Somos chamados à santidade

Alexandre Oliveira

Foto Arquivo CN/cancaonova.com

“A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações”  

“Cingi, portanto, os rins do vosso espírito, sede sóbrios e colocai toda vossa esperança na graça que vos será dada no dia em que Jesus Cristo aparecer. À maneira de filhos obedientes, já não vos amoldeis aos desejos que tínheis antes, no tempo da vossa ignorância. A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos em todas as vossas ações, pois está escrito: ‘Sede santos, porque eu sou santo (Lv 11,44)’.” (1 Pedro 1,13-16)

O convite para nós, nesta manhã, é para vivermos a santidade em todo o nosso proceder. A palavra santo, no hebraico, quer dizer kadosh, e, em sua raiz semítica, traz a ideia de cortar fora, apartar, separar, tirar daquele meio, pôr para fora. O santo é aquele que é separado por Deus para viver aquilo que é o plano, a vontade de Deus. O santo é aquele que é separado.  

Nosso Senhor Jesus Cristo, no Evangelho, diz: Eu não vim para abolir a Lei, mas para levá-la ao pleno cumprimento. Eu vim para completar a Lei. Portanto, quando, na Lei de Deus, diz “sede santos, porque eu sou santo”, Deus está dizendo isso para mim e para você. Em Jesus, o propósito de santidade é levado ao pleno cumprimento. 

No Evangelho de Mt 5,43-48, diz: “Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Desse modo, sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isso também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.” 

Aqui, portanto, nesse trecho, o convite de Jesus é para vivermos a santidade, para que possamos ser perfeitos como o Pai. Jesus nos dá o exemplo como o Pai faz, Ele derrama a chuva sobre os justos e os injustos; o Pai faz nascer o seu sol sobre os maus e os bons. Veja bem: Kadosh é o separado, apartado, escolhido, e o santo é este, separado, escolhido por Deus.

Por que Deus, em Sua santidade, não faz nascer o sol e derramar a chuva somente sobre os justos? Porque a santidade é esse convite de Deus, é essa pedagogia que nos leva a vivermos separados, isolados.

A santidade influencia

O santo, mesmo sendo kadosh, mesmo sendo separado, mesmo vivendo em isolamento, como neste tempo de pandemia, ele influencia. A santidade influencia. Não é porque somos chamados à santidade, a viver separados, que vamos deixar de influenciar. 

Padre Jonas, em ‘Nossos Documentos’, no Projeto de Vida I, escrito em 1991, diz: “A direção à qual se projeta nossa vida, explica: O “como” vivemos em comunidade é mutável. O “como” é mutável, ele requer um contínuo adaptar-se às novas situações da vida. Nós estamos vivendo isso a partir deste tempo de pandemia. E o “para que”, o objetivo, não muda. E o “para que” vivemos juntos, ele diz, é para sermos evangelizados, é para evangelizar. Nós evangelizamos um ao outro, e o processo da evangelização é o processo da fermentação. Evangeliza-se por contágio, e é preciso estar bem fermentado do Evangelho para, no contato com as pessoas, contagiá-las com o Evangelho. É questão de vida, portanto, é preciso viver com intensidade essa nova maneira de vida para levar aos outros.

É preciso ser para dar, é preciso viver para comunicar o Evangelho, ou seja, o Evangelho precisa ser vivido, pois essa comunicação acontece por contágio. 

O santo, o Kadosh, é o separado; ele não perde sua identidade, a sua busca pela santidade. No processo de contágio, no processo de fermentação, nós vamos contagiando os outros com a santidade. 

Santidade é enfrentar tudo com amor, alegria e paz

Padre Jonas tem um livro “Pentecostes hoje”; neste livro, ele diz: “A santidade é sabermos enfrentar todas as situações com amor, alegria e paz”. Quando somos traídos, desprezados, jogados fora, quando a doença chega sem esperar, como vamos enfrentar tudo isso com amor, alegria e paz? Lembremos que Jesus enfrentou a  cruz com infinito amor, e foi isso que nos salvou. Aí está para nós o segredo de santidade: enfrentar tudo com Amor! 

O que você está enfrentando hoje? Você tem feito isso tudo com amor ou com medo, murmuração e desespero? Aquele que é chamado a ser kadosh, santo, separado, ele precisa contagiar, influenciar os outros com a  santidade. E não é a santidade que se esconde na capela não, mas a santidade de quem vai à capela, que tem intimidade com Deus, que O adora e, cheio de Deus como José do Egito, como em tempo de vacas gordas e vacas magras, dizia para o Rei: estoca tudo, põe em celeiro, e depois que estocou tudo, alimenta o povo. 

O santo é aquele que estoca Deus, é aquele que se enche de Deus, é aquele que enche as lâmpadas de azeite e, no celeiro do seu coração, vai estocando Deus. Se quisermos influenciar os outros com a santidade que vem de Deus, nós precisamos conhecer as dores dos nossos irmãos e irmãos, daqueles para os quais somos chamados a evangelizar.

Hoje, neste tempo em que estamos vivendo, tempo de pandemia, de tanta dificuldade, de tantas coisas erradas acontecendo, quando o mundo só quer saber de festas, somos chamados a viver a santidade, somos chamados a enfrentar todas as realidades com amor, alegria e paz!

E o que podemos fazer hoje? Um sorriso, uma palavra de esperança, uma ajuda nas coisas simples. Isso é santidade. É tempo de sermos solidários, de ajudarmos. Nós não podemos ser oportunistas, não podemos nos aproveitar das situações, mas precisamos evangelizar por contágio, precisamos ser esse fermento, precisamos levar às pessoas nossa santidade que vem de Deus. 

Transcrição e adaptação: Amanda Carol 

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