O sepulcro de Jesus como ventre para o nascimento de uma vida nova

Padre Fabrício Andrade

Estamos neste clima de espera. A palavra “espera” vai nos ajudar colocar em ordem tudo aquilo ficou bagunçado em nós. O que vamos experimentar nesta tarde é colocar a nossa vida em ordem com a Palavra de Deus. Temos de esperar nas filas, no engarrafamento, no banco, para irmos ao banheiro, etc. Alguém gosta de esperar? Não. Mas precisamos esperar em muitas coisas, saber esperar para nascer, para crescer, para falar, para ouvir.

E estavam ali Maria Madalena e a outra Maria, assentadas defronte do sepulcro. E no dia seguinte, que é o dia depois da Preparação, reuniram-se os príncipes dos sacerdotes e os fariseus em casa de Pilatos, Dizendo: Senhor, lembramo-nos de que aquele enganador, vivendo ainda, disse: Depois de três dias ressuscitarei. Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até ao terceiro dia, não se dê o caso que os seus discípulos vão de noite, e o furtem, e digam ao povo: Ressuscitou dentre os mortos; e assim o último erro será pior do que o primeiro.  (Mateus 27:61-64).

Maria Madalena e a outra Maria começaram a andar atrás de Jesus. Durante três anos aquelas mulheres viram os milagres e as promessas de Jesus. Imagine a confusão que estava dentro daquelas mulheres que viram tantas promessas e tantos milagres do Senhor [após a Paixão e a Morte de Jesus]! O que sobrou para elas era, naquele momento,  uma grande pedra, que fechava o sepulcro onde estava o Corpo do Messias. Elas ficaram ali esperando.

Quando Deus faz silêncio, qual é a nossa postura? Nós abrimos a boca e falamos muitas besteiras. Começam a surgir vários questionamentos dentro de nós. Tanta coisa aconteceu diante do silêncio do sepulcro e daquela pedra. Muitas vezes, na nossa vida, nós já não fazemos essa experiência de experimentar o silêncio de Deus. Aquelas mulheres, que estavam acostumadas com Jesus, naquela hora, estavam paradas. Elas não tinha para onde ir. Elas estavam encarando aquele túmulo, encarando a realidade de que Jesus Cristo estava morto.

Quantos de nós já fomos perturbados pela impotência diante da saúde de um filho? O pai não é médico e não tem o que fazer. Você, pai e mãe, que acompanha o sofrimento do filho não tem nada para fazer. Quantos pais hoje sofrem essa impotência de ver os filhos enterrados no sepulcro das drogas! Uma casa onde tem depressão, alcoolismo e drogas o convívio vai ficando difícil, e quando um filho sai das drogas a família também sai, as coisas na casa também mudam; o mesmo vale quando alguém deixa o álcool e sai da depressão.

Qual é o sepulcro você tem enfrentado? Qual é a situação diante da qual você está sentado sem ter o que fazer? Filhos que estão assistindo a morte dos pais; pais que estão assistindo os filhos que se enterram no barzinho e não têm o que fazer. Não sei se você já viu alguém que faz hemodiálise, por quem não podemos fazer nada. Muitas vezes, nos encontramos assim diante dos fatos.

Uma mãe que espera o filho voltar de uma festa, e que depois recebe uma notícia. Muitas vezes, nos encontramos nessa bagunça e não temos o que fazer. Eu atendi uma mãe que tinha um filho com depressão e o marido ficava contra ela. Essa mãe dizia: “Eu não tenho o que fazer. Meu marido fala para eu não dar remédios e comida para meu filho, mas se eu não der ele não toma e não come e meu marido fica contra mim. Eu não sei o que fazer.” No tempo da espera, no tempo em que estamos esperando, nós sempre somos levados a ficar no passado, somos tentados a procurar no passado um culpado. Aquelas mulheres do Evangelho devem ter pensado: “Se nós estivéssemos impedido Judas?” Ou os pais também dizem: “Onde foi que eu errei?” Por não conseguirmos esperar, ficamos tentando procurar um culpado! Adianta ficar procurando o culpado para jogar a culpa no filho e no marido? Tem como alguém pensar no passado? Tem como eu controlar o tempo e voltar no dia de ontem? Não, não tem! No grande tempo de espera nós corremos a grande preocupação de pensar: “Como vai ser no meu futuro?” Pode alguém esperar algo amanhã ou ontem? Ninguém pode esperar amanhã! Porque amanhã ainda não chegou. No nosso tempo de esperar também não podemos ficar presos ao passado e ficar procurando culpados.

