A cura dos corações dolorosos

Ricardo Ida

O que, realmente, precisa ser curado em nós? O que, de fato, entristece a alma do ser humano, do coração dos filhos de Deus? As paixões desordenadas, que nos levam ao vício, ao pecado.

Fulton Sheen, que foi um arcebispo americano, dizia: “As pessoas não são felizes nem se realizam, porque não praticam as virtudes que são chamados a praticar como cristãos.”

Nós cristãos somos chamados a ser um outro Cristo, ou seja, a reproduzirmos as virtudes perfeitas do Cristo em nossa vida. Justamente por não vivermos isso, Fulton Sheen fala que, neste mundo, no mundo atual, a causa da grande maioria viver descontente é porque elas não praticam uma virtude contrária, que se chama contentamento. Ela é uma virtude adquirida com grande decisão e diligência do domínio dos desejos desordenados. Diligência, porque a nossa alma ficou preguiçosa por causa do pecado original e dos pecados pessoais.

Eu digo aqui para os cristãos, para os batizados: vocês querem tudo muito fácil. Acostumou-se a uma sociedade e uma mentalidade mundana e materialista, hedonista, que busca o prazer pelo prazer, que não aprenderam a lutar. O vício, um dos pecados capitais da preguiça, alojou-se no nosso coração, e não queremos lutar. Por isso, muitos católicos abandonam a Igreja, não querem mais ouvir falar da cruz, mas querem coisas fáceis, milagres fáceis.

A nossa fé não é uma fé de conveniência; a nossa religião não é uma religião fácil, da prosperidade, da palestra motivacional. A nossa religião é a religião da cruz. Então, a primeira coisa que o católico precisa aprender é que está, neste mundo, para alcançar a salvação, e não existe outro caminho senão o do monte calvário.

Assemelhar nosso coração ao de Cristo

Vida cristã é uma ascese contínua, é uma busca pela santidade, pela perfeição; e isso acontece à medida que praticamos as virtudes semelhante ao Cristo.

Não é só participar de um encontro nem vir à Canção Nova que a vida se resolve. Muitas vezes, a nossa religiosidade não é uma busca a Deus, mas uma busca por nós mesmos, justamente por essas paixões desordenadas. O homem ficou sujeito às trevas, ficou centrado em si mesmo por causa do amor próprio. Até mesmo em nossas práticas de piedade, muitas vezes, nós não estamos buscando a glória de Deus. Há uma segunda intenção.

No livro ‘Imitação de Cristo‘, Jesus falou sobre os judeus que foram ver a ressurreição de Lázaro. Jesus fala que muitos não foram somente por amor a Ele, mas por amor a Lázaro. Havia uma segunda intenção. Não há uma reta intenção e se não existe uma reta intenção, não há virtude, não há santificação, não há perfeição, porque não há o verdadeiro amor.

O amor próprio é um amor desordenado, é a filáucia doentia, é o egoísmo, uma pessoa centrada somente nela. Não há alegria em um coração egoísta, porque não existe Deus nele.

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (João 1,15-17)

Nós não conseguimos fazer nada de bom sem a graça de Deus. A única coisa que conseguimos fazer sem ela é o pecado.

Quanto mais realizarmos a vontade de Deus, mais seremos uma pessoa realizada. Quando vamos aprender isso? O homem foi criado por Deus para ser obediente. A nossa vida precisa estar centrada na vontade d’Ele, e não na nossa. Ele sabe o que é melhor para nós.

Que seja feita a Tua vontade, Senhor!

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Transcrição e adaptação: Rebeca Astuti.

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