O artista, imagem de Deus Criador

Padre Adriano Zandoná
Foto: Wesley Almeida/Cancaonova.com

Hoje, comemoramos o dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos; por isso queremos refletir sobre a beleza da arte no crescimento espiritual e humano das pessoas. A arte possui características terapêuticas e, de uma certa forma, confere identidade às pessoas, portanto, sobre a proteção de Santa Cecília quero refletir uma palavra a todos aqueles que participam do mundo da arte.

A arte é uma forma de linguagem, ela comunica um valor, um sentimento, algo a cada um de nós. Muitas vezes, quando contemplamos, por exemplo, um quadro, aprendemos muito mais do que quando ouvimos falar sobre algo. Por isso a Igreja sempre se utilizou desses meios para a comunicação do Evangelho.

Ela se utiliza de uma linguagem de sensibilidade. Quando ouvimos uma canção, inúmeras vezes nos deparamos com as palavras que gostaríamos de dizer; assim, a canção é um instrumento para expressar um sentimento, muito mais, elas podem nos conduzir a uma experiência com Deus. Ora, quanto mais o artista estiver unido ao Senhor, mais possui uma experiência com Ele, mais levará as pessoas à mesma experiência por meio de sua arte.

O beato João Paulo II exortou os artistas, incentivou-os a utilizar de seus dons para o crescimento das pessoas, do bem comum. Portanto, a função da arte é tornar a vida mais leve pela força da beleza. Algo só pode ser chamado de arte quando comunica princípios que valorizam o homem e sua dignidade.

Nesta carta aos artistas, do ano de 1999, o beato João Paulo II afirmou que: “Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser artífice. Na « criação artística », mais do que em qualquer outra atividade, o homem revela-se como « imagem de Deus » e realiza aquela tarefa; em primeiro lugar, plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e, depois, exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista Divino transmite uma centelha da Sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do Seu poder criador.”

"A função da arte é tornar a vida mais leve", afirma padre Adriano Zandoná.
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com


Os artistas contemplam sua obra criada de uma forma semelhante a que Deus nos olha. Por isso eles precisam usar seu talento para comunicar o belo, pois, pela arte, o Senhor quis, de uma certa forma, comunicar uma centelha de Sua sabedoria. O talento é um dom de Deus, por isso precisa produzir frutos.

A centralidade da nossa vida, sobretudo do artista, é a experiência com o Pai. Não basta apenas a técnica apurada, muito mais é necessário, pois os talentos que o Senhor deu a cada um de nós precisam ser colocados à disposição d'Ele para que se multipliquem, pois a arte, o talento possibilitam uma vida melhor às pessoas.

Fiódor Dostoiévski, um escritor russo, afirmava que o homem precisa da arte para não cair no desespero. Meus irmãos, o mundo tem necessidade da beleza, pois todas as vezes que as pessoas – e nós mesmos – temos acesso a uma boa arte, desperta em nós uma centelha do belo que, por excelência, é o Senhor. Portanto, a arte harmoniza as coisas dentro de nós.

Algo semelhante acontece também na liturgia por meio dos sinais. Ela, por si só, revela o mistério presente nos sinais, nos símbolos etc.

A maior forma de arte é a fé, pois ela toca no invisível. Como apresentado na Palavra de Deus: “Farei passar diante de ti toda a minha beleza (Ex 33,18)”. Deus quer nos revelar Sua beleza, pois é ela quem nos retira de todo o desespero.

Precisamos ter uma experiência com o belo de Deus, como um professor de música que, antes de ensinar os acordes aos alunos, levam cada um a ouvir os melhores acordes, induzindo-os a uma experiência com a arte.

Meus irmãos, tenham a coragem de fazer um experiência com o Senhor. Antes mesmo de entender a beleza de Deus precisamos abrir todo o nosso ser para identificarmos onde Ele se manifesta. Assim, certamente, por meio da arte, daquilo que é belo, faremos uma experiência com Aquele que é o Senhor da beleza, o Criador.

Deus nos abençoe.

Transcrição e adaptação: Ricardo Gaiotti

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