dentro do coração não compreendermos e isto é consequência do pecado original. Quando entregamos algo a Deus, a cabeça compreende, mas o coração esperneia. Não deveria ser assim, mas é! E Deus sabe de nossa limitação. Mas nada pode abalar o senhorio de Jesus, nem nossa entrega a Maria, porque ela não retém ela nos entrega a seu Filho.

O problema não está no sol, mas nos meus olhos. Porque são sensíveis e olhar diretamente para o sol queima a retina. O problema não está no amor de Deus, mas na minha limitação, reflexo do pecado original que ficou em mim. A consagração á Virgem Maria pelo tratado, é a consagração a Jesus, sabedoria encarnada. O que na verdade se quer com a consagração a virgem Maria é que as pessoas se submetam ao senhorio de Jesus pelas mãos da Virgem Maria.

Muitas pessoas não compreendem quando Jesus chama a Virgem Maria de “mulher”, pensam que é um descaso de Jesus. Mas o que ele disse ao chamá-la assim, é que Maria não é uma mulher qualquer, mas que ela é A MULHER, desde o início prevista, a qual colaboraria com a salvação. E se repete a cena do Jardim do Édem, a mulher ao pé da árvore que agora não toma para si o fruto, mas o entrega.

Naquele momento da cruz, Jesus entrega Maria ao filho, e entrega o filho a mãe. A partir daí João acolhe Maria em sua intimidade. Desse modo Jesus “passou a perna” no diabo. Como não há céu sem cruz Deus sabe os meios para que seus filhos abracem a cruz para chegarem a salvação. Sabendo que nos entregando a Maria não mais teríamos medo da cruz, não teríamos medo de nos entregar a Deus, Jesus a dá por nossa mãe.

 

Transcrição e adaptação: Rogéria Nair 

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