Monsenhor Jonas Abib

Aproximemo-nos do trono de graça

Fica comigo, achega-te neste trono de graça, porque eu te espero na eternidade

Ressoa ainda, nos nossos ouvidos, o que Jesus disse: “Tudo está consumando”. No primeiro momento, parece que Ele diz: “Entreguei os pontos” ou “Missão cumprida”. Ele dizia isso ao Pai: “ Missão cumprida, Pai”, dizia também ao mundo e à humanidade.

Não podemos imaginar o estado de Jesus àquela altura dos acontecimentos. Ele, com as últimas forças e o último fôlego, dizia: “Tudo está consumado”. Em seguida, entrega o espírito. Nós também podemos pensar que este “entregar o espírito” é simplesmente morrer. Mas é muito mais! Nessa hora, Jesus é possuído pelo Espírito Santo. Você se recorda de quando Cristo foi batizado no Rio Jordão? O Espírito veio em forma de pomba e logo a voz do Pai: “Este é o meu Filho amado que coloco toda a afeição” (cf. Mt 3,17). Os teólogos dizem que este momento, quando Jesus entrega o Espírito, é o ‘Pentecostes do Calvário’. Esse Espírito Santo derramado sobre a humanidade é a misericórdia do Pai espalhada como um perfume sobre toda a humanidade.

O Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Pai acolhe e recebe o filho, como no mosaico que temos no Santuário do Pai das Misericórdias. O mais importante, neste dia e nesta hora, é que esta misericórdia se derrame sobre nós. O Pai nos acolhe com toda a sua misericórdia; temos de aproveitá-la. Joguemo-nos, atiremo-nos nos braços do Pai, principalmente no coração d’Ele.

Reze: “Agora é a hora da misericórdia. E eu me atiro no coração do Pai e encontro toda a misericórdia”.

O segredo da salvação é a obediência a Deus

Meus irmãos, estamos experimentando a misericórdia do Pai, a grande realidade do dia de hoje. Você viu como começou a solenidade da Sexta-feira Santa? Nós nos prostramos e logo já começou a Primeira Leitura, quando o profeta Isaías mostra a exaltação da Santa Cruz. Hoje é um dia doloroso, mas também um dia para exaltarmos Jesus e Sua santa cruz. Dizer “obrigado” é pequeno demais para agradecer a Deus. Com nossos afetos podemos também exaltar Jesus.

“Eis que meu Servo prosperará, crescerá, elevar-se-á, será exaltado” (Isaías 52,13).

Por um lado, Isaías diz que é preciso exaltar o servo. “Tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana”. Imagine como deve ter ficado Jesus! “Homem das dores”. Quer dizer que Ele experimentou todas as dores, e foi mais a fundo, ali no calvário, pregado na cruz, estava mergulhado nas dores. A crucifixão não é qualquer coisa. Os romanos sabiam como torturar os crucificados e pregar os pregos para causar o máximo de dor.

Todos diziam: “Ele é o Rei dos Judeus”. Foi crucificado às nove da manhã, mas ficou até as três. Uma multidão de gente o acompanhava, e os romanos percebiam que ele era uma pessoa querida, por isso eles colocaram mais dor na crucificação de Jesus. Por isso se diz: “Homem das dores”. As pessoas cobriam o rosto quando se aproximavam dos leprosos. Olhar para um leproso era contaminar-se. E o profeta Isaías profetiza que Jesus era desprezado, os homens se cobrem o rosto. Se, hoje, a palavra amaldiçoado é forte, naquele tempo muito mais. E Jesus foi visto e chamado de amaldiçoado.

“Meus irmãos, o segredo da nossa salvação é a obediência ao Pai”, afirma monsenhor Jonas Abib. Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com.

A morte do Senhor não é uma coisa longínqua, mas atual. Hoje, Frei Raniero Catalamessa citou um autor que dizia: “Jesus vive a Sua Paixão e Morte até o fim dos tempos”. No fim dos tempos, Jesus voltará em glória, mas até chegar este dia, Ele padece e sofre a Morte e Paixão na cruz. “O castigo que nos salva pesou sobre Ele. Fomos curados graças às Suas chagas”.

Meus irmãos, esta é a grande verdade que vivemos e proclamamos no dia de hoje. Você vê bem que o Senhor não disse nenhuma palavra a caminho do Calvário, apenas depois, na cruz; ainda sim, em palavras de consolação. “Ele, portanto, foi como uma ovelha levada ao matadouro, mudo nas mãos do tosquiador”.

Na Segunda Leitura, podemos ver que o Senhor está “esbanjando” misericórdia. Quando Ele diz: “Pai, afasta de mim este cálice”, você pode se perguntar: “Como foi atendido?”. Ele foi atendido na ressurreição. Muitas vezes, Deus não nos atende de imediato, mas Ele nos atende no momento certo. Por isso eu digo: aguente firme, aguente na espera. Jesus não nos pediria algo impossível. Naquela hora da cruz, o Pai não atendeu ao pedido do Filho, mas o fez na Ressurreição. Eu tenho vontade de gritar agora “Viva Cristo ressuscitado!”, mas não posso, porque é Sexta-feira Santa. Mas, no terceiro dia, Ele ressuscitará e será perfeito. “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus, por aquilo que Ele sofreu. Mas, na consumação da sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

Meus irmãos, o segredo da nossa salvação é a obediência ao Pai. Nós somos muito rebeldes e há muitos tipos de rebeldias; algumas são sutis e não as obedecemos, não as aceitamos. Mas o que está em jogo é a nossa salvação. Quando é que você terá de dar o passo de ir daqui para a eternidade? Você sabe? Ninguém sabe. É por isso que estamos celebrando a Sexta-feira Santa, quando meditamos sobre nossa morte.

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Na Comunidade Canção Nova, existe algo muito importante que fazemos: o exercício da boa morte. Uma ação que, desde menino, eu praticava no Colégio Salesiano. Pode até parecer esquisito, mas precisamos treinar para “bem” morrer. Você não é eterno e eu também não. Ressuscitaremos sim, mas se estivermos na graça, nos mandamentos do Senhor; somente desta forma iremos para a eternidade felizes. Se não, o nosso destino será outro. Alguém disse: “Saiba bem morrer para quem não souber”, mas precisa ser ao contrário, você precisa viver bem para assim morrer bem! É isso que Jesus faz no dia de hoje, Ele abre Seus braços na cruz, para assim morrer no trono de graça.

Aproximemo-nos deste trono de graça. Achegue-se agora! Estamos caminhando para a Páscoa da Ressurreição eterna, onde estaremos com o Senhor, no trono de graça e de misericórdia para sempre!

Profecia: “Achega-te! Achega-te a Mim, porque já estou de braços abertos, com minhas mãos chagadas, derramando sangue para receber a cada um. Achega-te agora a Mim, para poderes achegar-te à eternidade, onde eu te esperarei. Caminha nos meus caminhos, vive da minha vida, pois dei a vida por ti, derramei todo o meu sangue. Isso não pode ser em vão! Tudo o que Eu fiz para salvar-te faria novamente. E, hoje, Eu te digo, filho meu: Fica comigo, achega-te neste trono de graça, porque eu te espero no trono de graça da eternidade. Assim entenderás tudo, agora achega-te a este trono de graça”.

Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio.

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