Padre Pio, sacerdote e vítima

Mais uma vez, temos a graça de viver um dia especial de adoração ao Senhor. Muitas pessoas, no Brasil e no mundo, estão vivendo a Quaresma de São Miguel, por isso, senti-me inspirado a falar de São Pio. Sinto um profundo desejo de falar dele, que é uma resposta de amor a este momento difícil que a Igreja Católica vive diante de seus maiores mistérios que são os sacramentos. Não há dúvida de que falar sobre São Pio é motivo de grande alegria para todos nós. Ele foi o primeiro sacerdote, da história da Igreja, que recebeu os estigmas de Cristo. Os estigmas são, por excelência, as cinco chagas que Nosso Senhor Jesus Cristo recebeu das mãos dos homens: nas duas mãos, nos dois pés e uma no coração. Durante 50 anos ele trouxe no seu corpo as marcas de Jesus. A todos aqueles que iam visitá-lo, São Pio dizia: vocês, antes de virem aqui, devem passar no Santuário do Arcanjo Miguel no Monte Gargano [Itália].

Neste tempo parece haver uma realidade de abandono aos sacramentos da Igreja, uma onda de palavras de contestação e relativização do mistério dos sacerdotes, contra a visibilidade da Igreja e o corpo místico dela. Muitos dizem que nós não precisamos dela [Igreja] e dos seus sacramentos. Há uma onda terrível de seitas também que acreditam que ela [Igreja] é descartável, que o próprio desejo de buscar a santidade de vida deve ser extinto de nossa vida. Ao lado disso, há o nosso próprio medo e covardia e um desejo de segmento alienado de Jesus. Tudo isso faz com que muitos católicos acabem buscando uma fuga dos mistérios da Igreja, uma fuga consciente do seguimento do Senhor.

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Mas quando falamos de padre Pio, lembramo-nos de uma das passagens mais lindas escritas por São Paulo: "Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte" (II Cor 12, 9-10).

Essa Palavra é fundamental para todos nós, porque estamos vivendo um tempo de muita luta, no qual se nós não nos apoiarmos, de modo espetacular, no mistério da Santa Missa a cada dia, se não tivermos nosso Senhor Jesus Cristo como alimento de nossas vidas e almas, não vamos poder continuar. Pois, hoje, fala-se de buscar uma doutrina que você quer e, ao lado disso, há a vulgarização dos mistérios da Igreja, a dessacralização dos mistérios dela, a partir de dois sacramentos que Padre Pio viveu com toda sua alma: o sacrifício da Missa e o sacramento da confissão. Dois sacramentos zombados pela mídia, por novelas, músicas, peças teatrais, filmes. Isso leva os católicos a pensar que tudo é muito relativo. Por que confessar, por que passar horas adorando o Santíssimo Sacramento? Qual a razão para isso se tudo parece tão vulgarizado?

Esta é uma passagem bíblica (cf. II Coríntios 12, 9-10) que Padre Pio amava e a meditava muito e que foi vivida por ele de forma muito árdua. Ele trouxe no seu corpo, por 50 anos, os estigmas de Cristo. Essa graça tão maravilhosa lhe causava muita dor física, a dor da humilhação, da perseguição e da calúnia por trazer as marcas de Cristo no seu corpo.

Nós precisamos trazer na nossa alma essas marcas de amor. Falo de nossa vida interior, de cada dia, a nossa história no seguimento de Jesus. Temos de aprender a fazer da nossa vida um altar, no qual a Missa possa ser celebrada. Há o desejo ardente de o Senhor fazer – na sua vida e da sua vida – uma história de santidade entre a sua vida e a vida d'Ele.

Padre Pio, antes de receber os estigmas em seu corpo, recebeu-os na sua alma, e quando ele os recebeu, sentiu na sua alma que Deus estava rasgando-a por amor. Ele sentiu um desejo profundo do Senhor – de tê-Lo tão perto do seu mistério –, que ele sentiu um fogo junto de sua dor e foi-se gloriando de suas fraquezas.

Quantos são os católicos que não se confessam mais com os sacerdotes e dizem que não precisam da Igreja e dos sacramentos! Caminhando dessa maneira, sem ter sua vida no altar de Deus, eu lhe digo que é uma loucura não colocar a sua vida diante do altar da Igreja Católica, porque ela não é alienada; ela tem os sacerdotes de Deus que a conduzem. Mesmo trazendo nela o peso das fraquezas de todos nós, a Igreja tem a têmpera de Nosso Senhor Jesus Cristo. Você pode viver isso naquilo que Deus tem para você, naquilo que Ele tem determinado para a sua vida.

A celebração da Santa Missa presidida pelo Padre Pio encantava porque ele permitia que a Missa fosse a Missa nele. Não era ele quem atraía as pessoas, aquela multidão, que enchia a capela de Nossa Senhora das Graças, empolgava-se com o fato de que ele permitia que a Celebração Eucarística fosse transparente, tocada pelas pessoas.

Ninguém pode entender o que é o mistério da Santa Missa, mas podemos tocá-la com os nossos sentimentos, com a nossa vida, com a nossa dor, mesmo não entendendo, apenas dando tudo o que você é, o que você tem. Se a alegria invade a sua alma, dê-a para o mistério de seu Deus. Não fique se lamentando, buscando outra religião para aliviar o seu sofrimento, porque o Senhor sabe muito bem o que Ele faz para a sua vida.

A multidão vinha para ver a Missa do padre Pio porque ele permitia que, na sua luta, na sua entrega, a Missa de Jesus Cristo se “estigmatizasse” para todo mundo e todos se sentiam dentro da cruz do Senhor. Mas, hoje, há um número enorme de cristãos leigos que não se entregam à Igreja, não comungam Jesus Cristo. Muitos vão à Missa olhando no relógio, preocupados com seu celular e o colocam no bolso e se torturam por aquilo.

Falar de padre Pio é falar de um homem que mergulhou no cálice de Cristo. Mas você pode novamente se perguntar: o padre Pio recebeu os estigmas por merecimento? Não. O Papa Paulo VI disse sobre ele: "São Pio é um daqueles homens que Deus manda ao mundo para salvar as almas". Ele era um frade que adorava, entregava-se à adoração do Santíssimo Sacramento e confessava-se. Ele era um frade humilde que celebrava a Missa com amor.

Transcrição: Michelle Mimoso
Fotos: Natalino Ueda
Áudio: Renan Félix

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