Salvos pela Esperança

Padre Paulo Ricardo
Foto: Robson Siqueira

Ontem eu e o padre José Augusto tentamos falar para vocês como a família é lugar para a nossa conversão. Como a diferença homem e mulher nos guia para sairmos do nosso egoísmo e olhar para o outro.

Muitas vezes, queremos ser família, mas de forma errada. Queremos na terra viver o paraíso e transformamos nossa família em inferno. Muitos casais se separam por isso, achando que um deve ser o paraíso para o outro.

Desde o final da Idade Média que os poetas escrevem louvando as mulheres como se elas fossem deusas, estrelas guias. O mito da bela que está na torre e precisa ser salva. Os homens começaram a pensar nas mulheres como estrelas guias, e as mulheres a pensar nos homens como seus salvadores, daí se encontram e são felizes para sempre. Isso é ilusão.

Qual é a felicidade que nós esperamos? Esperamos que o outro nos sacie e crie um paraíso aqui na terra; mas isso não vai acontecer, a família não pode ser o paraíso aqui na terra.

Vamos fazer nossa reflexão a partir da Encíclica do Papa Bento XVI “Salvos pela Esperança”, que fala sobre a esperança cristã. A esperança cristã é uma virtude, a outra esperança é uma tendência, ilusão em acharmos que um dia tudo ficará bem no mundo; isso não tem fundamento.

A sociedade em que vivemos é uma sociedade que é palpável. Acredita naquilo que se pode medir, só que as coisas palpáveis passam. Tudo que vemos vai passar, os nossos corpos vão passar.

A pessoa nasce com tendência ao pecado. De que jeito você vai criar paraíso aqui na terra? Isso é apenas ilusão. Esse tipo de esperança não existe. Mas a Esperança cristã é fundamentada em Deus. Nós esperamos que a morte não seja a última palavra, mas não só por otimismo, pois com a Ressurreição de Jesus, Deus nos deu a Esperança da vida eterna, que não é neste mundo. O Santo Padre escreveu essa Encíclica para nos libertar dessa esperança otimista e abraçarmos a Esperança cristã, que é escrita com “E” maiúsculo.

Se a sua esperança está toda na sua família, quando alguma coisa de errado começar acontecer, você vai se desesperar. O que podemos fazer para sermos libertos do desespero? O desespero acontece quando tiramos o céu junto de Deus e começamos a projetar o céu na terra.

'Somente quem tem a Esperança cristã é eternamente jovem', diz padre Paulo
Foto: Robson Siqueira

Temos de fugir de dois pecados contra a Esperança: O pecado do desespero, que é o maior, e o pecado da presunção – quando a pessoa não espera mais porque presunçosamente acha que já recebeu. A presunção é um pecado sério, temos de nos dar conta disso.

A crise da meia-idade faz com que as pessoas se desesperem e passem a ter uma visão cínica da esperança. Esperavam o céu na terra, mas como este não veio, começam a ficar rancorosas e amargas e agem de forma irônica. Você sente que há uma desilusão, uma frustração nelas.

Somente quem tem a Esperança cristã é eternamente jovem. Nós cristãos olhamos para esta vida, mais ou menos, como a vida intra-uterina, em que a criança está dentro do ventre da mãe, que é uma passagem para a vida que virá. O tempo, em que passamos neste mundo, é um transitório período de “gestação” e acontecerá o “parto”, e assim, vamos partir para a vida verdadeira, que é o céu. É por isso que o cristão tem a eterna alegria, porque ele sabe que virá a vida eterna. Esta vida é só o início do banquete verdadeiro, que é no céu.

Os cristãos no Novo Testamento não viviam a teoria da prosperidade, eles eram perseguidos e levados aos leões, e eram alegres porque sabiam que esta vida era só o começo.

Nossa felicidade está em Jesus, na vida que virá após a morte. Não estamos neste mundo para alcançar a felicidade plena.

