Dom José Falcão

A Palavra de Deus, a tradição e o magistério

Conheça as fontes da fé católica: a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério

A oração que contém as principais verdades da fé católica começa com a frase: “Eu creio“. Nela, professamos a fé na Santíssima Trindade (Deus Pai, Filho e Espírito Santo), na Santa Igreja Católica, na comunhão dos irmãos, na fé, no perdão dos pecados, na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Diante de todas essas afirmações, a questão principal é: Qual é a autoridade que garante que essas realidades são verdadeiras? Este é o cerne da reflexão sobre as fontes da nossa fé. Fonte significa o manancial, o lugar de onde a água brota, o começo, o ponto de partida.

Durante os 2000 anos desde que o Verbo se fez carne, viveu, sofreu, morreu e ressuscitou, todas as verdades e ensinamentos foram transmitidos.

As três Fontes da Fé Católica
A tradição apostólica
A Sagrada Escritura e a formação do cânon
O magistério da Igreja

A autoridade que garante a Verdade da fé

É fundamental responder à pergunta: Por que eu creio?

A Bíblia não responde a diversas perguntas sobre sua própria composição. Por exemplo, o Novo Testamento tem quatro evangelhos, mas a Bíblia não diz onde está esse número. O Novo Testamento é composto por 27 livros, mas quem definiu esse número não foi nenhum apóstolo, nem o próprio Jesus Cristo.

A história da definição dos livros inspirados (o cânon) teve uma dinâmica e uma evolução que ocorreu muito tempo depois da morte dos apóstolos. Se os católicos contam 46 livros no Antigo Testamento e os protestantes 39 (após a retirada de sete livros por Martinho Lutero, no século XVI), é evidente que a definição do número dos livros inspirados (Antigo ou Novo Testamento) reside na autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana.

A primeira fonte da fé: A tradição apostólica

É crucial notar que a Sagrada Escritura é a segunda fonte da fé na ordem cronológica. A primeira fonte da fé não é a Bíblia, mas sim a tradição apostólica.

“Ide pelo Mundo e Pregai”: A Missão Inicial

A missão da Igreja começou com a pregação, não com a escrita. A ordem de Jesus no Evangelho segundo Mateus foi: “ide pelo mundo e pregai,” e não “ide pelo mundo e escrevei”. A pregação oral dos apóstolos após o Pentecostes é a fonte primária da fé: a tradição oral. Somente depois os apóstolos e discípulos sentiram a necessidade de escrever algo, o que veio a se tornar a Palavra de Deus escrita.

São Paulo, na Carta aos Romanos, reforça que a palavra da fé que eles pregavam estava ao alcance em sua boca e em seu coração. A pregação apostólica consistia em narrações, catequeses, testemunhos, hinos, louvores e preces, formas literárias que já eram percebidas no Antigo Testamento.

O testemunho de São Pedro sobre as cartas de Paulo

Um dos primeiros indícios de que os apóstolos vivos já haviam escrito está na Segunda Carta de São Pedro (3, 15-16), onde ele elogia a sabedoria de Paulo em suas cartas, que são equiparadas “às demais escrituras”. Isso é um dado importante, pois São Pedro ainda vivo reconhecia que as cartas de São Paulo eram tratadas como escrituras.

São Paulo, convertido anos depois da morte de Jesus, começou a redigir suas cartas como: Tito, Timóteo, Filemon, Corinto, Gálatas, Efésios, Filipos, Tessalônica, totalizando 12 cartas, para atender a necessidades pontuais de pessoas e comunidades. O último livro do Novo Testamento a ser redigido foi o Apocalipse de São João, no final do primeiro século.

A segunda fonte da fé: A Sagrada Escritura e a formação do cânon

A formação do cânon bíblico, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, é uma longa história que pode ser dividida em três fases.

  1. Primeira fase: Jesus Cristo: Os apóstolos acompanharam Nosso Senhor desde o início, sendo testemunhas oculares de suas obras, palavras, milagres, curas, exorcismos e das três ressurreições (a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim e Lázaro). Após a ressurreição, Jesus permaneceu com eles por 40 dias, explicando e dando instruções sobre a missão.
  2. Segunda fase: A pregação da Igreja: Com o envio do Espírito Santo, os apóstolos anunciavam a morte e ressurreição de Jesus, dando testemunho e narrando fielmente sua vida, adaptando a linguagem ao público.
  3. Terceira fase: A escrita: Os apóstolos e discípulos sentiram a necessidade de colocar por escrito as instruções e esclarecimentos, atendendo às demandas das comunidades espalhadas pelo império.

