Quaresma, tempo de conversão

Rafael Oliveira

Rafael Oliveira | Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Tudo o que eu vou falar para vocês, eu, primeiro, estou pregando para mim. Então, podem ficar tranquilos, pois nada aqui é indireta para vocês. Estou aqui para falar como irmão, para falar da Quaresma de uma forma nova.

Joel 2,12-18

“Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de alimentos e libação para o Senhor vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai as crianças, e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu aposento. Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que os gentios o dominem; por que diriam entre os povos: Onde está o seu Deus? Então o Senhor se mostrou zeloso da sua terra, e compadeceu-se do seu povo.”

A Palavra é para agora. Agora, diz o Senhor, voltai para mim! Toda vez que o Senhor Se apresenta para nós, Ele não quer nos impor algo; sempre Ele quer nos propor. E neste tempo que somos chamados a viver essa experiência forte de conversão, o Senhor vem, mais uma vez, nos propor uma mudança de vida.

Há muitas pessoas que tiveram dificuldades em suas paróquias, em suas comunidades, e, por isso, afastaram-se da Igreja. O primeiro pedido do Senhor, neste período de conversão, é sobre esse amor à Igreja, o amor a Deus, o amor a si mesmo e ao próximo.

Amor à Igreja

Sobre o amor à Igreja, estou falando para você que participou da Quarta-feira de Cinzas, que já tem uma caminhada, e também para você que está em casa, que está começando a caminhar na Igreja, mas ainda não teve uma “trombada” com ela. A Igreja, talvez, ainda seja um lugar frio, distante, onde as pessoas pareçam falsas. Eu quero falar para você da Quaresma, neste primeiro momento, neste tempo em que nós estamos vivendo, pois ele foi pensado pela Igreja, por essa Igreja da qual você esteja meio afastado, achando que não é tudo aquilo.

Pode ser que o motivo do seu afastamento seja porque a Quaresma, assim como outros tempos litúrgicos, tenham tomado uma aparência meio triste para você. Talvez a Igreja lhe seja um lugar cinzento e frio, mas eu quero lhe falar que ela não é este lugar, a Igreja é um lugar alegre, feliz, de encontro. Então, o tempo da Quaresma é um tempo de tristeza? Não, mas é um tempo de recolhimento.

A Igreja tem uns detalhes que eu gosto de observar. Quando está encerrando o tempo quaresmal, há uma das orações que fala assim: “passados os exercícios quaresmais”, ou seja, ela chama a Quaresma de tempos de exercícios quaresmais; não é apenas um tempo quaresmal, mas tempo de exercícios. Então, para viver bem esses exercícios, a Igreja faz algumas propostas, e uma delas é não ter o “glória” no domingo. Mas por quê? É para entrarmos no tempo litúrgico, recolher-se. A Igreja propõe e não impõe práticas como essa para que internalizamos aquele tempo litúrgico. Você, na sua liberdade, pode fazer ou não. Este é um tempo para ser exercitado, ser treinado. Então, quando a Igreja propõe tais práticas não é por maldade, mas sim para que possamos crescer em nossa vida de santidade, para abraçarmos a Cristo com mais integridade. Não é para ser pesado, mas para ser vivido com amor.

Para os que estão distantes da Igreja, não vejam o tempo litúrgico como um tempo pesado, veja como propostas vão nos levar a um caminho de santidade para todos nós. O primeiro convite é voltar esse amor sobre a Igreja agora.

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Amor a Deus

A Igreja, como mãe, foi deixada por Deus, e ela não é o fim. O fim é o amor a Deus. Ela é um meio de nos educarmos nesse caminho, porque, às vezes, neste caminho, nós nos desviamos. A nossa primeira conversão aconteceu no nosso batismo. Mas o Catecismo fala de uma segunda conversão, aquela que acontece no dia a dia. Ela acaba apenas quando morrermos, até lá, é necessário muita luta. Cair, levantar, cair, levantar de novo, até morrer. Esse processo pode ficar mais simples desde que vivamos bem o tempo quaresmal, que é um tempo de treino.

Lembre-se de Quaresmas passadas que você já viveu; talvez, sejam situações não muito boas. Eu quero pedir, agora, ao Senhor que essas recordações ruins, que fazem você não viver bem este tempo, que elas caiam por terra! Que elas possam ser transformadas pela vivência de uma boa Quaresma este ano. Permita que o seu coração seja visitado por uma profunda experiência do amor de Deus. Se a Quaresma se tornar pesada este ano, lembre-se de que é tudo por amor! Permita que o Senhor vença na sua vida.

Amor a si mesmo

Do amor a Deus nós vamos do amor a nós mesmos. Muitas vezes, esse amor por nós mesmos é algo desordenado, e a Quaresma vai nos ajudar a ordenar, para que este amor que tenho por mim me leve ao próximo. Se você mergulhar de cabeça nesta Quaresma, viver este tempo intensamente, as pessoas vão enxergar mudanças em você, e você vai ser o testemunho, o exemplo para essa pessoa. E você deve fazer isso não porque você quer ser exemplo, mas porque quer ser Cristo na vida do outro. Rasgue o seu coração! O convite precisa ser pessoal: “Eu preciso me converter. Eu preciso mudar de vida”. Convença-se de que você precisa mudar de vida.

 

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