Perder tudo para possuir Jesus

Padre Roberto Lettieri
Foto: Wesley Almeida/ Foto CN
Padre Roberto: Quero reforçar com vocês agora alguns momentos da pregação do período da manhã, quando o Senhor colocava no meu coração a necessidade profunda que temos hoje de sentir o amor d'Ele, de escutar a voz d'Ele e de amar gratuitamente.

Para falar de amor, eu e o Agostinho, também membro da Fraternidade Toca de Assis, falaremos sobre esse trabalho de intensa caridade e doação ao próximo. Bom, como fundador da Toca, posso afirmar que essa busca pelos que mais sofrem é muito gratificante.

Infelizmente, essa realidade dos excluídos é crescente. A exclusão é um fenômeno muito vivo, cada vez mais os ricos são mais ricos e os pobres são mais pobres. A Toca de Assis tem como carisma viver ao lado dos mais pequeninos, dos mais sofridos e dar a eles a vida, a esperança e lhes mostrar o amor de Deus. Nós levamos essas pessoas ao encontro de Jesus, para que possam recomeçar uma nova vida.

Eu sinto que quanto mais a exclusão aumenta, mais Deus chama os jovens corajosos a mudar radicalmente de vida e a dar esperança àqueles que nada têm. Muitos jovens já entregaram a vida totalmente à caridade, por um chamado do Senhor. Eles vêm para dar a vida, não esperando nada em troca. É puramente o amor, o amor de Deus.

Os jovens da Toca de Assis, toda madrugada, interrompem o seu sono para adorar a Deus durante quatro horas por dia. Mesmo com a rotina pesada – ir para as ruas, trocar a frauda de um pobre, fazer curativos, conversar com os necessitados – eles não desistem. Além disso, ainda há as horas da Santa Missa, da qual eles participam todos os dias. É uma vida consumida para e pelo Senhor!

Gostaria que vocês observassem atentamente agora o testemunho do Irmão Agostinho, um jovem que se entregou a Deus e hoje vê os prodígios na sua vida. Ele é guardião [linguagem franciscana utilizada para designar o responsável pela casa de missão] da Vila de Assis, no centro da cidade de São Paulo.

Irmão Agostinho: Minha vida foi marcada por um milagre inexplicável. Meus pais fazem parte da Igreja Anglicana, nunca tive formação católica. Até os 13 anos, não conhecia outra profissão de fé que não fosse a anglicana. Quando entrei na adolescência, fiquei rebelde e não queria mais saber da minha família.
Aos 14 anos, me joguei no mundo, recebi tudo o que este tinha para me oferecer. Conheci as drogas, as bebidas, a prostituição, o homossexualismo. Eu não queria saber de Deus, tudo que passava pela minha cabeça era o prazer. Falar da Igreja e de Deus era arrumar briga comigo. Eu tinha um ódio inexplicável a respeito dos dogmas, que a Igreja Católica prega.

Irmão Agostinho da Sabedoria da Cruz
Foto: Wesley Almeida/ Foto CN

Com 18 anos eu já estava na faculdade e tinha um trabalho invejável, ganhava cerca de R$ 2 mil por mês. Mas minha vida continuava se deteriorando, até que meus pais foram procurar um grupo de jovens católico para me ajudar. Não adiantou muito. Quando estava no grupo fingia que buscava a Deus, depois, voltava para o mundo.

Quando completei 22 anos eu já não estudava mais, não tinha mais amigos e minha família havia perdido a esperança na minha recuperação. Eu lembro que na véspera do Natal, eu me droguei e quando cheguei em casa – sujo, machucado, acabado – minha mãe me perguntou se eu ainda tinha dinheiro. Respondi que não. Com os olhos cheios de lágrimas, ela me disse: “Que pena! Se você tivesse poderia usar drogas até morrer”. Eu sei que dizer isso doeu mais nela, mas foi um choque tão grande que decidi naquele dia tirar minha vida. Demorou para eu criar coragem, até que finalmente tomei uma atitude. Em setembro de 2000, me tranquei em um quarto de motel, em São Paulo, e usei por dois dias seguidos drogas sem parar. Eu não enxergava, não ouvia, estava machucado. Vomitei e desmaiei em cima do meu próprio vômito. Parecia que eu havia chegado ao final do que o mundo tinha me oferecido. Quando levantei, aquela cena me levou ao desespero. Eu não tinha conseguido morrer. Pensava comigo a todo o instante: "Será que há alguma solução?"

Foi, então, que eu tive meu encontro pessoal com Jesus. Eu O vi, meus irmãos! Ele chegou até mim, naquele quarto sujo de motel, estendeu-me os braços e disse: "Você pode vencer comigo". Em silêncio, eu aceitei mudar de vida. Quando cheguei em casa, Cristo já se manifestou novamente com as lágrimas do meu pai ao ver minha ânsia de mudança. Eu prometi aos meus pais que daquele dia em diante só sairia de casa para servir a Deus. Mais tarde, fiz um encontro de fim de ano aqui na Canção Nova e conheci o padre Roberto e o trabalho realizado pela Toca de Assis. Decidi, da mesma forma como havia me entregado radicalmente para o mundo, me entregar ainda mais radicalmente para Jesus sem pensar em nada e aqui estou. Nunca mais consegui fazer outra coisa em minha vida.

"Disse Jesus: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me"
Foto: Wesley Almeida/ Foto CN

Para encerrar, gostaria de compartilhar uma Palavra que está no Evangelho de São Marcos 8, versículo 34, que resume a minha história:

“Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, Jesus lhes disse: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salva-la-á”.

Uma vida de entrega cotidiana a Jesus cansa, mas depois você vê os frutos, o desejo D’Ele na sua vida. Cristo é muito maior que o cansaço. Você pode "perder", mas vai ganhar muito mais. Vai perder para encontrar, para salvar vidas! Sua vida verdadeira está com Jesus. Precisamos penetrar onde Ele está, ou seja, no altar e nos pobres. Deus seja louvado! Amém.

Transcrição e adaptação: Ariane Fonseca


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