Separar pecado e pecador

Padre Paulo Ricardo
Foto: Carlos Eduardo/CN

Meus queridos irmãos, a primeira leitura de hoje [I Coríntios 6,1-11] nos deixa um pouco desconcertados porque São Paulo usa tons fortes para definir o julgamento de Deus. O apóstolo faz uma lista de pecados, a qual parece roteiro de novela: “Não vos iludais: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem pederastas, nem ladrões, nem avarentos, nem beberrões, nem insolentes, nem salteadores terão parte no reino de Deus” .

É sério e grave, São Paulo nos apresenta uma lista de pecados e afirma que as pessoas que cometem tais pecados não serão dignas do Reino dos Céus. E fala também “alguns de vós, éreis isso! Mas fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.

Foi Deus quem nos lavou e nos justificou. Se Deus morreu por nós na cruz, se Deus é infinita misericórdia, como é possível falar de inferno? Nós temos de crer na seriedade do julgamento futuro, isso é muito sério.

Na Carta Encíclica “Spe Salvi”, o Papa Bento XVI diz que o juízo de Deus é para nós fonte de esperança. Como coisas tão trágicas – como o inferno e o juízo de Deus – podem trazer esperança? Meus irmãos, é caridade da Igreja falar do inferno. Existem pregadores que não querem falar do inferno e dizem que Deus é amor, misericórdia, por isso como poderia existir o inferno. Isso é artimanha do diabo: transformar a confiança em Deus em presunção, ou seja, a pessoa não leva a sério suas responsabilidades porque tem a presunção de que será perdoada!

Nunca pregamos tanto a misericórdia de Deus e estivemos tão atolados em pecados, tudo isso por causa da presunção. E assim muitos pensam: “Se o inferno não existe, o que tem se eu roubar esse dinheiro?” Examine o estilo de vida das pessoas que não creem na existência do inferno, elas vivem uma vida demoníaca. Então eu posso matar, roubar, pois eu vou ser perdoado. Se não acreditamos mais na existência do inferno nos transformamos em pessoas para além do bem e do mal. Esse foi o pecado de Adão e Eva, que comeram do fruto da árvore do bem e do mal; isso é para mostrar que não cabe a nós, seres humanos, decidir a bondade e a maldade, isso cabe somente a Deus, que criou os seres humanos.

"De nada nos adianta dizermos que amamos a Deus Pai se não odiarmos os nossos pecados para sermos d'Ele"
Foto: Carlos Eduardo/CN

O pecado é aquilo que me destrói, me faz uma pessoa pior, e eu não posso agora usar a misericórdia de Deus para justificar minha destruição. Se a mãe ama seu filho ela odeia o pecado que o destrói. Nós que somos seguidores do Deus, que é Amor, temos de alimentar em nosso coração um amor infinito pelos pecadores e ódio supremo pelo pecado. O mundo é branco e alvo como a neve pura ou, então, vermelho escarlate como o pecado. Temos de ser capazes de dividir essas duas realidades. Como se dentro de mim existe o bem e o mal? É possível se nós compreendermos que devemos odiar nossos pecados, esse é o primeiro dever do cristão.

A grande diferença entre o cristão e o não cristão, no campo moral, é que o cristão peca e odeia o seu pecado e o não cristão peca e faz do pecado um projeto de vida, um jeito de viver. Se existe ódio ao pecado você está no bom caminho, mas não faça dele [pecado] um projeto de vida. Somente quando nós odiamos o pecado é que acontece este milagre: “Fostes justificados pelo nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.

Nós precisamos usar essa espada que divide pecado e pecador, e é muito importante usá-la. Nós amamos nossos irmãos pecadores, mas odiamos o [pecados] que eles fazem. O sacerdote atende confissão sentado porque ali ele age como um juiz, para absolver o pecador.

