Adesão à filiação divina

Padre Fabrício Andrade
Foto: Natalino Ueda/cancaonova.com

É Deus que confirma, a nós e a vocês, nossa adesão a Cristo. A liturgia de hoje nos convida a tomarmos uma decisão, a configurarmos a nossa vida com a de Cristo Jesus, para assim, testemunhá-Lo com autenticidade. Adesão é consentir, tomar parte, é Deus quem nos confirma em nossa adesão, a qual requer uma mudança de vida. Porque, quando tomamos uma decisão, esta vai configurando nossa vida!

Hoje é dia de decisão. Precisamos dar uma resposta a Deus.

Nas leituras de hoje, Deus mesmo vem nos advertir: Pare de ficar se lembrando das coisas do passado, Deus hoje quer atualizar em você a sua filiação divina: (Isaías 43, 25) Sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados”. Deus que tomou a iniciativa de escolher você, Ele é sempre fiel.

E quantas e quantas vezes nós vacilamos em nossa fé e nos afastamos de Deus, e pouco a pouco vamos nos desconfigurando e paralisando o nosso processo de conversão espiritual.

Hoje, precisamos fazer um exame de consciência, para tomarmos um decisão madura. O Evangelho diz que hoje é o tempo favorável.

Jesus estava cercado por uma multidão e anunciava-lhes a Palavra de Deus, e é o que nós estamos experimentando nesses dias de Carnaval, uma grande multidão, nos quais o centro é Jesus Cristo.

Levaram para Jesus um paralítico, carregado por quatro homens, vou parar por aqui, porque, esse é o detalhe mais importante deste Evangelho, e muita gente deve ter perdido este detalhe. Por isso, eu quero chamar a sua atenção, porque muitas vezes o mundo não nos deixa entender as palavras escritas no Evangelho. Nele está escrito que havia quatro homens e um paralítico, e é isso que o mundo quer fazer conosco, nos rotular. Veja: eram cinco homens, porque o paralítico era um homem, mas o que mais chamou a atenção deles foi o seu “rótulo” de paralítico, hoje o mundo quer nos rotular pelo nosso pecado, como por exemplo: a pessoa que roubou é um ladrão, a pessoa que matou alguém é um assassino, a pessoa que faz o uso de drogas é um drogado ou viciado. Mas hoje Deus vem nos mostrar que o pecado e o erro não têm o poder de transformar a nossa identidade.

O evangelista narra do começo ao fim esta passagem usando o rótulo daquele homem como um "paralítico". Mas a principal característica deste Evangelho foi o encontro desse enfermo [paralítico] com Jesus Cristo.

Jesus vê a fé daqueles homens, assim como também nós precisamos ter fé para ultrapassar as nossas paralisias, aqueles amigos do paralitico não desistiram diante dos obstáculos, nem mesmo diante de uma multidão, mas persistiram para levá-lo até Jesus.

Veja, o Senhor estava pregando em uma casa e, de repente, o centro atenção daqueles que ali estavam passa a ser o paralítico, porque, nos, muitas vezes, em nossa vida colocamos no centro de nossa vida a nossa paralisia. Diz o evangelista que Jesus fala com o paralítico, que neste texto todo era citado como paralítico, Jesus diz: “Filho, seus pecados estão perdoados,”

Jesus inicia um processo de cura daquele homem, através do resgate de sua identidade de filho de Deus, quantas e quantas vezes rotulamos as pessoas, e esquecemos que por detrás dos rótulos existe uma pessoa.

Jesus nos ensina a não olharmos para os rótulos, pecados e misérias das pessoas, e nos incentiva a olhamos primeiramente para a própria pessoa.

Na segunda leitura (II Cor 1,22) Deus mesmo nos fala: ”Foi ele que nos marcou com o seu selo e nos adiantou como sinal o Espírito derramado em nossos corações”.  Ninguem tem a coragem de pedir perdão se não se reconhece como filho de Deus, mas quando nós nos esquecemos desta condição, de que fomos feitos de acordo com a imagem e semelhança de Deus, começa em nossa vida um verdadeiro baile de máscaras.

O mundo quer que nos esqueçamos de que somos filhos de Deus. O filho que esquece que tem Pai transforma a sua própria vida em um baile à fantasia, quando eu esqueço que eu sou um filho de Deus eu me empresto, desgasto o meu corpo e o alugo o tempo inteiro para o pecado.

Todos os pecados, dos mais graves aos mais leves, são precedidos pela falta da experiência de Deus. E quando nós perdemos a referência de Deus, perdemos tudo. Passamos a querer naturalizar as nossas fantasias em realidade. Quando nós perdemos a referência de Deus, transformamos mentira em verdade.

O que a liturgia nos mostra é que não podemos perder a nossa referência, porque somos filhos de Deus.

"Quando nós perdemos a referência de Deus, perdemos tudo"
Foto: Natalino Ueda/cancaonova.com

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Em Romanos 8,19 diz: “De fato, toda a criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus; pois sua criação foi sujeita ao que é vão e ilusório, não por seu querer, mas por dependência daquele que a sujeitou.

O mundo está querendo mascarar os filhos de Deus para que essa manifestação dos filhos d'Ele não aconteça. O carnaval do mundo nos fala que nós podemos ser o que queremos, podemos realizar as nossas fantasias, pois são só quatro dias, no entanto, depois dessa festa nos tornamos um nada.

O paralítico do Evangelho de hoje entrou naquela casa como um nada, ele nem era contado com o número dos homens presentes, e saiu de lá como um filho de Deus.

Quem esquece que é filho de Deus se transforma num filho de qualquer uma. O Evangelho começou com um paralítico, hoje somos nós estes paralíticos e estamos em muitos aqui, só que o centro da nossa atenção não é a nossa paralisia, e sim o fato de sermos filhos de Deus. A filiação divina desmorona a nossa fantasia. E

Jesus continua a falar com o paralíitico: “Levanta-te,” nesta ordem o Senhor toca na realidade desse enfermo naquele momento: “toma a tua cama,” imagine o sofrimento daquele homem, o quanto que ele sofreu naquela cama, e Jesus o mandou tomá-la [aquele cama], justamente para lembrá-lo do seu passado, da sua história, e de como ele chegou diante d'Ele. E a última ordem do Senhor é espetacular: “vai para tua casa!” e a mais bonita, porque Ele não estava apenas curando aquele homem, Ele estava pensando na família e no futuro dele.

Quando um homem lembra que é um filho de Deus o mundo não consegue fantásia-lo de outra coisa. Hoje nós somo convidados a ter uma atitude que mostre a nossa adesão à filiação divina. Vou-lhe fazer uma pergunta e a sua resposta precisa ser decisiva, a partir da liturgia de hoje, o que você é: paralitico ou filho de Deus? Quando a proposta do pecado chegar até você, você também convidado a proclamar que você é filho de Deus!

Transcrição e Adaptação: Mariana L. Gabriel

 

Assista a um trecho desta homilia:

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