Reconduzidos para o primeiro amor

Podemos viver na superficialidade ou na profundidade com Deus, a própria Igreja nos encaminha para viver uma espiritualidade profunda.

Na última segunda-feira, Deus falou comigo pessoalmente durante a Santa Missa. A primeira leitura naquele dia dizia:
"Tens perseverança, sofreste pelo meu nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor" (Apocalipse 2,3-4).

Gosto muito quando Santo Agostinho nos diz que só reencontraremos a paz quando voltarmos à Deus. A felicidade está em assumir-se como pessoa de Deus. Eu me encontrei com Deus com 18 anos e hoje tenho 34, mas não importa se você está vivendo este encontro hoje ou quanto tempo faz que isso aconteceu. O seu papel é ajudar outras pessoas a experimentarem isso.

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Quando nos encontramos com Jesus, ficamos apaixonados, Ele nos toma por inteiro, ficamos pensando nEle, não queremos ver outros programas de TV que não falem de Jesus, livros que não falem dele. Foi assim comigo também, mas o que vai acontecendo é que nos acostumamos com o dia-a-dia.

Sou um homem muito bem casado há 6 anos e tenho dois filhos. No casamento, depende de cada um ter atitudes concretas para que o amor perdure, preciso me esforçar ao máximo para isso.

Na vida com Deus é a mesma coisa, porque os anos vão se passando e vamos percebendo que depende de nós não deixar de lado o primeiro amor.
Quem me garante que terminarei este dia vivo? Por isso, você e eu não podemos perder o primeiro amor. Eu preciso viver o meu dia, como se fosse o último. A vida é uma questão de escolha.

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Nossa vida espiritual é similar à nossa vida biológica. Quando nascemos para Deus, Ele cuida de nós em todas as nossas necessidades. Quando começamos a rezar, somos tomados pela presença de Deus, fazemos orações simples e Ele escuta, assim como quando fazemos orações complicadas.

Conforme o filho vai crescendo, os cuidados vão mudando. Na educação dos filhos, os pais precisam prepará-los para enfrentar a vida que não é fácil. Eles precisam ser preparados e não "paparicados". Deus começa então a nos dar alimento sólido. A nossa espiritualidade deixa de ser tão sensitiva, e exatamente quando não sentirmos nada é que precisamos rezar. O filho precisa entender que está crescendo e que a vida não depende somente do Pai.

Muitas vezes deixamos de rezar, somos como crianças esperando o "leitinho". Santa Teresa D´Avila passou anos numa grande aridez, sem sentir nada.

Como diz padre Jonas, estar diante de Jesus Eucarístico é como estar diante do sol. Mesmo que eu não sinta, Ele está me atingindo. É uma grande tentação viver esta infância espiritual.

Com o alimento sólido, Deus nos dá também a espera, o sofrimento. Aí nos desesperamos querendo abandoná-lo. Quando eu me converti, comecei a pedir a Deus a conversão do meu pai. Sempre rezei por isso, mas meu pai faleceu e isso não aconteceu. Precisamos sofrer as demoras de Deus e acreditar que Ele me dá sempre o que peço, mesmo que não seja da forma como pedi. Pois eu sei que nos encontraremos no céu e abraçaremos juntos a Jesus.

A espera em Deus já te causou sofrimento? Isso é alimento sólido que Ele nos dá, porque precisa nos ensinar a viver sem ser escravos do tempo. Por não saber esperar, muitos casamentos são destruídos. Precisamos confiar no Senhor e esperar o tempo que Ele nos pede.

Eu usava drogas quando eu me converti, e agora eu preciso lutar sozinho contra isso, 15 anos depois, porque Deus já me ensinou a lutar. Quem luta com o homem velho sou eu. Para ser um homem fiel à minha esposa, sou eu quem luta pela fidelidade. Eu faço parte da Comunidade Canção Nova e preciso cumprir os compromissos com os nossos estatutos. Sou eu quem precisa lutar pela fidelidade na minha vocação.

O nosso erro é esperar que Deus faça tudo no nosso lugar. Para um cristão consciente do seu papel, as coisas são mais concretas, diante do marido bêbado, do filho drogado, do desemprego… é preciso lutar. Não podemos ficar acomodados esperando que as coisas caiam do céu.

Para que o Projeto Dai-me Almas aconteça, nós da Canção Nova rezamos e trabalhamos muito. Rezamos muito sim, mas precisamos trabalhar muito e até nos humilhar para pedir, vencendo o nosso orgulho para que o projeto aconteça.

Assim, na sua vida é preciso lutar. As graças, conversões e transformações de vida dependem da sua luta. Se você quer perdoar alguém é preciso dar passos, pois a graça Deus já lhe deu. Assim quando as pessoas olharem para aquilo que você faz, tenham desejo de ser de Deus.

OUÇA: O céu é uma certeza para nós

Transcrição: Tatiana Gomes
Fotos: Paulo Sérgio

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