Quem quis construir paraíso aqui na terra só construiu o mal. O Papa diz: “Pare de prometer felicidade aqui na terra” enganando as pessoas. O que podemos esperar aqui na terra? Que tenhamos força moral para lutar até o fim da vida.

Muitos acusam a Igreja de viver pregando o Paraíso no Céu, por isso, as pessoas desanimam. Desanima quem não busca o Paraíso no Céu. Meus irmãos, o Papa quer colocar diante de nossos olhos o Paraíso do Céu. Como você pode ter a virtude da Esperança sem cair na presunção e no desespero? A virtude da Esperança é dom de Deus, você não a compra, ou Deus lhe dá ou você fica sem ela. Mas existem virtudes humanas que nos levam à Esperança. Deus quer dar a virtude da Esperança para todos nós, mas nós precisamos fazer a nossa parte.

Duas virtudes fazem com que nossa alma continue esperando: Primeiro a magnanimidade, isso quer dizer que sua alma é grande e que você foi feito para o céu. Mas se tivermos somente a magnanimidade vamos ficar soberbos, então é necessária a segunda virtude, a virtude da humildade, que vivemos antes de tudo diante de Deus. Às vezes, achamos que viver a humildade é fazer um teatrinho diante dos outros. Nós devemos viver a humildade diante de Deus, sabendo do nosso “nada” e do “tudo” d'Ele.

'Não estamos neste mundo para alcançar a felicidade plena', diz padre Paulo
Foto: Robson Siqueira

Você é chamado para o céu – magnanimidade -, mas você merece o inferno: isso é humildade. Você já pecou alguma vez? Então você merece o inferno. A sujeira que somos merece o inferno. É reconhecendo tudo isso que vivemos a virtude da Esperança, por isso é por pura graça que entramos no céu.

O que isso tem a ver com a família? Porque essas virtudes devem estar na família. Seus filhos foram feitos para céu. Mas daí você diz que não adianta mais porque mundo está assim… Então você perdeu a virtude da magnanimidade. Quando você, embora seja casado, se entrega à pornografia, no sonho de se casar com um artista, falta magnanimidade.

O Papa termina a Encíclica com um tema que vai aumentar nossa esperança: “O juízo de Deus”. O Sumo Pontífice diz que o juízo de Deus nos enche de esperança porque Deus vem para queimar a maldade que está em nós. Vamos entrar no céu com a nossa "túnica alvejada" no Sangue do Cordeiro.

Existe um grupo pequeno de pessoas que se fechou para o amor, são pessoas completamente ruins, más, muitas delas, se não mudarem de vida, ao morrerem vão para o inferno, porque estão fechadas para Deus. Mas o Senhor quer que todos sejam salvos. No outro extremo há aquelas pessoas boas como a irmã Dulce, essas vão direto para o céu, e o Papa diz que estas são poucas. A maioria são como nós, que temos um coração bom, mas que também é mau, então o Santo Padre diz que esses corações misturados com esses sentimentos não vão para o inferno, vão para o céu. Essas pessoas não podem ir direto para o céu porque estão com o coração misturado. Bento XVI nos recorda que elas serão salvas como pelo fogo – no Purgatório. Nós vamos chegar lá e vamos ver como somos amados, mas também teremos a dor de não ter amado a Deus o suficiente. Nossa dor será alegre, alegre porque fomos amados, mas tristes porque não amamos como deveríamos.

Nosso Senhor quer nos salvar, e o juízo de Deus nos enche de Esperança porque vem para aniquilar a maldade que sofremos e a praticamos. Enquanto vivemos neste mundo temos de nos perdoar e amar, porque Ele virá para nos salvar, queimar no fogo do seu amor a nossa maldade. Irá enxugar as nossas lágrimas e dizer: “Entra para a felicidade que Eu preparei para você”.

Família, caminhe para o céu cheia da magnanimidade e da humildade.

Transcrição: Willieny Isaias


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