Aprendendo a perdoar

Irmã Maria Guadalupe Rodrigo
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Testemunho da Irmã Maria de Guadalupe Rodrigo

Eu sou a irmã Guadalupe, sou Argentina e pertenço à família religiosa do Verbo Encarnado. Somos uma Congregação Missionária fundada na Argentina e já estamos, com a graça de Deus, presente nos cinco continentes.

Temos sacerdotes e religiosas levando adiante missões muito difíceis. No meu caso, tocou-me ir para o Oriente Médio. Já estou lá trabalhando como missionária há 20 anos; e como tal, pude viver a guerra e a perseguição aos cristãos. Síria e Iraque são países que estão em guerra há muitos anos, e há perseguição religiosa feita por grupos fundamentalistas feita por muçulmanos.

Hoje em dia, em pleno século XXI, temos mártires todos os dias, mas, infelizmente, isso não se conhece. É uma riqueza para a Igreja nos nossos tempos. Esses mártires estão irrigando, com seu sangue, a nossa fé e nos dando forças para levarmos nosso trabalho adiante nas outras partes do mundo.

Eles sabem o que é aquilo pelo qual devem viver e morrer. Esses cristãos já vivem preparados para a morte.

Nossos jovens da paróquia de Alepo dizem quando são presos: “Podem cortar a minha cabeça, porque eu sou cristão e nunca deixarei de ser”. E assim os cristãos jovens são mortos na paróquia de Alepo.

Uma mulher foi amarrada em uma praça para que todos que passassem pudessem golpeá-la. Ela iria apanhar das pessoas até que pedisse para ser muçulmana. Ela não pediu, e assim morreu. Essa é uma das coisas mais suaves que se pode contar!

Há cristãos, no Iraque, que foram crucificados, decapitados; crianças e mulheres também. Crianças foram enterradas vivas na frente de suas mães. Vocês acham que esses cristãos morrem gritando de medo, insultando? Não! Eles morrem como os mártires: sorrindo, cantando e perdoando.

Quantas vezes escutamos alguém falar: “Eu te amo tanto, que daria a minha vida por você!”. Mas eles falam e vivem, por isso se proclamam cristãos todos os dias em nome de Jesus.

Temos uma criança em nossa paróquia, que se chama Bruno. Ele tem 11 anos e viveu 5 anos da guerra, praticamente toda a sua infância. Bruno não conhece outra coisa a não ser o barulho das bombas, as explosões. Eu perguntei a ele: “Você compreende que, por ser cristão, pode morrer a qualquer momento?” Ele me respondeu: “Sim, Claro!”. Então perguntei: “Você está disposto a morrer por ser cristão?”. Ele me respondeu: “Irmã, temos que sofrer. Veja Jesus Cristo na cruz, quanto Ele sofreu por nós! Não estaríamos nós dispostos a sofrer também por Ele?”.

Essa é a temperatura dos cristãos do Iraque. Os grupos terroristas costumam pintar a letra “N” na casa dos cristãos. Esse fundamento é utilizado para designar os Nasrani (Nazareno em árabe). Somos seguidores de Jesus de Nazaré, então, eles marcam as casas dos cristãos com a letra “N”, para mostrar que eles merecem a morte.

Para os terroristas, esse é um sinal de maldição; para os cristãos, é o sinal dos nossos mártires, um símbolo dos cristãos perseguidos.

Você pode pensar que esses cristãos são tristes. É claro que eles choram muito! Mas, apesar disso, sorriem mais do que qualquer pessoa.

Em meio a tantos sofrimentos e tragédias, eles sabem sorrir de verdade. Como eles podem sorrir em meio a toda essa guerra? Antes da guerra, antes da perseguição, eles estavam entretidos com as coisas do mundo, e esqueceram-se de coisas muito importantes. Agora, eles se dão conta de que a vida é curta e que a morte pode chegar a qualquer um, e o mais importante vem depois da morte.

Eles têm os olhos voltados para o Céu, decidiram colocar a felicidade deles no Céu, um lugar que ninguém pode tirar deles. É por isso que eles vivem essa alegria e liberdade, porque compreenderam que nem a guerra nem a perseguição podem tirar deles a vida eterna.

Os cristãos, no Egito, fazem a tatuagem de uma cruz na mão direita. As mães levam as crianças nos mosteiros e os padres fazem a tatuagem de uma cruz, para mostrar que são cristãos, e os prepara para o martírio.

Isso nos ensina a viver a nossa fé de maneira plena e radical. Nosso Senhor disse: “Por minha causa, sereis perseguidos”. A perseguição, no Oriente Médio, é por meio da espada. Aqui, no Ocidente, os cristãos também são perseguidos, mas a Igreja Cristã é atingida pelas mídias sociais, pelas leis etc.

Os cristãos do Oriente Médio nos ensinam a viver a perseguição. Se vivermos como eles, encontraremos a verdadeira alegria e liberdade.

Padre Luís Montes
Foto: Wesley.Almeida/cancaonova.com

Testemunho do padre Luis Montes

Sou padre Luís Montes, e também pertenço à família religiosa do Verbo Encarnado. Há mais de 20 anos, estou no Oriente Médio. Atualmente, estou no Iraque. Sou testemunha daquilo que a irmã contou, pois um verdadeiro genocídio está acontecendo entre os cristãos. É um ódio incrível!

Visitei igrejas queimadas e destruídas, imagens santas de Nossa Senhora e dos santos todas destruídas. Mas, por trás desse ódio, há uma luz que brilha de forma incrível, é o amor de Jesus Cristo, que morreu, inclusive, por esses assassinos.

Somos testemunhas da obra que Deus realiza no coração de Seus filhos.

Um jovem sírio cristão foi sequestrado. Ele estava amarrado e passou uma semana sem comer. Quando estavam a ponto de matá-lo, ele se encomendou ao arcanjo São Miguel, e movendo seus braços, arrebentou as correntes.

Quero também contar a história de uma menina cristã chamada Cristina. Ela morreu, é mártir. Em 31 de outubro de 2010, quando estava numa igreja com sua mãe, os terroristas explodiram com bombas um carro na porta da igreja. Todos os vidros da igreja se quebraram. Os terroristas entraram no local com fuzis e explosivos. Cristina estava no fundo da igreja com sua mãe, ela os viu entrando e, abraçando a mãe, disse: “Não tenha medo!”.

Os terroristas disseram a um grupo de cristãos: “Saiam daí”. Quando estavam se movimentando, dispararam e mataram todos eles, entre eles estava Cristina. A mãe dela, que deveria ter sido morta também, foi salva por uma senhora que caiu morta em cima dela. A mãe de Cristina ficou quatro horas fingindo estar morta.

Ela passou quatro anos com medo de entrar numa igreja. Quando finalmente conseguiu entrar, foi em nossa paróquia, onde contou essa história. Cristina é um símbolo dos cristãos perseguidos.

Essa menina tinha 13 anos e não estava com medo! E as crianças de hoje têm medo até de cachorro! Ela não teve medo, e deu coragem para sua mãe, a quem queria proteger.

Como nós temos dificuldade para perdoar! Às vezes, brigamos com alguém e não lhe perdoamos. Esses cristãos, no entanto, que tiveram seus filhos mortos e decapitados, perdoaram os criminosos.

O sangue desses mártires gritam conosco. O tempo é curto, vamos parar de fazer o mal e trabalhar para sermos santos.

Confira a um trecho da pregação:

Leia mais:
.:O perdão ressuscita famílias
.:Perdoar é um ato de vontade

 

 


Transcrição e adaptação: Karina Silva

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