O cuidado na redação do Novo Testamento

A escrita foi criteriosa e rigorosa. O Evangelho segundo Lucas, por exemplo, em seu prólogo (1, 1-3), demonstra o cuidado na investigação, seleção e discernimento dos fatos. São Lucas, discípulo de São Paulo, afirma ter “diligentemente investigado tudo desde o princípio” para escrever para Teófilo, baseando-se em “testemunhas oculares” que se tornaram “ministros da palavra”.

Nós, católicos, professamos que Deus é o autor da Bíblia (o autor primário). A inspiração significa que o autor humano foi inspirado pelo Espírito Santo para escrever o que Deus queria, usando sua própria cultura e linguagem. Por essa razão, nenhum livro da Bíblia tem erro.

A formação do Antigo Testamento levou 1.000 anos. Desde as primeiras fontes: javista, eloísta, deuteronomista e sacerdotal, por volta do ano 1000 a.C., as tradições orais foram sendo colocadas por escrito. O Antigo Testamento, que se divide em Pentateuco, livros históricos, sapienciais e proféticos, totaliza 46 livros, segundo a fé católica.
Jesus, ao declarar que não veio abolir a lei e os profetas, mas levá-los à perfeição, não aboliu nem considerou obsoleto nenhum livro do Antigo Testamento.

O discernimento do Cânon Bíblico

Com a morte do último apóstolo, São João Evangelista, em Éfeso, a tarefa de discernir, bater o martelo e definir a relação dos livros inspirados (o cânon bíblico) não foi dos apóstolos, mas sim dos sucessores dos apóstolos, os bispos da Igreja Católica.

O consenso dos bispos, espalhados em suas dioceses como Alexandria, Antioquia, Milão, Lyon, foi paulatinamente determinando quais livros poderiam ser lidos e proclamados. Os Padres da Igreja, como Santo Irineu, Santo Agostinho e Santo Ambrósio, foram cruciais para consolidar a relação dos Evangelhos como quatro, nem menos e nem mais.

Houve livros do Novo Testamento como Apocalipse, Terceira Carta de São João e Carta aos Hebreus, sobre os quais algumas dioceses mantiveram hesitação, mas o consenso foi prevalecendo. Essa evolução da compreensão da Igreja levou séculos, e o número de livros inspirados só foi dogmaticamente definido no concílio de Trento, no século XVI.

A tradição viva da Igreja, distinta da Sagrada Escritura, embora estritamente ligada a ela, continua a tradição apostólica por meio da sucessão apostólica.

A terceira fonte da fé: o magistério da Igreja

A Tradição e a Sagrada Escritura estão profundamente unidas e compenetradas. É a Igreja Católica que garante que a Bíblia é Palavra de Deus.

Santo Agostinho, na sua Carta dos Fundamentos, declarou: “Eu não acreditaria no evangelho se a isso não me movesse a autoridade da igreja católica”. A Igreja Católica Apostólica Romana é a única que existia nos primeiros séculos e é a autoridade dos bispos que garante a veracidade da Bíblia.

Magistério: a serviço da Palavra

O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou contida na tradição, foi confiado só ao Magistério vivo da Igreja. O Magistério é composto pelos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o Bispo de Roma.

O Magistério não é superior à Palavra de Deus, mas está ao seu serviço. Conforme o Catecismo da Igreja Católica, o Magistério ensina apenas o que foi transmitido, ouvindo e guardando a Palavra piamente, e expondo-a fielmente com a assistência do Espírito Santo.

As três fontes : Tradição, Escritura e Magistério, são inseparáveis. A Igreja considera heréticos os princípios da sola scriptura e do livre exame (defendidos por Lutero), pois a Bíblia necessita de uma instância para a sua correta interpretação e para a definição de sua origem. O Magistério, que recebeu de Cristo Jesus o carisma seguro da verdade, é a instância segura de interpretação da Escritura.

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