Lição do pássaro: aprendendo a ser uma pessoa melhor

Frei Elias Vella

Imagine um pássaro com muitas cores voando no céu. Esse pássaro acha que não precisa de ninguém e que é o rei daquele espaço. Certo dia, esse pássaro cai num poço e fica confuso, começa a sentir medo, se sente fraco e sem foça alguma. Ele pensa: “O que vou fazer? Como vou sair desse poço?”

A primeira coisa que ele faz é olhar para o alto, ele vê que existem pessoas olhando para ele. Imediatamente, lhes diz que a culpa é delas. Ele diz: “Eu estou aqui porque vocês não fecharam o poço!”.

Quem é esse pássaro no fundo do poço? Somos nós! Fomos criados cheios de carisma e de dons como essa ave. Quando Deus nos criou o fez de maneira linda. Esse pássaro, orgulhoso de sua liberdade, achou que não precisava de ninguém. Assim também somos nós, quando achamos que não precisamos da ajuda de ninguém, não precisamos de Deus. Temos dinheiro, inteligência, saúde e beleza e dizemos: “Eu não preciso de ninguém”.

Num certo momento, também nos encontrando no fundo desse poço – algumas vezes, por doença, outras por problemas de família –, nos sentimos como um escravo, perdemos a liberdade. Quando estamos nessa situação, qual é a nossa reação? A nossa reação mais simples é apontar os erros dos outros. E afirmar que a falha é da medicina, da esposa, dos filhos, dos colegas de trabalho, da Igreja…

Em vez de dizermos a nós o que podemos fazer, falamos para os outros o que eles deveriam fazer. A segunda reação do pássaro é dizer às pessoas: “Me tirem deste poço!”. Em outras palavras, depositamos a nossa esperança em alguém que resolva os nossos problemas. Achamos que o padre pode resolvê-lo [nossos problemas] com uma oração e tudo estará bem.

Nós sempre esperamos que os outros ajam e, muitas vezes, nós mesmos não fazemos nada. Jesus não é um mágico, não podemos esperar que Ele nos tire do problema sem que nós mesmos tomemos alguma atitude.

As pessoas que olham o pássaro querem ajudá-lo, motivando-o a fazer alguma coisa para sair daquele lugar. Mas não é a solução que o mundo gosta. O mundo gosta que alguém faça no lugar dele, quer algo fácil. Se nós queremos ser curados, precisamos assumir o risco de nos machucar um pouco nesse processo de libertação e cura. Se eu preciso perdoar, isso pode ser doloroso.

O pássaro tem medo de abrir as asas e voar dentro do poço porque isso pode machucá-las. Então, ele prefere ficar onde está, achando que aquele é o seu destino. E ali permanece até perder todas as energias. Daí, mesmo que depois ele tome coragem, não vai mais ter forças nas suas asas.

Eu tenho certeza de que nós não queremos ser assim, queremos sair desse poço, queremos mudar de vida! Jesus está disposto e pronto a nos ajudar. O Senhor é aquele Bom Pastor, que vai, Ele mesmo, atrás da ovelha perdida.

Nós ficamos feridos por tantas vezes em que ficamos com medo de nos curar. Jesus está próximo de você e vai encontrá-lo onde você está! Ele encontra você nas dificuldades e nos problemas da sua vida, Ele encontra você no fundo do poço. Com todos os medos e com todas as raivas que estão em você. Cristo nunca toca na nossa liberdade, se estamos com Ele é porque queremos estar com Ele. O Pai sofre conosco, mas Ele apenas nos convida a ir com Ele, oferecendo-nos o Seu ombro. Ele não nos obriga a nada! A razão para essa atitude é muito clara: a base da cura é o amor.

O Senhor não pode nos manter à base da força, pois dessa forma não será o amor que vai reinar. É somente o amor que nos torna livres. Se estamos com Jesus, se aceitamos o convite d’Ele, é somente porque nós queremos.

Somente Jesus Cristo pode trazer a verdadeira paz para a sua vida e esta é muito diferente da paz que o mundo pode lhe dar. Outra coisa muito importante: todos nós precisamos de cura, todos precisamos que Jesus nos coloque em Seus ombros. E também precisamos ser ombros para os irmãos. Jesus nos chama a ajudá-Lo a resgatar outras almas por meio da nossa experiência com Ele.

A nossa vocação não é apenas seguir o Bom Pastor, mas convidar outros que nos sigam para que todos sigamos Deus Pai. Assim, também nos tornamos pastores. De uma certa forma, também somos líderes. Mas não os líderes que costumamos conhecer. Devemos ser líderes para servir, não para ser servidos. E Jesus nos mostrou isso ao lavar os pés dos apóstolos. Ele se humilhou e serviu.

E como ser um bom pastor? Uso uma analogia simples. Como a criança pode ser sincera se ela não vê a sinceridade nos pais? Como ela pode não dizer palavrões se na sua casa todos os falam? Como ela pode entender a importância da oração se ela não vê ninguém rezando? As crianças não ouvem, elas veem. É preciso primar pelo exemplo! Assim também é conosco, quando vamos nos tornar missionários de Deus: as pessoas veem o que nós estamos fazendo. Temos que ser testemunho para elas, só as palavras não bastam. Precisamos de pessoas de fé na Igreja, que deem bons exemplos.

Não podemos dizer uma coisa e fazer outra. Quando nós não vivemos o que estamos falando, isso é um grande problema. Todos nós precisamos de cura, mas também precisamos ajudar os outros a encontrar a sua cura. Obrigada, Senhor! Amém!

Transcrição e adaptação: Ariane Fonseca

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