As pessoas depressivas tiram o pé do presente para viver o passado. Também há aquelas pessoas que não sabem esperar e ficam querendo tomar conta do tempo. Só é possível esperar agora. Quantos de nós estamos angustiados porque queríamos voltar no tempo e fazer tudo diferente! Tem como eu entrar na minha história e mudar os acontecimentos?

Eu e você trazemos o instinto de querermos ser “proprietários do tempo”. Queremos controlar o tempo. Por isso no tempo da doença, porque nós não sabemos quanto tempo ela vai demorar, vamos sentindo insegurança e ficamos perdidos. Todas as vezes em que nós tocamos nessa realidade de não controlar o tempo, nós ficamos bagunçados e ficamos querendo voltar a ser crianças, a ser solteiros ou a fazer o que fazíamos no passado. Quantos de nós começamos o ano querendo que já fosse dezembro ou queremos voltar atrás. No tempo da espera não temos controle do que vai acontecer e ficamos querendo controlar o tempo.

Hoje existe o esmalte de secagem rápida; antigamente as mulheres tinham que colocar aquela esponja no meio dos dedos para não borrar. Tudo porque não queremos mais esperar! Muitos homens, para não parar no pedágio, compram o cartão do Sem Parar porque não podem perder tempo. Mas a verdade é que estamos perdendo muito tempo essencial ao lutarmos para não esperar. O sepulcro nos coloca no tempo para sabermos esperar! Verdade ou não é que se tivéssemos esperado para tomar certas atitudes não teríamos sofrido tanto? Nas brigas se não tivéssemos esperado um pouquinho mais não teríamos falado aquele palavrão. Jovens que se tivessem esperado o casamento não teriam engravidado antes do tempo. Muitas vezes aproveitar a vida tem sido sinônimo de não esperar.

Eu trouxe aqui um objeto de marcar tempo: ampulheta. Com ela aprendemos que não temos como fazer a areia descer mais rápido, a única coisa que podemos fazer é esperar.

Aqueles mulheres estavam sentadas diante do sepulcro, impotentes, foram elas que saíram correndo para anunciar a Boa Nova da Ressurreição de Nosso Senhor. Essas mulheres participaram do anúncio da Ressurreição do Senhor, porque souberam esperar. Eu não estou dizendo para adorar o sofrimento, mas para esperar. Essas mulheres, que ficaram esperando, são as mesmas que anunciaram que o sepulcro estava vazio. As mulheres que souberam esperar também foram sepulcros da ressurreição. Muitos de nós não vivemos bem a Páscoa porque ficamos presos à eterna lamentação dos sofrimentos vividos. Quem é apegado ao seu passado joga fora seu presente. Aquelas mulheres aceitaram deixar o sepulcro para trás porque elas, na espera, contemplaram a Ressurreição do Messias.

Você vai esperar a ressurreição de seu marido e do seu filho? Muitas vezes, nós achamos que, no tempo da espera, Deus não está conosco. Sabe por que ficamos com raiva das pessoas que estão na fila da frente? Porque queríamos estar no lugar delas.

Não sei em que fase da sua vida você está! Mas eu sei que Deus está vendo você! Se Deus fez silêncio é para que você aprenda a silenciar também. Quem não sabe esperar fica entre os monstros do futuro e os fantasmas do passado. Você tem hoje para esperar e ver que Deus está cuidando de você! Existem pessoas que, muitas vezes, não arrumam nem a própria cama, por isso dificílmente vão conseguir arrumar o próprio coração! Quem não sabe esperar, bagunça a própria vida. Muitos maridos e mulheres estão bagunçados porque não arrumam mais nem a própria cama e nem sabem esperar o tempo do outro. Só quem ama sabe esperar!

Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio.

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