Deus vai pegar o meu pecado, levá-lo para o fogo da Geena e me levar para o Céu. O padre corta a “corda” que une o pecado ao pecador. O pecado recebe de Deus o ódio eterno e o pecador a misericórdia do Senhor; nós separamos o que é “branco” do que é “vermelho” e é isso que faz o Cristianismo. Mas o pecador não enxerga isso, acha que ele é seu pecado. Quando o padre condena o pecado ele [pecador] acha que este o condena; no entanto, o pecado não faz parte do pecador. Por isso odeie seu pecado, vire as costas para ele todos os dias!

Fiéis escutam atentamente a homilia
Foto: Carlos Eduardo/CN

Santo Isaac de Nínive dizia o seguinte: “O homem que chora os próprios pecados é maior que este que ressuscita os mortos”. Por quê? Quando você chora os próprios pecados o Reino de Deus está acontecendo em você. Por isso Bento XVI afirma que o juízo de Deus é fonte de grande esperança. Imagine se chegássemos ao Trono da Graça e Deus falasse: “Entre assim mesmo”. Você gostaria de entrar no Reino com esse coração mesquinho?

Existem pessoas com o coração fechado. É só lembrar dos sistemas de Governos opressores, que só existem para fazer o mal, fechados para Deus e para a bondade. Esse tipo de pessoa vai se fechar para Deus na hora da verdade. Pessoas assim, soberbas, duras, não se dobram ao Senhor. Há gente que está morrendo de sede, mas não tem coragem de se rebaixar para lhe pedir o copo de água que está na sua mão. O Papa diz que estas pessoas não são muito comuns.

E também há pessoas como nós, que temos esse coração medíocre, somos honestos, mas de vez em quando mentimos; nós rezamos, mas de vez em quando perseguimos quem reza; perdoamos, mas também guardamos mágoa. Imagine se vamos entrar no céu com um coração assim eternamente!? Não pode ser! Não somos gente, somos um campo de batalha e Deus não quer que entremos no Céu assim, por isso nos dá o purgatório.

Hoje, olhamos para a cruz e enxergamos um pouco do amor de Deus, mas no Céu vamos ver esse amor cara a cara. Vamos ver o nosso coração que pouco amou. E pensaremos: “Meu Deus, que grandeza vosso amor! Mas que miséria a minha correspondência!”. Será o arrependimento de quem enxerga o quanto Deus se entregou por nós e nós não nos entregamos a Ele; essa dor se chama “purgatório”. Ali seremos purificados, Deus Pai vai queimar as nossas misérias, e com uma espada, Ele vai nos separar dos nossos pecados, então poderemos entrar no céu. Essa é nossa grande esperança. No purgatório só existe uma porta para o céu, por isso quem está lá [no purgatório] já está salvo, não desce para o inferno. Por isso, reze pelos que estão no purgatório, isso é caridade.

O inferno existe não porque Deus não é misericórdia, mas porque somos livres para voltarmos nossas costas para o Senhor. Então leve a sério a sua vida, tenha medo de perder Deus! Ao mesmo tempo, devemos ter infinita confiança n'Ele, confiança de que Ele não morreu inutilmente e de Ele fará de tudo para nos salvar.

De nada nos adianta dizermos que amamos a Deus Pai se não odiarmos os nossos pecados para sermos d'Ele. Se você se arrepende dos pecados, o Todo-poderoso precipita o pecado no inferno e salva o pecador. Nós precisamos chegar no céu com o coração transformado, e isso é misericórdia de Deus para nós.

Por isso, ninguém está autorizado a parar de pregar sobre a existência do inferno. O julgamento de Deus nos fins dos tempos é para nós fonte de grande esperança. Nosso Senhor quer nos salvar. Se você vê que na sua família há pessoas fazendo do pecado um projeto de vida, ajude-as a sair desse mal [pecado], mas se elas não o ouvirem, exerça seu sacerdócio como diz a música dos Anjos de Resgate: “Te amar por quem não te ama, te adorar por quem não te adora….” Você pode amar, adorar e esperar em Deus pelas pessoas de sua família. Podemos também pedir perdão por elas, também podemos chorar os pecados dos outros, de alguma formar isso vai ajudá-los.

Transcrição e adaptação: Willieny Isaias


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