Entre o desejo e o prazer

Padre Fábio de Melo

Como já vimos, tornar-se pessoa é estabelecer o equilíbrio entre dois pilares: disposição de si e disponibilidade para o outro. Uma pessoa estabelecida nesta harmoniosa construção tem mais facilidade de lidar com sua vida afetiva, com seus conflitos e com suas conquistas.

Sempre que falamos da vida afetiva, de alguma forma, esbarramos em dois conceitos fundamentais: desejo e prazer. Esses dois conceitos fazem parte da vida humana e, o tempo todo, estão perpassando nossas condutas, escolhas e atitudes. Somos movidos pelos desejos e pelo prazeres.

Fundamentado como pessoa, torna-se mais fácil viver a dinâmica do prazer sem dele tornar-se escravo e, ao mesmo tempo, saber descobrir o desejo com elemento vital que traz duração às relações humanas estabelecidas.

Esta reflexão é importante uma vez que um dos grandes limites encontrados nas pessoas é a busca desenfreada do prazer, seguido pelo desconhecimento da força que há no desejo.

Quanto maior a fragilidade de uma pessoa, maior é a facilidade que ela terá de entregar-se ao mundo do prazer, que naturalmente nega qualquer forma de sacrifício. Incapacitada de viver os limites próprios de qualquer processo de escolha e os sofrimentos que dele provêm, a pessoa passa a interpretar a vida de maneira ingênua e simplista. Já na expectativa do desejo, a vida é mais real. Há sempre o espaço para o sacrifício, a luta, o desafio.

Por isso, faremos agora uma distinção que é de suma importância neste momento de nossa reflexão: desejo e prazer.

Há uma diferença fundamental a ser observada. Desejo não é o mesmo que prazer. Quando não diferenciamos essas duas realidades, incorremos no erro de estabelecer relações objetais, isto é, tratar o outro como um objeto do nosso prazer. A busca pelo prazer pode nos cegar para a dignidade do outro e conseqüentemente acorrentá-lo nos cativeiros de nosso egoismo.

Quando vivemos na esfera do desejo, isso se torna muito diferente, pois o desejo é bem mais profundo que o prazer. O desejo parece atuar em nossas motivações mais consistentes, e, assim naturalmente tendemos a descobrir sacrifícios e as limitações como processo natural para o crescimento que necessitamos.

Retirado da página 92 do livro: "Quem me roubou de mim?", de padre Fábio de Melo



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